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Geopolítica do salve-se-quem-puder no DEM

A Executiva Nacional do DEM deve fazer nesta quinta-feira (18) mais uma reunião extraordinária e com pauta espinhosa: uma proposta de dissolução do Diretório do partido no Distrito Federal; e outra de expulsão do governador interino Paulo Octávio, envolvido no Mensalão do DEM e na mira de quatro pedidos de impeachment. Sintomaticamente, a "ala ética" da legenda, que quer aprovar as duas, é comandada por dois goianos.

Trata-se do senador Demóstenes Torres e do ex-líder da bancada na Câmara Ronaldo Caiado. Desde que estourou o escândalo os dois pregam a radicalidade. "Defendo a expulsão do governador, a intervenção no diretório e a retirada de todos os membros do partido do governo. Aí acaba essa história de que o mensalão é do DEM. O mensalão é de José Roberto Arruda e ele que se vire com ele", disse Demóstenes. "Nós não podemos mais ficar sangrando. Não dá mais", concordou Caiado.

Quem vê o mapa, com Goiás cercando o Distrito Federal, entende a posição de Demóstenes e Caiado. Estão em busca de um álibi que lhes permita pedir votos aos eleitores em outubro.

"Não podemos esquecer que estamos em ano eleitoral. Até por isso, temos que nos diferenciar, tomando medidas duras", explica Caiado.

'Eticos' e 'cautelosos'

Nas seções do DEM mais distantes de Brasília, o sentimento também é de desastre, mas temperado com maior prudência.

O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), não diz se apoia ou não as sugestões de Demóstenes e Caiado. “A opinião deles tem reflexo grande no partido”, admite, mas não se compromete. Desde que a bomba estourou, Rodrigo trata de ficar tão longe dos estilhaços quanto o cargo permite.

Outra voz acauteladora é a do líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN): "A sensatez se impõe nessa hora. Ninguém vai defender o indefensável. Nem Rodrigo nem Demóstenes e muito menos eu. Nesse caso, quem vai se impor são os fatos", recomenda Agripino.

Os cautelosos querem ver como se sai Paulo Octávio no esforço para governar o que resta do GDF. O governador interino tratou em primeiro lugar de arrumar uma audiência com Lula, na Quarta-feira de Cinzas. Como o presidente evita tripudiar sobre a desgraça de seus opositores, pedirá socorro. Planeja também um novo "arco de alianças" e um novo secretariado. Com isso espera salvar o posto de governador e a filiação ao partido.

"Nem tudo está perdido"

Em um plano mais amplo, a geopolítica do DEM é a de um partido que perdeu as sólidas raízes coronelísticas que teve outrora, sobretudo no Nordeste. E ficou reduzido a raízes superficiais, como a do ex-tucano Arruda no Distrito Federal, da família Maia no Rio ou do "DEM de Serra", com Gilberto Kassab em São Paulo.

Raízes superficiais não costumam atravessar intactas a um vendaval como o Mensalão do DEM. Tanto os 'éticos' como os 'cautelosos' da sigla sabem que pagarão caro em outubro.

A evolução dos deputados federais eleitos pelo PFL-DEM, desde a sua estreia em 1986, já forma uma linha descendente:
1986: 118 deputados
1990: 83 deputados
1994: 89 deputados
1998: 105 deputados (um repique proporcionado por FHC)
2002: 84 deputados
2006: 65 deputados.

Quantos serão os de 2010? Como diria um anedótico técnico da seleção paraguaia de futebol: "Nem tudo está perdido; ainda há muito que perder no segundo tempo".

da redação, com agências