Maior rádio da Palestina é de um árabe brasileiro

Adib Bakri, que viveu no Brasil de 1968 a 1994, é hoje o dono da maior emissora de rádio da Autoridade Nacional Palestina. Em entrevista à BBC, ele conta que já teve sua rádio destruída pelas tropas de ocupação israelense uma v

Um brasileiro de origem palestina é o dono e o criador da maior estação de rádio dos territórios palestinos, a Ajyal (Gerações).

Adib Bakri, de 53 anos, nasceu em Jilijlia, uma pequena aldeia perto de Ramallah, e em 1968 foi morar no Brasil, onde adquiriu a cidadania brasileira.

Na cidade de Porto Alegre, ele dirigiu, junto com seus irmãos, uma grande empresa de comércio de produtos têxteis, e em 1994 retornou a sua terra natal, onde decidiu realizar seu sonho de fundar uma estação de rádio.

"Sempre adorei ouvir rádio. Desde criança eu passava dias escutando as rádios brasileiras, a Guaíba, a Farroupilha e a rádio 'Caiçara-música-não-pára'", lembrou Bakri, em entrevista à BBC Brasil.

"Quando voltei à Palestina, resolvi finalmente realizar meu sonho e fundei a Ajyal. Em sete anos, nossa rádio conquistou dois terços da audiência, tanto na Cisjordânia como na Faixa de Gaza."

O sucesso da Ajyal foi tão grande que há quatro anos Bakri resolveu fundar uma segunda emissora, a Angham (Ritmo), mais orientada para o público jovem, que transmite música e notícias 24 horas por dia.

"Nossas emissoras são totalmente independentes e apartidárias", afirma Bakri. "O que me interessa é manter a boa qualidade e o alto nível profissional do nosso trabalho."

A reocupação de Ramallah pelas tropas israelenses, em 2002, representou um grande desafio para Bakri, que teve que repor todo o equipamento das emissoras.

"Depois que Ariel Sharon decidiu destruir a infra-estrutura da mídia palestina, as tropas israelenses invadiram nossos escritórios e quebraram todos os aparelhos."

O diretor-geral da emissoras, Walid Nassar, contou que no dia da invasão ele estava de plantão.

"Os soldados israelenses invadiram nossos escritórios no dia 29 de março de 2002, todos os funcionários que estavam no local foram presos. Fui solto dez dias depois e quando voltei encontrei tudo destruído."

"Antes da Intifada tudo era mais fácil", disse Bakri. "Eu costumava visitar freqüentemente meus amigos judeus em Bat Yam (cidade israelense ao sul de Tel Aviv)."

"Mas, com a escalada da violência, ficou mais difícil para os palestinos deslocar-se pelo país".

Adib Bakri diz que ainda mantém contato com muitos amigos que tinha no Brasil, inclusive membros da comunidade judaica.

"Tenho muitos amigos judeus no Brasil, amigos do peito, gente fina", diz. "Em Porto Alegre costumávamos ir juntos à praia e ao futebol."

Bakri se diz pessimista quanto à perspectiva de uma paz definitiva na região no curto-prazo, mas acha que isso pode acontecer no futuro.

"A médio e longo prazo estou otimista, os dois povos não agüentam mais as guerras”.