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Dilma no Jornal Nacional: o dia em que William Bonner escorregou

A entrevista de Dilma Rousseff ao Jornal Nacional foi laboratório amplo de como o jornalismo pode utilizar estereótipos vazios em uma campanha eleitoral. Não se vá exigir de William Bonner e Fátima Bernardes — dois ótimos apresentadores — conhecimento que vá além dos bordões das televisões. Quem detém mais conhecimento são comentaristas, especialmente os que passaram pela imprensa escrita, antes de chegarem à TV.

Por Luis Nassif, em seu blog

TV aberta não privilegia conteúdo. Trabalha sempre em cima do bordão, em geral repetitivo para poder alcançar a faixa mais ampla de público. Como tal, há um nivelamento por baixo. A arte na TV aberta consiste no apresentador falar uma banalidade em tom grave e convincente.

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Mais que isso, em emissoras partidárias — como é o caso da Globo — cria-se um mundo à parte, força-se a reportagem sempre em uma mão única. E aí sucumbem vítima de um problema bastante estudado na sociologia da comunicação: acreditam que o mundo real é aquele espelhado em suas reportagens; e, como não há o contraditório interno, acredita-se na eficácia de bordões que, na verdade, só são eficientes quando não existe alguém do outro lado para rebater.

Entrevistas têm esse grave inconveniente do entrevistador ser obrigado a dar a palavra ao entrevistado. Tudo fica mais difícil.

Na entrevista, Bonner se limitou a perguntar da dependência de Dilma em relação a Lula, sobre o fato de ela ser mulher dura, pouco propensa a negociar politicamente; e, depois, na mesmíssima entrevista, do fato de sua chapa ser vítima do excesso de negociação, ao abrigar parlamentares e partidos polêmicos. Enfim, um samba do polemizador polifásico — aquele que junta um monte de bordões e não se dá conta de que não guardam coerência sequer entre si. Acusada por não saber negociar; acusada por negociar em excesso.

A consequência foi Dilma rebatendo com facilidade cada bobagem dita, reforçando o discurso social, mas sem avançar em uma proposta sequer de programa, explicando a lógica das alianças políticas. E William Bonner interrompendo-a a toda hora, impedindo sequer uma resposta completa. Algo tão desastrado e mal educado que obrigou Fátima Bernardes, do alto de sua elegância, a calá-lo com um sinal, para que parasse de ser inconveniente.

Bonner ataca afiliadas da Globo

Essa campanha vai entrar para os anais do humorismo brasileiro.

Na entrevista com Dilma Rousseff, William Bonner apresentou como fato comprometedor o apoio de José Sarney, Jader Barbalho e Fernando Collor de Mello, apontados como “coronéis” políticos.

Esqueceu de um detalhe: além de coronéis políticos, são coronéis eletrônicos. E todos fazem parte da Rede Globo de Televisão.