Roberto Monteiro faz seu primeiro discurso na Câmara do Rio

No dia 15 de fevereiro, o vereador do Rio, Roberto Monteiro (PCdoB), que assumiu o mandato no dia 1º de fevereiro, ocupou a tribuna da casa para proferir seu primeiro discurso. Roberto disse como será sua relação com o executivo municipal, sobre a reeleiç

Sobre a relação com a prefeitura, o novo vereador do PCdoB do Rio disse que sua relação buscará “sempre o melhor para a cidade, através da fiscalização dos atos do executivo e de iniciativas próprias do legislativo como projetos de lei, etc. No entanto, essa posição não me exime ou desobriga de externar claramente as posições que conformam o campo progressista em torno da defesa dos interesses dos trabalhadores e de um desenvolvimento justo e soberano para nossa pátria”.




Mais adiante, Roberto abordou a questão da violência e disse que “é necessário rigor no combate ao crime, mas sem reconhecer que a miséria desumaniza não avançaremos um milímetro no combate à violência…Em nossa cidade a administração municipal algumas vezes trata a questão social como caso de polícia, trabalhadores que para não se render ao crime e à fome, buscam no comércio informal meios para garantir o sustento de suas famílias sofrem todo tipo de violência”.




Lula




Sobre o governo Lula, Roberto Monteiro afirmou que “apesar de inúmeros êxitos alcançados, precisamos avançar muito mais. É necessária uma maior nitidez do projeto desenvolvimentista com distribuição de renda, o que exige maior ousadia para romper com políticas monetárias ortodoxas que só beneficiam o capital financeiro”.



Veja abaixo o discurso na íntegra.




Senhor Presidente,




Este é meu primeiro discurso nesta casa. Devo registrar que é para mim uma honra ter a oportunidade de fazer parte deste corpo de representantes do povo carioca. Em minha opinião, o principal entendimento que se deve ter da função legislativa é o de que somos representantes dos cidadãos e cidadãs da cidade do Rio. Devemos defendê-los contra interesses escusos, tendo sempre em primeiro plano os reclames da coletividade e não os desejos particulares deste ou daquele segmento, por mais que inevitavelmente todos nós estejamos ligados a determinados segmentos comunitários, sociais, ou profissionais.




É dentro deste amplo entendimento dos meus deveres como parlamentar, que acima de opiniões políticas táticas, colocarei em primeiro lugar, no exercício do meu mandato, o interesse mais geral da cidade e da população. Portanto, minha relação com o executivo municipal será uma relação que busque sempre o melhor para a cidade, através da fiscalização dos atos do executivo e de iniciativas próprias do legislativo como projetos de lei, etc. No entanto, essa posição não me exime ou desobriga de externar claramente as posições que conformam o campo progressista em torno da defesa dos interesses dos trabalhadores e de um desenvolvimento justo e soberano para nossa pátria. Até porque, o debate franco e aberto de idéias divergentes só contribui para elevar o exercício político, o que pressupõe a convivência com a pluralidade de idéias. Mas é no campo progressista, no qual se incluem diversos outros partidos com representação nesta casa, que identifico as melhores possibilidades de aperfeiçoar e aprofundar a democracia parlamentar.




Senhor Presidente, como disse no início de minha intervenção, todos temos um segmento principal no qual atuamos. No meu caso desde cedo senti necessidade de participar das lutas e movimentos em defesa dos trabalhadores e da justiça social. Participei e participo, primeiro como ativista, depois como advogado, da luta de diversos Sindicatos de Trabalhadores, sendo que sou, com orgulho, diretor do Sindicato dos Advogados do Estado do Rio e membro do atual conselho da OAB-RJ, entidade com larga tradição em defesa da justiça e da democracia. Buscarei aqui representar dignamente essas tradições, bem como as tradições do meu Partido.




Senhor Presidente, o Brasil e o Rio de Janeiro passam por momentos instigantes e contraditórios. Recentemente, depois de quatro anos da primeira experiência de um governo central oriundo da luta popular, assistimos a mobilização de poderosas forças que, de diversas maneiras, tentavam impedir a continuidade dessa inédita experiência. Alguns setores da sociedade tentaram criar um clima de crise permanente, visando inviabilizar o governo e paralisá-lo politicamente. A consagradora reeleição do presidente Lula mostra que a consciência política do povo avançou e os “moralistas de ocasião” como oportunamente qualificou Luís Fernando Veríssimo, não conseguiram ir além de um discurso de denúncias, sem apresentar saídas viáveis para o Brasil.



No entanto, apesar de inúmeros êxitos alcançados, precisamos avançar muito mais. É necessária uma maior nitidez do projeto desenvolvimentista com distribuição de renda, o que exige maior ousadia para romper com políticas monetárias ortodoxas que só beneficiam o capital financeiro.




Senhor Presidente, a tremenda desigualdade social, que faz do Brasil um dos campeões mundiais de concentração de renda, traz para cidades como o Rio de Janeiro efeitos devastadores. Um desses efeitos mais perversos é sem dúvida o sentimento de insegurança e medo, que ultimamente está sempre presente na vida da nossa cidade e, às vezes, em função de acontecimentos violentos particularmente bárbaros, assume grandes proporções de alarme e indignação. É imperioso combater a impunidade, é necessário rigor no combate ao crime, mas sem reconhecer que a miséria desumaniza não avançaremos um milímetro no combate à violência. Um ser humano que desde criança vive, devido à miséria, como um animal, sem teto, sem alimentação regular, sem acesso à saúde, à educação e ao lazer, dificilmente agirá norteado por valores humanistas, de respeito à vida e aos outros seres humanos.




Em nossa cidade a administração municipal algumas vezes trata a questão social como caso de polícia, trabalhadores que para não se render ao crime e à fome, buscam no comércio informal meios para garantir o sustento de suas famílias sofrem todo tipo de violência. Enquanto o Rio for uma cidade partida, entre cidadãos e párias, dificilmente encontraremos saídas para a violência.




Senhor Presidente, apesar de graves problemas, o ano de 2007 pode ser muito proveitoso para a nossa cidade, que sediará os jogos Pan Americanos, oportunidade de grande vulto para a afirmação da vocação do Rio de Janeiro como sede de grandes eventos internacionais, o que traz diversos benefícios para a cidade. Frise-se, desde já, que aqui existe um bom exemplo de entendimento dos três poderes (União, Estado e Município), exemplo que deve ser seguido em outras áreas de atuação do poder público. Também o PAC possibilitará importantes investimentos embora, a nosso ver, devamos lutar para incluir no PAC obras importantes para o Rio como a ampliação do metrô para a baixada e a zona oeste e a conclusão da linha 2.




Senhor presidente, meu mandato estará a serviço dos trabalhadores e do movimento social e não poderia deixar de registrar, neste meu primeiro e breve discurso, o agradecimento aos meus companheiros de luta e aos meus familiares, nos quais encontrei todo o apoio para estar vivendo esta importante responsabilidade.




Obrigado.