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Fidel adverte sobre guerra nuclear e lamenta resultados da Copa

Em novo artigo publicado neste domingo (04), o ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, assegura que em "brevíssimo tempo" explodirá uma "catastrófica guerra nuclear" pelo conflito entre Estados Unidos e Israel com o Irã. O alerta tem permeado todas as últimas reflexões do líder cubano.

No texto divulgado no site oficial "Cubadebate" e intitulado "A felicidade impossível", Fidel afirma: "O império está a ponto de cometer um impagável erro sem que nada o possa impedir. Avança inexorável rumo a um sinistro destino".

Segundo ele, no conflito entre EUA e Irã "nenhuma das duas partes cederá: uma pelo orgulho dos poderosos, e outra, pela resistência ao jugo e a capacidade para combater, como ocorreu tantas vezes na história do homem".

"Aos povos pobres do mundo, que não temos a menor culpa do colossal enredo criado pelo imperialismo (…) não nos resta outra alternativa que enfrentar as consequências da catastrófica guerra nuclear que em brevíssimo tempo explodirá", diz Castro.

Da mesma forma que em seus últimos artigos, Fidel Castro se mostra antenado coom os acontecimentos da Copa do Mundo da África do Sul e opina que "uma final entre países europeus será a mais desbotada e anti-histórica desde que esse esporte nasceu no mundo". Leia abaixo:

 
A felicidade impossível
Por Fidel Castro 
 
Prometi que seria o homem “mais feliz do mundo se estivesse equivocado” e, infelizmente a minha felicidade durou muito pouco. Ainda não acabou a Copa do Mundo. Ainda faltam seis dias para a partida final.

Que extraordinária oportunidade perderá, possivelmente, o império ianque e o estado fascista de Israel para manter as mentes da grande maioria das pessoas no mundo afastadas de seus problemas fundamentais!

Quem teria notado os sinistros planos do império com relação ao Irã e seus brutos pretextos para agredí-lo? Ao mesmo tempo, eu me pergunto: o que fazem, pela primeira vez, os navios de guerra Israelenses nos mares do Golfo Pérsico, do estreito de Ormuz e das áreas marítimas do Irã?

É possível imaginar que dali marcharão os porta-aviões nucleares ianques e os navios de guerra de Israel, com o rabo entre as pernas, quando forem cumpridas as exigências contidas na Resolução 1.929, de 9 junho 2010, adotada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, que mantém a autorização para a inspeção de navios e aeronaves iranianos, com a possibilidade de levá-la a cabo em território de qualquer estado e que, neste momento, permite fazê-lo inclusive em navios em alto mar?

A resolução também estabelece que não se realizariam inspeções de navios iranianos sem o consentimento do Irã. Nesse caso, a negação seria objeto de análise. Outro elemento adicionado é a possibilidade de confiscar o inspecionado, se ficar confirmado que ele viola as disposições da Resolução.

Um Irã desarmado foi vítima daquela guerra cruel com o Iraque, na qual massas de Guardiões da Revolução limpavam os campos de minas avançando sobre as mesmas. Este não é o caso de hoje. Expliquei em reflexões anteriores que Mahmud Ahmadinejad foi chefe dos Guardiões da Revolução no oeste do Irã, que teve o peso principal daquela guerra.

Anos mais tarde, um governo iraquiano encorajado enviou a maior parte de seus Guarda Republicana e anexou o emirado árabe do Kuwait, rico em petróleo, que foi presa fácil. O governo iraquiano mantinha estreita amizade com Cuba, que lhe fornecia, desde os tempos em que não estava em guerra com ninguém, importantes serviços de saúde. Nosso país tentou convencê-lo a sair do Kuwait e acabar com a guerra que havia sido provocada a partir de pontos de vista errôneos.

Hoje sabemos que uma embaixadora ianque medíocre, que tinha excelentes relações com o governo do Iraque, o induziu ao erro cometido.

Bush pai atacou o seu antigo amigo chefiando uma potente coligação – com uma forte composição árabe-muçulmana-sunita, de países que abasteceram de petróleo a grande parte das nações industrializadas e ricas -, a qual avançou desde o Sul do Iraque para cortar a retirada da Guarda Republicana que se dirigia para Bagdá, e, por prudência da Infantaria de Marinha e das Forças Armadas dos Estados Unidos – sob o comando de Colin Powell, general com prestígio, e posteriormente secretário de Estado de George W. Bush -, fugiu para a capital do Iraque.

Por pura vingança, contra ela utilizaram projéteis contaminados com urânio empobrecido e, com isso, pela primeira vez, experimentaram o dano que poderiam produzir nos soldados adversários.

O Irã, que agora é ameaçado com seus exércitos pelo ar, mar e terra, de religião muçulmano-xiita, em nada é parecido à Guarda Republicana que atacou impunemente no Iraque.  O império está a ponto de cometer um impagável erro sem que nada o possa impedir. Avança inexoravelmente para um sinistro destino.

A única coisa que se  pode afirmar é que houve quartas-de-final na Copa Mundial do Futebol. Assim, os fãs do esporte pudemos desfrutar dos emocionantes jogos em que vimos coisas incríveis. Afirma-se que, em 36 anos, o time da Holanda não perdia em uma sexta-feira em jogos da Copa Mundial do Futebol. Apenas, graças aos computadores foi possível fazer esse cálculo.

O fato real é que o Brasil foi eliminado das quartas-de-final da Copa. Um juiz deixou o Brasil fora da Copa. Pelo menos essa foi a impressão que não deixou de repetir um excelente comentarista esportivo da televisão cubana. Depois, a FIFA declarou que era correta a decisão do árbitro. Mais tarde, o mesmo juiz deixou o Brasil com 10 jogadores em um momento decisivo, quando ainda restava mais da metade do segundo tempo do jogo. Com certeza essa não foi a intenção do árbitro.

Ontem a Argentina foi eliminada. Nos primeiros minutos, o time alemão, através do meio-campo Muller, surpreendeu à confiante defesa e ao goleiro argentino, conseguindo marcar um gol. Posteriormente, não menos de 10 vezes, os centroavantes argentinos não conseguiram marcar um gol.

Pelo contrário, o time alemão marcou outros três gols e até Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, aplaudia com muito entusiasmo. Assim, novamente, um dos times favoritos perdeu. Dessa forma, mais de 90% dos fãs do futebol em Cuba ficaram atônitos.

A maioria esmagadora dos amantes desse esporte nem sequer sabem em que continente está localizado Uruguai. Uma final entre países europeus será a mais descolorida e anti-histórica desde que nasceu esse esporte no mundo.

No entanto, na areia internacional aconteceram fatos que não têm nada a ver com os jogos de azar e, sim, com a lógica elementar que rege os destinos do Império. Uma série de notícias foram veiculadas nos dias 1, 2 e 3 de julho.

Todas giram em torno de um fato: as grandes potências representadas no Conselho de Segurança das Nações Unidas com direito ao veto, mais a Alemanha, instaram, no dia 2 de julho, o governo do Irã a dar “uma rápida resposta” ao convite que lhe foi feito para reiniciar as negociações sobre o seu programa nuclear.

O presidente Barack Obama assinou no dia anterior uma Lei que alarga as medidas existentes contra as áreas energética e bancária do Irã e poderia punir as companhias que realizem negócios com o governo de Teerã. Quer dizer, um bloqueio rigoroso e o estrangulamento do Irã.

O presidente Mahmoud Ahmadinejad afirmou que o seu país reiniciará as conversações no fim de agosto e sublinhou que nelas devem participar países como o Brasil e a Turquia, os dois únicos membros do Conselho de Segurança que rejeitaram as sanções do passado dia 9 de junho.

Um funcionário de alto nível da União Europeia advertiu, pejorativamente, que nem o Brasil nem a Turquia serão convidados para participar nas conversações. Não falta nada mais para tirarmos as conclusões pertinentes.

Nenhuma das duas partes cederá; uma, pelo orgulho dos poderosos, e a outra, pela resistência ao jugo e pela capacidade para combater, como tem acontecido tantas vezes na história do homem. O povo do Irã, uma nação de milenares tradições culturais, sem dúvidas, vai defender-se dos agressores. É incompreensível que Obama pense seriamente que o Irã aceitará suas exigências.

O presidente daquele país e os seus líderes religiosos, inspirados na Revolução Islâmica de Ruhollah Khomeini, criador dos Guardiões da Revolução, as Forças Armadas modernas e o novo estado do Irã resistirão.

Os povos pobres do mundo, que não temos a menor culpa do colossal enredo criado pelo imperialismo – localizados neste hemisfério ao Sul dos Estados Unidos, outros situados no Oeste, no Centro e no Sul da África, e os que possam ficar ilesos da guerra nuclear no resto do planeta -apenas temos a alternativa de encarar as conseqüências da catastrófica guerra nuclear que vai estourar em brevíssimo tempo.

Infelizmente não tenho nada que retificar e me responsabilizo plenamente por tudo o que escrevi nas últimas reflexões.

Fidel Castro Ruz
4 de julho de 2010
17h36