Timor Leste: Premier Ramos Horta é candidato a presidente

O primeiro-ministro do Timor Leste, José Ramos Horta, detentor de um Prêmio Nobel da Paz, lançou oficialmente a sua candidatura às eleições presidenciais de 9 de abril. O anúncio foi feito neste domingo, em Laga, a 150 quilômetros a leste de Díli, aldeia

“Hoje, aqui nesta terra de Laga, digo a todo o povo do Timor Leste, lorosae e loromonu, tasifetu e tasimane, e ao resto do mundo, a minha candidatura a presidente da República”, discursou o premiê, sob um toldo das Nações Unidas e com a imagem de Jesus Cristo estampada no peito.


 


Ramos Horta se referia aos quatro nomes cardeais da geografia timorense. Lorosae, o leste e o seu povo; loromonu, o povo do oeste do país; tasifetu, literalmente “o mar mulher”, na costa norte; tasimane, “o mar homem”, da brava costa sul. As quatro categorias, sobretudo a suposta divisão ou inimizade entre lorosaes e loromonus, têm sido o pretexto e o contexto de violência e tensão no Timor desde o começo de 2006.


 


Foi contra uma alegada discriminação étnica que cerca de 600 militares das Falintil – Forças de Defesa do Timor Leste (F-FDTL) assinaram em janeiro de 2006 uma petição ao presidente Xanana Gusmão e às chefias militares, pondo em andamento uma crise que rebentou no final de abril.


 


Em tétum, língua oficial timorense, o candidato Ramos Horta deixou uma mensagem sobre isso: “Timor ida deit” (Timor é uno). “Conheço esta terra amada de uma ponta à outra, de Tutuala a Oécussi”, ressaltou. “Ajudei a fazer o diálogo em vários lugares de conflito”, disse Ramos Horta.


 


O lançamento


 


O comício de lançamento de Ramos-Horta à Presidência foi longo e organizado, respeitando o protocolo lido por um mestre de cerimônias. Também foi folclórico, com dançarinos tradicionais que receberam a comitiva com tambores, e foi solene, porque o comandante Cornélio da Gama “L7” pediu, durante cerca de 15 segundos, um minuto de silêncio pelos heróis mortos pela pátria.


 


Foi um comício inflamado, principalmente quando estiveram ao microfone militantes de diferentes distritos do país. Foi ainda político, com as explicações do candidato sobre o que o preocupa e o motiva: o combate à pobreza. Mas também foi descontraído, pois Ramos Horta aconselhou as várias centenas de pessoas presentes no comício a “aproveitar” tudo o que os candidatos dão ao povo durante a campanha.


 


“Em 1999, o povo recebeu dinheiro, bicicletas, t-shirts vermelhas e brancas”, as cores nacionais da Indonésia, “perdeu sangue, e depois votou pela independência”, recordou o premiê. “Digo a esse povo analfabeto, pé-descalço: recebam todas as camisas, vão às festas todas, onde se mata o búfalo e se come arroz, como eu hoje vos dou do meu búfalo”, disse o candidato.


 


“Se depois votarem noutro, eu direi que esses malandros me enganaram. Mas serão malandros inteligentes que merecerão o meu respeito”, concluiu o primeiro-ministro, sublinhando, diante de uma multidão sorridente, que respeitará o resultado das eleições.


 


A notícia da candidatura precedeu o anúncio em três dias. O primeiro-ministro timorense, sem que fosse essa a sua intenção, revelou os seus planos na última quinta-feira à tarde, em entrevista à Al-Jazzeera.


 


O Timor hoje


 


Ramos Horta vem ocupando o cargo de primeiro-ministro desde o ano passado, depois de distúrbios generalizados no país. Ex-ministro do Exterior, ele foi laureado com o Nobel, em conjunto com o bispo do Timor Leste, Carlos Belo, por sua resistência não-violenta ao domínio indonésio em 1996.


 


Ex-colônia portuguesa, o Timor Leste se tornou independente da Indonésia em 2002, após 25 anos de ocupação que reprimiu a oposição política e deixou mais de 100 mil mortos. O atual presidente do país, Xanana Gusmão, disse reiteradamente que não vai buscar um novo mandato.


 


Já o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, recomendou ao Conselho de Segurança da entidade em meados deste mês que as forças de paz no Timor Leste sejam mantidas e incrementadas. Em relatório enviado ao Conselho de Segurança, o secretário-geral pediu que o mandato da missão da ONU no país seja estendido por 12 meses.


 


Ele afirmou que a situação no Timor Leste está menos tensa, após uma onda de violência entre abril e maio de 2006, que obrigou cerca de 100 mil pessoas a abandonarem suas casas. No entanto, argumentou, a proximidade das eleições presidenciais aumenta a necessidade de garantir a estabilidade da situação no país.