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Presidente do PCdoB repudia tentativas da direita contra anistia

Ao som do hino da anistia “O Bêbado e a Equilibrista” e imagens da volta de Betinho ao Brasil, os participantes do 4º Seminário Latino-Americano de Anistia e Direitos Humanos aguardavam o início da sessão da 41ª Caravana da Anistia, atividade que encerrou a programação do evento iniciado na segunda-feira (16). O caso de Herbert José de Souza, o Betinho, foi um dos sete julgados na tarde desta quarta-feira (18), em Brasília.

Anistia - Ag. Câmara

Um ato político e a homenagem ao padre Renzo Rossi, que ajudou aos presos políticos na época da ditadura, foram realizados antes do início do julgamento. O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, presente ao evento, fez um discurso de apoio ao trabalho da Comissão de Anistia e de repúdio as “tentativas obscurantistas da direita” – nas palavras dele – para evitar que se busque a verdade e memória do país.

Ele disse que a luta de ontem tem ligações com a luta de hoje do ministro Paulo Vanucchi em defesa dos direitos humanos e de Paulo Abrão pelas reparações. “A tentativa do TCU (Tribunal de Contas da União) é um escárnio”, declarou, indignado, acrescentando que “não podemos permitir tentativas obscurantistas como essas e o PCdoB lutará contra essas tentativas. Não ao retrocesso; sim ao avanço democrático”, encerrou, sob aplausos da platéia que lotou o auditório Nereu Ramos – o maior da Câmara.

O líder comunista também manifestou indignação com “outra tentativa reacionária” – da Justiça do Rio de Janeiro -, que suspendeu o pagamento das reparações aprovadas pela Comissão de Anistia a 55 camponeses do Araguaia perseguidos pela ditadura militar.

Esforço Valioso

Para Renato Rabelo, “a homenagem ao Padre Renzo resgata período importante da nossa história política nesse esforço valioso que faz a Comissão de Anistia, do Ministério da Justiça, no resgate da verdade e da memória.”

E ampliando os elogios ao trabalho da Comissão de Anistia, disse que considera “essa uma tarefa gigantesca e de grande importância para construção da nossa democracia e da própria Nação brasileira. Uma nação sem memória, que não tem capacidade de resgatar sua história, não tem futuro. A cada reparação estamos juntando parte importante de um período histórico desse país.”

O auditório Nereu Ramos foi mais um palco para a Comissão da Anistia, que procura levar próximo ao povo brasileiro o trabalho de resgate e reparação do período militar que durou de 1964 a 1985. O presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão, disse que, além das três sessões semanais realizadas em Brasília, já ocorreram julgamentos no terreno da UNE (União Nacional dos Estudantes), no Rio de Janeiro; Palácio das Princesas, em Recife (PE) e praça pública em São Domingos do Araguaia (PA) entre outros.

Vozes que foram caladas

Ao anunciar a pauta de julgamento, Abrão disse que “a Comissão de Anistia se encontra com a Casa que deu o ponta-pé inicial do trabalho que nós damos continuidade hoje”. Agradeceu a presença de Renato Rabelo, presidente do PCdoB, “Partido que tem estado sempre presente nas fileiras e trabalhos da Comissão de Anistia e do Ministro dos Direitos Humanos, Paulo Vanucchi, que tem enfrentado debate público da ampliação e aplicação do Plano Nacional de Direitos Humanos, que temos o dever de tornar realidade.”

Para aqueles que nunca tinham assistido antes uma sessão da Comissão de Anistia, Abrão explicou que esse é uma oportunidade para que “se dê voz às vozes que foram caladas no passado”. Após a leitura do relatório do membro da Comissão responsável, em que apresenta a história do requerente, a Comissão – formada por 24 membros – julga o pedido de anistia, cujo resultado é levado ao Ministro da Justiça que é quem publica o resultado final.

Além de Betinho, foram julgados os casos do camponês José Moraes Silva; do diplomata Jom Tob de Azulay, do militar Jeferson Cardim de Alencar Osório, do filho de Apolônio de Carvalho, Raul de Carvalho, de Mário Alves e de Maria do Socorro Diógenes.

Amigo dos presos

Os trabalhos da Comissão de Anistia, que encerrou a programação do 4º Seminário Latino-Americano de Anistia e Direitos Humanos, incluíram a homenagem ao padre Renzo Rossi. “Fazemos também breve homenagem a uma das pessoas que esteve ao lado do perseguidos e presos políticos e responsável pela vida de muitos brasileiros, inclusive dos que aqui estão”, anunciou Paulo Abrão.

Gessi Jane, representante dos ex-presos políticos, foi quem apresentou o personagem – padre italiano missionário que veio ao Brasil em 1950. “Na época da ditadura se doou na assistência aos presos da ditadura e a partir desse momento sempre esteve conosco”, contou Gessi, lembrando a primeira vez que recebeu a visita do padre na prisão em Salvador (BA), dias após ter tido nênê.

Foi a filha de Gessi Jane que entregou placa de homenagem ao padre, que diz: “Padre Renzo, nossa gratidão eterna pelo seu apoio aos que resistiram e permaneceram fieis aos seus ideais de liberdade e justiça. Caravana da Anistia.”

Padre Renzo, em seu agradecimento, disse que teria muito o que contar, mas que falaria rápido porque tinha audiência com o Presidente Lula. Emocionado, disse que nunca esperava essa homenagem, que o fazia viver de perto mais uma vez a experiência mais forte e mais comovente do seu sacerdócio: a visita às prisões políticas do Brasil. E deixou como recado que “tem que continuar a lutar e ter confiança na Igreja.

De Brasília
Márcia Xavier