Rádios comunitárias na rota da internet

A internet pode ser o caminho das rádios comunitárias. É o que sugere a jornalista Catarina Farias que lança hoje ´Escuta Sonora´, sua tese na Unicamp.

A jornada das rádios comunitárias brasileiras sempre foi árdua. Um dos objetos de estudo da jornalista Catarina Tereza Farias de Oliveira em seu doutorado, a Mandacaru FM, do bairro Ellery, em Fortaleza, por exemplo, encerrou suas atividades um ano depois da defesa de sua tese, em 2002. Em parte, sua proposta de interação com a comunidade se manteve através da criação do site do bairro. No entanto, outra alternativa virtual se mostra mais viável, na visão de Catarina: a criação de web-rádios, como a do movimento Viva Favela, no Rio.


 


Para a pesquisadora, a alternativa só tem sentido, caso seja acompanhada por um incremento do uso de computadores nas periferias brasileiras. “É preciso investir na inclusão digital”, ressalta, retomando um discurso já defendido por estudiosos como Bernardo Sorj. As alternativas – o site e a rádio-web – seriam maneiras de reverter condições superadas por poucas rádios comunitárias brasileiras, como a Rádio Favela, em Belo Horizonte, e a própria Casa Grande FM, em Nova Olinda, também estudada por ela. “Por suas visibilidades, as duas conseguiram transformar-se em rádios-educativas, mas esse é um processo cada vez mais inviável em nosso cenário atual. O sonho é ser uma web-rádio. As barreiras são bem menores”, diz.


 


Com apresentação da professora Márcia Vidal, o livro-tese “Escuta Sonora – recepção e cultura popular nas ondas das rádios comunitárias” será lançado, às 17h, no Theatro José de Alencar, com a participação do bloco de carnaval do bairro Ellery, além de grupos de hip hop e outros representantes que, durante cinco anos, ajudaram a transformar a história daquela comunidade fortalezense.


 


Convivência com outras mídias


 


Ao analisar o conteúdo e a recepção de duas rádios criadas por movimentos culturais (Mandacaru FM e Casa Grande FM), a tese de Catarina Farias de Oliveira sugere que não existe mais aquela barreira conceitual que os estudos de comunicação estabeleciam, até meados dos anos 80, entre os receptores das rádios comunitárias e a grande mídia. “Observei que os programas estavam ligados aos projetos de reconstrução cultural e promoção artística dos setores populares, que por sua vez mantinham interações com a produção da cultura de massa”.


 


Catarina chegou a essa conclusão investigando a relação dos receptores com o conteúdo de alguns programas, através de uma série de entrevistas e da observação participante, sem desvinculá-los de seu próprio contexto comunicativo. O que significa dizer que os ouvintes eram estudados dentro da sua convivência com seus cenários cotidianos, não apenas em torno de uma recepção mais passiva e domiciliar. “São diferentes recepções, por isso mesmo não buscamos apenas considerar a análise de conteúdo. Um programa de hip hop da rádio Mandacaru, por exemplo, tinha uma recepção muito mais coletiva do que a percebida pela comunidade de Nova Olinda. Já um programa de reggae, aproximava-se bem mais das linhas de consumo, em virtude da fragmentação de seu discurso”, definiu a pesquisadora.


 


PROTAGONISTA – Pesquisadora cearense fala em vitória histórica


 


A jornalista Catarina Tereza Farias de Oliveira é formada em Comunicação Social pela UFC, por onde fez seu mestrado em Ciências Sociais. Em 2002, terminou seu doutorado em Educação pela Unicamp. Mesmo considerando as limitações impostas pela atual legislação do setor, ela considera uma ´vitória histórica´ seus registros sobre a mobilização das rádios comunitárias.


 


Fonte: DN