Tchernobyl: Vinte anos depois nenhum número é definitivo

Vinte anos depois do desastre na central nuclear de Tchernobyl, os especialistas na matéria ainda não tem pareceres definitivos sobre o raio de alcance da contaminação radioativa e o caráter de mutações que marcar

Um estudo conjunto efetuado pela Agência Internacional da Energia Atômica (AIEA) e a Organização Mundial de Saúde, divulgado em setembro passado, revela que cerca de quatro mil pessoas morreram em conseqüência direta da explosão de 26 de abril de 1986.

 

Na véspera do 20.º aniversário, peritos do Comitê científico da ONU sobre o efeito da radiação nuclear tornaram pública uma análise conciliadora, instando os quase cinco milhões de residentes nas áreas mais afetadas pela radiação na Ucrânia, Rússia, Belarus, Lituânia e Polónia, a não superestimarem os efeitos da radioatividade.

 

O estresse e o pânico produzidos pelas informações sobre a ameaça radioativa têm sido, na óptica dos especialistas da ONU, mais nefastos para a saúde humana, do que o próprio nível de radioatividade.

 

Têm sido bem mais alarmantes as avaliações feitas por organizações não oficiais.

 

O sarcófago construído em maio de 1986 sobre as ruínas do reator 4, o que explodiu, foi calculado para 15-20 anos e não garante o devido isolamento das substâncias radioativas que continuam escapando através de brechas para o ar e para as águas do subsolo, alertam especialistas não-governamentais.

 

No momento da avaria, estavam dentro do reator quase 190 toneladas de combustível nuclear.

 

Segundo várias estimativas, atualmente pode estar no reator entre 70 e 93 por cento daquela massa radioativa, alguns elementos da qual têm o período de meia-vida (ou diminuição de metade de radioatividade) de milhares de anos.

 

De acordo com estimativas de diversos especialistas nucleares, depois da explosão em Tchernobyl, precipitações radioativas caíram sobre quase 40 por cento do território europeu, fazendo com que pelo menos dois terços de radioatividade afetassem os habitantes de países da Europa ocidental.

 

A esta conclusão chegaram os médicos britânicos Ian Fairlie e David Summer, autores do estudo intitulado O Outro Relatório Sobre Tchernobyl (TORCH), investigação científica independente dos efeitos sobre a saúde e o meio ambiente, publicada este mês em Berlim, Bruxelas e Kíev.

 

O número de mortos em resultado do câncer provocado pela catástrofe pode estimar-se entre 30 e 60 mil, o que ultrapassa entre 7 e 15 vezes os dados oficiais da AIEA e OMS, salientam os investigadores.

 

As estimativas do Greenpeace, divulgadas no sítio desta organização ambientalista, são mais alarmantes, embora não estejam baseadas cientificamente, como as produzidas pela ONU.

 

A organização cita a probabilidade de cerca de 93 mil mortes provocadas pela radiação de Tchernobyl, no período entre 1986 e 2056. Só na Belarus, o país mais afetado pela radiação, dos 31 mil casos de habitantes com câncer da tireóide atualmente registrados, cerca de 14 mil podem ser mortais e, dos três mil doentes com leucemia, quase 2.000 poderão morrer.

 

Conforme os cálculos do ministério da Saúde da Ucrânia, mais de 124 mil pessoas morreram em resultado de doenças provocadas pela radiação, até 1994.

 

Segundo os dados oficiais, 200 mil pessoas foram retiradas, logo após a avaria, de uma área de 30 quilômetros ao redor da central de Tchernobyl.

 

Juntamente com as tropas, bombeiros e especialistas que participaram na descontaminação da central e dos terrenos adjacentes, o número total das pessoas contaminadas só em 1986 e 1987 pode variar entre 200 e 800 mil.

 

Hoje, na região de Tchernobyl residem 2.300 mil pessoas. Dentro da área sujeita ao controlo especial radioativo, encontram-se permanentemente 1.600. Perto do reator 4 moram 400 pessoas.

 

O governo da Ucrânia, com a ajuda da União Europeia, prometeu construir este ano um novo sarcófago. Mais reforçado, ele cobrirá o velho e já condenado, construído sobre o reactor 4.

 

A obra, avaliada em quase 2 bilhões de euros, deverá garantir, nos próximos 100 anos, o isolamento da reação em cadeia em curso no interior daquele “vulcão”. Se nada falhar, entretanto.
Com informações da Agência Lusa