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Aurélio recebe homenagem de Aldo pela defesa da língua portuguesa

“O chamado pai dos burros, na expressão do povo, tem de ser mesmo paternal, simples, dando-nos o valor e o significado das coisas, sem pretensões, capaz da mais franca intimidade, generoso, probo e fácil”, as palavras do escritor José Lins do Rego foram repetidas pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) na sessão solene que solicitou da Câmara dos Deputados para homenagear o centenário do conterrâneo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Ambos nasceram em Alagoas – o parlamentar e o homenageado.

Aurélio Buarque de Holanda - Câmara dos Deputados

A exemplo dos demais oradores da sessão, Rebelo destacou a importância de Aurélio (PCdoB-SP) para a lexicografia (trabalho a respeito de palavras duma língua) no Brasil, a ponto de tornar-se sinônimo de dicionário.

“A segunda edição, revista e ampliada para inúmeras reimpressões, acolheu a consagração das ruas. Na capa, o nome era integrado ao novo título: Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa”, destacou o parlamentar em sua fala de saudação, na presença do filho do homenageado- Aurélio Buarque Ferreira – e autoridades da cidade natal de Aurélio – Passo de Camaragibe, como a prefeita Edvânia Farias Costa.

Para Aldo Rebelo, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira “compreendeu, como poucos, que a língua é um fato social vivo, atualiza-se e acompanha o progresso da humanidade. Palavras nascem e se aposentam, surgem mirradas, com um único sentido, e, ao longo do tempo, avolumam-se, na engorda da polissemia.”

Defensor da língua portuguesa, o parlamentar disse ainda que “Aurélio documentou o idioma na sua fartura e opulência, resistindo o quanto pôde aos modismos, aos garranchos ortográficos e paralelepípedos prosódicos que nos chegam cavilosamente de outros idiomas.”

Presidente ou Presidenta?

O senador Cristovão Buarque (PDT-DF), presente à sessão, destacou, em seu discurso que estamos vivendo um tempo de transformações sociais e, em tempos de transformações sociais, surgem ideias; e, por trás de cada ideia, surge uma palavra querendo nascer e que só nasce quando os poetas e os dicionaristas conseguem captá-la.

“Gostaria de ver o Aurélio Buarque de Holanda, no mundo de hoje, como uma grande antena, querendo captar novas palavras que querem nascer nesse mundo em crise e em transformação”, disse, acrescentando que gostaria que se redefinisse a palavra progresso para incorporar no conceito de progresso a busca da igualdade e não apenas a busca do aumento da produção.

O senador ainda fez referência a disputa eleitoral, dizendo que “depois da redefinição, precisamos colocar no dicionário algumas palavras novas. Vi que surgirá nova edição em outubro. Gostaria de saber se, nessa nova edição, está a palavra presidenta como o feminino de Presidente da República. Porque, pelo que eu sei, a palavra presidenta, no dicionário, significa mulher do Presidente ou uma mulher que dirige, e presidente significa Presidente da República.”

E disse ainda que gostaria que no futuro, fosse criado uma seção de palavras aposentadas, que já não refletem o mundo, como, por exemplo, pivete. “Nós temos de fazer com que a palavra pivete fique no dicionário museu, não no dicionário vivo. Claro que esse trabalho não é do dicionarista. É trabalho de nós, políticos, fazermos uma sociedade em que não exista mais pivete. Que a palavra bezerrinha, no sentido de prostituta infantil, já não reflita mais nenhuma menina deste País. Podemos até colocar como algo do passado distante, que já não existe.”

Patrimônio do povo

O senador destacou ainda que “a língua é patrimônio maior do povo, e tem no Aldo um grande defensor da luta contra o estrangeirismo, pelo qual precisamos lutar. E sempre apoiei sua luta. Nós temos de adaptar palavras estrangeiras, traduzir palavras estrangeiras ou proibir palavras estrangeiras”, citando como exemplo “fast-food” que poderia ser traduzida como comida rápida, não precisava manter daquele jeito.

A líder do PCdoB na Câmara, deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) também falou na sessão solene. Para o público, composto principalmente por jovens estudantes que encheram o plenário da Câmara, ela lembrou que “não há um dia durante a vida acadêmica que um jovem ou uma jovem não procure a ajuda desse grandioso mestre.”

“Aurélio Buarque de Holanda ao dedicar toda sua vida, até seu falecimento em 1989, a registrar o rico repertório da língua portuguesa no Brasil, ele contribuiu também para fazer a pátria brasileira maior e mais profunda no peito de cada um de nós. Assim fazendo, Aurélio teve não uma, mas duas pátrias: o Brasil e a Língua Portuguesa, que se confundem e se entrelaçam”, finalizou.

Aurélio Buarque de Holanda Ferreira nasceu há 100 anos, em Passo de Camaragibe, em Alagoas. Depois de mudar-se com a família para Maceió, mostrou interesse excepcional pelo idioma. Já era professor aos 15 anos de idade. Sobressaiu-se também como contista, tradutor, poeta, ensaísta e jornalista. Em 1941 Aurélio Buarque deu início à sua jornada de dicionarista.

De Brasília
Márcia Xavier