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Serra não tem o que falar, por isto recorre a fraudes e factóides

Não é fácil vencer a guerra das ideias defendendo abertamente interesses minoritários. E, infelizmente para Serra, o fato de o seu partido ser o digno representante da implantação das políticas neoliberais, em nosso país, não lhe facilita a campanha. Mas, para aqueles a quem não interessa a defesa, de peito aberto, da continuidade do que foi feito nos governos de FHC, há opções, como a fraude nos argumentos.

Flávio Tonelli Vaz*

Vejamos a questão do salário mínimo, por exemplo. Como convencer os trabalhadores que o bom é ganhar menos? De nada adiantaria dizer-lhes que as empresas e os seu donos lucram mais se o salário é menor. Então, os defensores do livre mercado sempre postularam que, quando o Estado intervém nesse processo ampliando a remuneração, os trabalhadores perdem postos de trabalho ou são empurrados para a informalidade. Apresentada como uma regra universal, não há nada a fazer: as políticas que designam parcela da renda nacional às famílias trabalhadoras acabam por prejudicar a economia.

Sendo assim, os trabalhadores têm sempre que se contentar com os baixos salários e ainda trocá-lo por outro ainda mais baixo a cada crise. Pois bem, essa fraude não é pequena e os baixos salários contribuem mais para a satisfação das empresas do que para os empregos. O enorme ciclo de crescimento econômico e de geração de empregos formais dos últimos cinco anos foi também impulsionado pelo aumento do poder de compra das famílias, que muito deve à ampliação substantiva do salário mínimo. A verdade absoluta caiu por terra frente aos fatos, não pode ser utilizada agora, mas voltará.

Tergivesação

Outro caminho é desviar o rumo da prosa. Nada de discutir propostas e políticas públicas, especialmente quando se tem tão pouco a dizer. É melhor ocupar o tempo e as páginas de seus jornais com factóides, calúnias, dossiês e coisas do gênero. Não importa a falta lógica dos fatos apresentados. Vale até plantar uma notícia na imprensa e depois pedir uma investigação sobre a “verdade” publicada.

Essa inversão, onde os fatos não viram notícias, mas as notícias se transmutam em fatos, além de desviar a atenção do público em geral, permite um discurso a quem apoia a oposição, que assim pode fazer campanha – raivosa de preferência – esquivando-se dos resultados positivos, sociais e econômicos, alcançados depois das derrotas dos tucanos.

E, se as urnas não favorecem, há sempre o caminho da judicialização da política. Juristas de plantão são capazes de convalidar as maiores armações e magistrados passam a emitir opinião como se sentença fosse, criando novas “verdades”.

Copiando os republicanos

Vale ressaltar que essa não é uma tática apenas tupiniquim. Afinal, esses senhores daqui não são tão criativos assim. A caça às bruxas é também uma tática muito eficiente pelos republicanos nos EUA. Em artigo publicado no The New York Times (a tradução pode ser acessada no UOL – 31/08/2010), Paul Krugman relata (em Obama deve enfrentar a fúria promovida por seus adversários políticos) como esse tipo de prática levou a acusações de tráfico de drogas e assassinado ao casal Clinton ou como a maioria republicana promoveu processos investigativos sobre “o uso indevido de listas de cartão de natal” pela Casa Branca.

Se a saída do Iraque pode afetar os lucros da poderosa indústria bélica, é preferível chamar o presidente de “imã Hussein Obama” e caracterizá-lo como “o melhor presidente antiamericano que já tivemos”, do que discutir as verdadeiras razões da invasão do Iraque ou a farsa das armas químicas de Sadam. Quando os argumentos do Tea Part não conseguem ser ouvidos, é melhor comparar “as propostas para colocar um fim às brechas tributárias para os administradores de fundos hedge com a invasão à Polônia pelos nazistas.” Afinal quem ousa perturbar os interesses dos muito, muito ricos?

É desespero

Aqui, o desespero que grassa nas hostes demo-tucanas e toma conta da campanha é o que leva a essas atitudes enfurecidas. Não apenas porque o torneiro mecânico, que nem fala inglês, se saiu melhor do que o catedrático; nem porque a “desconhecida” e “inexperiente” Dilma é considerada pelo povo a mais capacitada para dirigir o país, ganhou vida própria e tende a ter mais voto do que Lula. Mas, principalmente porque agora a derrota de Serra carregará consigo muitos dos expoentes da oposição no Congresso Nacional e nos governos estaduais – esse fato não ocorreu em 2002 ou 2006. A única saída pode ser impugnar Dilma no TSE, responsabilizando-a por uma fraude ocorrida antes mesmo dela ser candidata.

Assim, quando o aspecto plebiscitário dessas eleições para presidente vai se confirmando, é preciso colocar a agência da Receita de Mauá como capital da república para tentar reverter as tendências que indicam a vitória de Dilma já no primeiro turno, em todos os estados da Federação, como mostram os dados das pesquisas eleitorais.

*Assessor técnico da bancada do PCdoB na Câmera Federal