Governo confirma Tarso como novo ministro da Justiça

A assessoria de imprensa da Secretaria de Relações Institucionais confirmou, há pouco, que o ministro Tarso Genro será o novo ministro da Justiça. O atual ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, transmitirá o cargo a ele em cerimônia na sexta-feira

Gaúcho de São Borja, Tarso, de 50 anos, Tarso começou a militância política logo depois de se formar em em direito pela Universidade Federal de Santa Maria, no interior gaúcho, na década de 70. Após um período de exílio no Uruguai, em razão de processo na Justiça Militar, retornou ao Brasil e instalou-se em Porto Alegre, onde abriu escritório de advocacia, trabalhando para sindicatos e associações de trabalhadores.


Começou a carreira política no antigo Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que viria a dar origem ao PMDB.


 


Já no PT, Tarso foi prefeito de Porto Alegre por duas vezes: de 1993 a 1996 e de 2001 a 2002 – quando saiu para concorrer ao governo estadual e foi derrotado por Germano Rigotto (PMDB). Para contar a experiência na gestão da cidade, escreveu o livro Orçamento Participativo, em co-autoria com o economista Ubiratan de Souza.


 


Quando Luiz Inácio Lula da Silva ganhou a presidência pela primeira vez, Tarso assumiu o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. No ano seguinte, em 2004, assumiu o Ministério da Educação.


 


Deixou o cargo para assumir a presidência do PT, em lugar de José Genoino. Tentou a reeleição para o cargo, mas retirou sua candidatura ainda antes da convenção partidária. Ano passado, assumiu a Secretaria de Relações Institucionais.


 


OAB, oposição e PF: cobranças


 


Setores da Polícia Federal, a oposição na Câmara e a Ordem dos Advogados do Brasil anunciaram que vão cobrar com intensidade e ficar “muito atentas” à atuação do novo ministro da Justiça, Tarso Genro. Lideranças dessas instituições disseram manter “relações cordiais” com Tarso, mas avisaram que não pretendem abrir mão de reivindicações e garantias que ainda estão pendentes. Também querem que seja mantida a “atitude republicana” que o atual ministro Márcio Thomaz Bastos cultivou durante sua gestão no ministério.


 


É o caso da PF. “Nossa cobrança é pela autonomia da Polícia Federal e independência funcional”, disse Armando Rodrigues Coelho Neto, presidente da Federação dos Delegados da PF. “Se Tarso Genro não tiver essa visão realmente ele vai ter problema na PF e não será bem-vindo”, alertou. “Não estamos fazendo pré-julgamento, mas a gente espera que ele seja simpático à nossa bandeira pela independência. Estamos preocupados com a visão política que Tarso Genro possa ter em relação à PF.”


 


Ao escolher o petista Tarso Genro para o lugar do jurista Márcio Thomaz Bastos, o presidente Lula optou pela troca de alguém de perfil mais técnico por um político de viés fortemente partidário. Tarso terá sob seu controle um orçamento de mais de R$ 5 bilhões para este ano. A PF, subordinada ao Ministério da Justiça, conta 13 mil policiais e sua performance ajudou o presidente Lula a se reeleger. Também estão afetas à pasta a Polícia Rodoviária Federal e a Força Nacional de Segurança Pública.


 


O delegado Coelho Neto salientou que Tarso será “muito cobrado” pelo cumprimento de um acordo que os delegados firmaram com o governo prevendo correção salarial da categoria em duas parcelas de 30%. A primeira parcela foi quitada em meados de 2006. A segunda deveria ter sido depositada em dezembro, mas não foi. “Enrolaram a gente”, declarou o delegado.


 


Já o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cézar Britto, disse que mantém ótimas relações com o novo ministro, mas foi taxativo quando disse que a classe quer respeito às prerrogativas e exige o fim da invasão de escritórios e dos grampos telefônicos.


 


Ele destacou que a instituição “não aceita qualquer medida que transforme o Estado brasileiro em um Estado policial, em que se entende que tudo se resolve com a ação da polícia”. “A OAB espera que não se repitam fatos como invasões de escritórios de advocacia e grampos de telefone”, acentuou Britto, referindo-se à sucessão de operações da PF executadas no primeiro governo Lula que levaram para a prisão vários advogados sob suspeita de lavagem de dinheiro e aliança com o crime organizado. Britto ressalvou que as relações com Tarso, que presidiu a Ordem nos anos 80, “são muito cordiais”, mas foi enfático quando falou das prerrogativas. “É um recado direto ao novo ministro.”


 


A oposição conservadora na Câmara também viu com restrições a indicação de Tarso Genro para o cargo de ministro da Justiça. “A nomeação de um ministro da Justiça com esse perfil não é bom para o País, mas essa é uma decisão do presidente da República””, declarou o deputado Rodrigo Maia (PFL-RJ).


 


O vice-líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), afirmou que Tarso reúne todas as condições para ocupar o cargo. “Ele tem uma longa trajetória na área jurídica, aliada a uma capacidade de gestão muito qualificada”, disse.


 


Para o parlamentar, Tarso provou sua capacidade de gestão nas várias missões que desempenhou desde o primeiro mandato do presidente Lula, entre os quais o comando do Ministério da Educação. Fontana considera “preconceituosas” as críticas ao perfil partidário do novo ministro. “Militância partidária não retira das pessoas seu saber jurídico, nem a capacidade de agir com o equilíbrio necessário”, disse o parlamentar.


 


Da redação,
coma agências


 


Matéria modificada às 7h50 para acréscimo de informações