Vídeo denuncia atentado racista na UnB e reitor negligente

Na madrugada desta quarta-feira (28) um atentado nos apartamentos ocupados por estudantes africanos na Casa dos Estudantes da Universidade Nacional de Brasília (UnB) não deixou mortos, mas evidenciou as feridas de um Brasil ainda racista após séculos do f

Polícia Federal está investigando atentados

 

O estudante africano Gaudêncio Pedro da Costa afirmou nesta sexta-feira (30), que foi vítima de racismo na Universidade de Brasília (UnB). Costa prestou depoimento na Polícia Federal sobre o incêndio que destruiu parte dos três apartamentos ocupados por estudantes africanos na Casa dos Estudantes, onde ele mora.

 

"Acho que eles não gostam de africanos. Eles falam que a gente faz muito barulho", afirmou o estudante, referindo-se às cinco pessoas que acusa de terem provocado o incêndio. Costa não quis citar nomes, mas disse que todos os suspeitos de provocar o incêndio moram no alojamento.

 

Segundo ele, os estudantes já haviam sido ameaçados antes. Os três apartamentos que eles ocupam foram pichados com cruzes nas portas e a frase "Morte aos playboys africanos". "Como sou negro, estão me tratando assim. Cruz já significa sinal de morte", afirmou Costa.

 

Costa é uma das oito pessoas que a PF deve ouvir nesta sexta-feira sobre o incêndio. Na última quinta-feira, a polícia instaurou inquérito para investigar o caso. No final desta tarde, um balanço sobre o início das investigações deve ser divulgado.

 

O estudante de engenharia florestal Wagner Guimarães, que também depõe nesta sexta-feira, disse que é um dos acusados pelos africanos, mas considera isso uma injustiça. Ele informou que vai esclarecer à imprensa "o que está realmente acontecendo na Casa dos Estudantes".

 

UnB declara dia 28 Dia da Igualdade Racial e segurança é reforçada

 

O diretor de Serviços Gerais e Segurança da Universidade de Brasília (UnB), Weglisson Medeiros Ferreira, disse que a segurança no prédio da Casa dos Estudantes foi reforçada com um guarda em cada andar, além da portaria.

 

Segundo Medeiros os atritos entre os estudantes brasileiros e africanos já aconteciam há pelo menos seis meses, inclusive com episódios de luta corporal. Medeiros disse que no dia 28, quando chegou ao local do incêndio, o fogo já havia sido apagado. "Chegamos para dar apoio aos estudantes".

 

Representantes do Congresso Nacional, da Polícia Federal e da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) do governo federal se reuniram na última quinta-feira com o reitor da Universidade de Brasília (UnB), Timothy Milholland, para discutir o incêndio na Casa dos Estudantes. O dia 28 de março foi instituído como o Dia da Igualdade Racial na UnB.

 

Episódio lembra 10 anos do incêndio do índio Pataxó em Brasília

 

O episódio de atentado racista na UnB lembra outro ocorrido há dez anos atrás, no final de abril de 1.997, onde o índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 45 anos, foi incendiado numa madrugada de domingo por farra de cinco jovens da classe alta de Brasília, um deles menor.

 

O fato chocou o Brasil pela crueldade, mas não levou a ações mais duras contra este tipo de ação na cidade. Quatro dos cinco jovens presos foram transferidos para o complexo penitenciário Papuda gozando de um privilégio incomum, no lugar do camburão, Santanas levaram os criminosos.

 

Além disso, os cinco jovens não foram submetidos ao exame toxicológico que indicaria o uso de drogas ou álcool antes do crime. Segundo o Instituto Médico-Legal, a polícia não pediu o exame. Do grupo, um é filho de juiz federal e outro é enteado de um ex-ministro do Tribunal Superior Eleitoral. O crime é tipificado como hediondo sujeito a 30 anos de prisão para autores que o cometeram. Porém, quando foram julgados em 2001foram condenados a apenas 14 anos de cadeia por homicídio triplamente qualificado.

 

Meses depois, no entanto, os quatro conseguiram o benefício de trabalhar e estudar fora da Papuda. O jornal Correio Braziliense acompanhou a rotina dos jovens presos longe do presídio e constatou o óbvio: eles vivem como se não estivessem cumprindo pena.

 

A matéria publicada em 2003 revelou que três, dos cinco jovens, Antonio Novely, Max Rogério Alves e Eron Oliveira, que só poderiam se deslocar do presídio da Papuda para os locais de trabalho e estudo, e vice-versa, divertiam-se em bares da cidade, namorando nas entrequadras e dirigindo seus próprios carros. À noite, quando voltavam ao presídio, não passavam sequer por uma revista.

 

O promotor responsável pela acusação no tribunal do júri pediu cancelamento dos benefícios. Foi instaurada então uma sindicância pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF) para apurar as irregularidades no cumprimento do benefício. Desde então a questão sumiu dos noticiários e até o presente momento não há informações sobre a sindicância instaurada.

 

Será que o caso do índio pataxó se repetirá com atentados racistas da UnB?