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Bloco do Pacotão faz a festa em Brasília com prisão de Arruda

O "mensalão do DEM" virou enredo do carnaval do Pacotão, um dos blocos de rua mais tradicionais de Brasília (32 anos), que desfilou nesta segunda-feira na Asa Norte. “Estávamos pensando em fazer um enredo homenageando os 50 anos de Brasília, mas fomos brindados com o escândalo do panetone”, brincou Joca Pavaroti, um dos organizadores do bloco.


Em meio aos confetes, serpentinas, faixas e fantasias, a distribuição de panetones embalou as marchinhas com letras que fizeram referência ao esquema de corrupção envolvendo a cúpula do governo do Distrito Federal, assessores, deputados distritais e empresários. "Quem foi, quem foi/Que fez esse ebó?/Derrubou Arruda/E de lambuja o P.Ó!", dizia uma das marchas. A sigla refere-se ao governador em exercício, Paulo Octávio.

Com atraso de mais ou menos uma hora, o bloco deixou a concentração rumo ao Gran Folia, passando pela W3 Norte, por volta das 16h. Um problema na embreagem do trio elétrico fez com que o desfile fosse interrompido por meia hora. Cerca de 40 integrantes do movimento Fora Arruda também marcaram presença na folia. Empurrando mini-carros alegóricos construídos em cima de carrinhos de supermercado, eles caminharam desde o Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília (UnB) até o encontro com o bloco ainda no trajeto da W3.

No meio dos cerca de 400 foliões que desfilaram pelas avenidas de Brasília, se destacava o chefe Tony Martins. Ele oferecia ao público um panetone, com a advertência de que "é prudente comer rezando" – uma referência ao ex-presidente da Câmara Legislativa, o deputado Leonardo Prudente (sem partido), flagrado na "oração da propina" com o deputado Rubens César Brunelli (PSC-DF) e o ex-secretário de Relações Institucionais, Durval Barbosa. "O carnaval é uma catarse para extravasarmos toda a nossa revolta", comentou Tony.

Integrantes do movimento "Fora Arruda" compareceram ao desfile, com bonecos dos dois governadores, o que está preso, José Roberto Arruda, e Paulo Octávio, em exercício. A intenção deles é direcionar os próximos protestos contra o governador em exercício, também suspeito de envolvimento no esquema revelado pela Operação Caixa de Pandora. "A luta pela moralização continua. Agora é Fora Paulo Octávio", disse o estudante de Engenharia Florestal Abayomi Mandela.

O desfile do Pacotão foi ainda reforçado por uma ala de 30 filiados da Central Única dos Trabalhadores (CUT) do Distrito Federal. A entidade entrou com um dos quatro pedidos de impeachment contra o governador em exercício. "O Pacotão é um bloco de protesto, onde tudo é permitido", afirmou a presidente da CUT, Rejane Pitanga. "A crise é séria e profunda, queremos passar tudo a limpo."

Segundo o cartunista José Antônio Filho, o Joanfi, a presença do "pessoal da esquerda" havia diminuído nos últimos anos, quando o bloco cutucou o "mensalão do PT". "Agora que estamos criticando o Arruda e o Paulo Octávio, que são da direita, o pessoal da esquerda está voltando", disse ele. "O Pacotão não perdoa ninguém, nem o papa. Estamos comemorando o carnaval aqui livres e soltos, enquanto o Arruda está na cadeia", comparou.

Apesar do clima irreverente, a indignação era absoluta. "É a maior vergonha do século", lamentou a atriz Clara Luz, de 84 anos, caracterizada de anjo e com rosto pintado de palhaço. "Brasília precisa ir em peso ao Congresso e botar os ladrões para fora.." Para a professora Márcia Ferreira, a intervenção no DF é necessária. "Somos motivo de gozação no país inteiro", comentou. Ela carregava uma bolsa com maços simulando dinheiro e uma placa: "A casa caiu."