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Garcia: Brasil está 'atento' a solução negociada com as Farc

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta quarta-feira ao presidente colombiano, Juan Manuel Santos, estar "muito atento" na busca por uma solução "negociada" com os rebeldes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), segundo relato do assessor especial do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia.

Lula e Santos tiveram um encontro em Brasília durante a primeira viagem internacional do colombiano desde sua posse, no início de agosto.

Questionado sobre a discussão em torno de uma suposta atuação "terrorista" das Farc, Garcia disse que o Brasil "não é uma agência de classificação".

"Temos uma atitude muito severa, muito crítica às Farc, que foi estabelecida antes mesmo que o governo Lula se constituísse", disse o assessor do Palácio.

Durante discurso logo após o encontro com Santos, Lula disse que "nada justifica o terrorismo como instrumento de política", mas não mencionou as Farc.

Unasul

Garcia disse que Santos reiterou sua "disposição" e seu "compromisso" com a integração regional, especialmente por meio do "fortalecimento" da União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

"Há uma disposição muito forte do presidente Santos de cooperar e de integrar mais a região", disse o assessor brasileiro, logo após o encontro de Santos com Lula.

Na avaliação de Garcia, o novo governo colombiano deverá se mostrar "mais próximo" da Unasul. "Tenho certeza que sim", acrescentou.

Segundo ele, houve uma "excelente química" entre os dois presidentes durante o encontro desta quarta-feira. "Há um novo marco no relacionamento", disse o assessor.

"Houve uma reiteração da parte do presidente Lula da importância que o Brasil concede à Colômbia e do papel muito positivo que a Colômbia pode desempenhar, do ponto de vista político na América do Sul."

Nova fase

A escolha do Brasil como ponto inicial da primeira viagem ao exterior de Santos como presidente foi "muito bem vista" pelo Palácio do Planalto, segundo um interlocutor.

O "sinal", de acordo com essa mesma fonte, é de que Santos está inaugurando uma fase "mais próxima" entre Colômbia e Brasil.

Os dois países mantiveram relações estáveis e amigáveis durante a gestão de Álvaro Uribe na Presidência da Colômbia, mas "abaixo de seu potencial", segundo um diplomata.

O motivo estaria no maior alinhamento dos colombianos com os Estados Unidos, em detrimento de uma aproximação com os países da América do Sul.

Mesmo tendo sido ministro de Uribe e uma das vozes contrárias à Unasul, Santos tem dados sinais de que haverá uma mudança nas prioridades da política externa colombiana. Ainda não há, por exemplo, previsão de visita de Santos aos Estados Unidos.

Encontro com Dilma

Além do diálogo com Lula, Santos reuniu-se também com a candidata do PT à Presidência da República, Dilma Rousseff. No encontro, debateram temas ligados à política externa e tratados de cooperação entre os dois países.

Após o encontro, Dilma disse a jornalistas que o assunto Farc são um problema da Colômbia e, na disputa eleitoral, apenas o tucano José Serra é que está pautando este assunto. Ela explicou que, se eleita, manterá uma clara posição de combate ao narcotráfico e de não interferência na forma com que o governo colombiano se relaciona com a guerrilha.

As Farc são um grupo guerrilheiro armado, de orientação marxista, composto por uma milícia civil, pelo Partido Comunista Clandestino Colombiano e por grupos de simpatizantes camponeses.

Dilma disse que não chegou a conversar com o presidente colombiano sobre as acusações feitas pelo vice na chapa tucana, Indio da Costa, de que exista relação entre o PT e as Farc. “Isso é uma coisa somente do meu adversário. O presidente colombiano e todos sabem da relação de respeito que o governo Lula teve durante todos os episódios envolvendo as Farc”, disse.

Segundo Dilma, a conversa com Santos foi proveitosa. Deram destaque aos acordos de cooperação para a vigilância da fronteira dos dois países, que se estende por aproximadamente 1.650 km em plena Floresta Amazônica. A petista contou que o presidente colombiano demonstrou preocupação com a continuidade da cooperação já firmada com o governo brasileiro para a vigilância da fronteira.

“Esse acordo já foi firmado com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, e nós vamos dar continuidade para que nossa fronteira não vire uma área de atuação do crime organizado”, disse.

Dilma disse a Santos que seu projeto de defesa envolve a compra de dez veículos aéreos não tripulados, os chamados vants que serão usados na fronteira em conjunto com as ações policiais em terra. Esses vants são iguais aos usados por Israel para monitoramento.

Segundo Dilma, Santos também se mostrou interessado em conhecer os programas de distribuição de renda, inclusão e de incentivo à agricultura familiar que foram desenvolvidos no Brasil durante do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Ele tem consciência de que a Colômbia tem 50% da população vivendo na pobreza e que a população de 45 milhões de pessoas pode representar um mercado consumidor poderosíssimo. Uma política de agricultura familiar poderia ser muito eficiente no combate à pobreza já que na Colômbia a pobreza é muito mais forte na área rural”, destacou a candidata.

Fontes: BBC Brasil e iG