Mostra de Edíria Carneiro destaca manifestações populares

Com 16 telas da artista plástica Edíria Carneiro, a exposição Folclore Brasileiro foi aberta ao público na segunda-feira (17/04), na Faculdade de Gastronomia do Senac, em Campos do Jordão (SP). O prefeito da cidade, Jo&atilde

De acordo com a artista, a exposição procura ressaltar “tradições da cultura brasileira, sobretudo manifestações do povo mais pobre, mais humilde”. As telas em exposição foram pintadas às pressas. No começo do ano, Edíria se ocupou de outro trabalho — a mostra “As Corajosas Mulheres do Povo”, que foi inaugurada em 7 de março e marcou as comemorações do Dia Internacional da Mulher na Câmara dos Deputados, em Brasília. Agora, sob a temática do folclore, a viúva de João Amazonas produziu 16 telas em pouco mais de um mês. “Não é normal. O certo é fazer com calma”, diz. “Como foi tão depressa, não tive tempo de fazer tudo que eu gostaria.”

O lamento de Edíria não impede que a exposição no Senac seja de grande diversidade. A artista procurou retratar manifestações de vários cantos do Brasil, como a congada (que ela conheceu na infância, em território baiano) e as cavalhadas (presentes ainda em regiões do Alagoas e de São Paulo, entre outras). Se dependesse da autora, a mostra se chamaria “Músicas e Folguedos Populares” — foi o Senac que optou por Folclore Brasileiro.

A cidade-sede do evento tem tradição musical. Todos os anos, no mês de julho, ocorre o Festival de Inverno de Campos do Jordão. Além de dois quadros dedicados ao município paulista, em Folclore Brasileiro se destacam as telas que têm danças populares como tema. Para Edíria, tradições como o bumba-meu-boi, no Maranhão, e as comemorações em torno de São Expedito são reflexo da formação cultural do Brasil. “Do Sudeste para cima, o folclore tem influência indígena, portuguesa e africana. Já no Sul, há forte presença cultural dos imigrantes alemães, dos italianos”, afirma a artista plástica.

Arte engajada –
Foi em Salvador que Edíria Carneiro nasceu e se iniciou na carreira artística. Cursou a Escola de Belas Artes da Bahia na década de 1940 — época em que começou a desenvolver estilo próprio, inspirando-se nas pessoas que formavam diariamente a fila dos necessitados em frente ao Convento de São Francisco. Era ali que essas pessoas retiravam seu quinhão de sopa. A partir dessa experiência, Edíria passou a observar as mazelas do povo brasileiro e a transportá-la em tintas coloridas para seus quadros.

Jovem, tinha de enfrentar o conservadorismo de sua família para se dedicar às artes e à sua posição política progressista. Já em 1945, era filiada ao Partido Comunista do Brasil, por indicação de Mário Alves, que fora dirigente da sigla. Usou sua arte como instrumento de luta política e contribuiu como ilustradora na revista Seiva, dirigida por João Falcão.

Na seqüência, seguiu para o Rio de Janeiro, onde participou do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE). Logo passou a contribuir como ilustradora de A Classe Operária e Momento Feminino, além de desenhar para folhetos e cartazes. Conheceu João Amazonas e em 1948, quando o partido foi posto na ilegalidade, viajou para São Paulo. Viveram juntos nos vários aparelhos montados naquela cidade e no Rio de Janeiro.

Mudou-se para Porto Alegre algum tempo depois, tendo aulas aí com o artista plástico Iberê Camargo. De volta a São Paulo, intensificou sua atividade artística como gravadora, participou de várias exposições e trocou experiências com vários gravadores que passaram a fazer parte de suas relações.

A partir de 1967, o PCdoB começou efetivamente a implantar a Guerrilha do Araguaia, e Edíria teve participação importante. Em 1976, exilou-se em Paris. Na capital francesa, continuou suas atividades artísticas e freqüentou o atelier o Atelier 17, de Stanley William Hayter, pintor e gravurista inglês estabelecido em Paris desde 1926, que teve grande influência sobre seu trabalho.

Ao lado de João Amazonas, voltou ao Brasil em 1979, com a anistia aos perseguidos políticos. Estabeleceram-se em São Paulo. Ao longo de sua carreira, Edíria ganhou prêmios e participou de exposições e bienais, como a de São Paulo, em 1974. Em exposições recentes na capital paulista e em Brasília, Edíria exibiu obras em óleo sobre tela, abordando um tema que a acompanha desde o início de sua carreira: o sofrimento do povo brasileiro, como crianças oprimidas e a mulher.

MOSTRA “FOLCLORE BRASILEIRO”
Onde: Faculdade de Gastronomia Senac
Av. Frei Orestes Girardi, 3549
Campos do Jordão (SP)
Fone: (12) 3668-3001
Quando: até 23 de abril, das 8h às 18h
Quanto: de graça