PT e PCdoB se reúnem para exame conjunto do “esfriamento”

Por Bernardo Joffily
As Comissões Executivas do PT e do PCdoB reuniram-se nesta terça-feira em Brasília, pela primeira vez desde a eleição para a presidência da Câmara, que opôs Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A reunião foi uma inic

O PT, que hospedou o encontro em sua sede brasiliense, participou com 11 membros de sua Executiva, entre eles seu presidente, Ricardo Berzoini, e o líder do partido na Câmara, deputado Luiz Sérgio (RJ) . Pelo PCdoB participaram o presidente, Renato Rabelo, e mais o líder da bancada na Câmara, Renildo Calheiros, Walter Sorrentino e João Batista Lemos.



Seqüelas da eleição na Câmara



Renato já expressara a Berzoini a avaliação do PCdoB quanto à eleição do presidente da Câmara, que é de que “o PT teve uma postura unilateral”, e não “de franqueza”, rompendo “uma espécie de acordo tácito”. A parte petista expôs que a sigla precisou reagir a uma situação em que “diziam que o PT não tinha vez na Câmara”, era ridicularizado e tinha posta em dúvida sua capacidade de se reabilitar após a crise de 2005. Agregou porém que de fato, pela longa relação de aliança entre as duas legendas, seria preciso que fosse um processo dialogado.



“O mais importante é que chegamos a uma conclusão sobre como recompor as relações após esta fase”, avalia Renato Rabelo. Ele destaca o empenho do PCdoB na construção do Bloco de Esquerda, ao lado do PSB, PDT e outros partidos, mas ressalva que também “é importante recompor a relação com o PT”.



Três iniciativas concretas



A reunião produziu três medidas concretas no esforço de “desesfriamento”.
A primeira é compor uma comissão dos dois partidos visando produzir uma posição comum sobre a reforma política. Afora as propostas de financiamento público de campanha, voto em listas e fidelidade partidária, entrou em pauta a questão da cláusula da barreira.



Os dois partidos têm tido  posições conflitantes sobre o tema. O PCdoB protagonizou jurídica e politicamente o movimento que levou o STF (Supremo Tribunal Federal) a considerar a barreira contrária à Constituição. Já o PT somou-se ao PFL, PSDB e PMDB para tentar ressuscitar a barreira à livre atuação partidária, apoiando no Senado a Emenda Marco Maciel (PFL-PE). Na reunião de hoje, porém, manifestou o desejo de caminhar para uma alternativa acordada com o PCdoB.



A segunda medida é programar uma bateria de seminários conjuntos das fundações de pesquisa dos dois partidos, a Perseu Abramo (PT) e o Instituto Maurício Grabois (PCdoB), visando focar questões estratégicas da economia. Nesta área há maior convergência, na medida em que ambas as siglas dão sinais de insatisfação com a ortodoxia monetarista incrustrada em áreas do governo como o Banco Central.



A questão sindical em pauta



Uma terceira iniciativa conjunta visará melhorar as relações nos movimentos sociais, sindicais, estudantis, populares em geral, onde petistas e comunistas têm forte presença. No movimento sindical, em particular, isso tem gerado conflitos. Os membros da Executiva do PCdoB citaram, como exemplo, o Sindicato dos Metalúrgicos de Volta Redonda e outros cinco do estado do Rio de Janeiro em que eleições recentes favoreceram as chapas impulsionadas pelos comunistas, mas que tiveram seus resultados contestados na Justiça pos sindicalistas ligados ao PT. O secretário sindical do PT, João Felício, presente na reunião, reconheceu que a questão precisa ser tratada e adiantou que não vê “com bons olhos” esses métodos.



Renato Rabelo deixou a reunião com a sensação de que o PT chegou à conclusão de que tem que sanar estes problemas. Berzoini insistiu em observar que, ao lago da coalizão que serve de base ao governo Lula, ampla e plural, com suas 11 siglas, há relações de aliança que não só são mais antigas mas também mais profundas e conseqüentes.