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Convenção do clima terá desafios "inimaginados" pela frente

Alguém pode dizer, acertadamente, que a China é a primeira nação em lançar poluentes ao ar. No caso, os famosos gases de efeito estufa. Outros também podem dizer, sem errar, que os Estados Unidos foram, durante pelo menos 50 anos, os maiores poluentes do planeta. Mas que dirá aquele que for confrontado com a realidade dos dados, que aponta o Catar como o maior poluente, por cabeça, do planeta?

Por Humberto Alencar

Quadro de emissores de CO2 - Bernardo Joffily

Certamente usará uma locução comum no interior do Estado de São Paulo para desacreditar o dado: "Ah, vá se catar!". À parte o triste trocadilho, a verdade é que o troféu de maior poluente é ostentado por essa pequena nação árabe do Golfo Pérsico, que com suas 32,78 toneladas de poluentes por habitante, vai longe na dianteira da corrida pelo emporcalhamento dos céus da Terra. Na verdade, o Catar manda para os ares apenas 0,2% das emissões totais de CO2 e, assim, deixa de fazer parte das discussões sobre o tema.

Na crueza dos números absolutos, o país que manda mais dióxido de carbono para os ares é, agora, a China, com impressionantes 6,1 bilhões de toneladas emitidas anualmente, pouco mais que os "Hors Concours" Estados Unidos, que até 10 anos atrás respondiam com 25% da poluição planetária. Hoje eles detonam o ar com 5,7 bilhões de toneladas anuais, como podemos ver no gráfico ao lado.

Nele, observamos que o Brasil é um dos que pagam o pato na questão. As emissões verde-amarelas de gases passam pouco mais de um terço da média global, em termos per capita, enquanto que lança ao ar do planeta "apenas" 1,2% do total de dióxido de carbono lançado.

COP-15

Para dissipar um pouco essa fumaça toda, a ONU vem se mexendo, desde 1992, quando realizou uma cúpula histórica na cidade do Rio de Janeiro, realizando conferências sobre o clima do planeta. Assim, a Convenção das Nações Unidas para as Alterações Climáticas marcou para o mês de dezembro a 15.ª Conferência das Partes (COP-15).

Há muito tempo os cientistas apontam a emissão de gases de efeito de estufa – sobretudo o CO2 resultante da queima de combustíveis fósseis que asseguram perto de 85% do abastecimento mundial de energia – como causa próxima de alterações climáticas que estão em curso.

A Terra já viveu diversas alterações climáticas ao longo das eras, históricas ou não. Como a "comunidade científica" atribui, hoje, as emissões de gases de efeito estufa como o gatilho para um novo armagedom climático, desta vez produzido pelos "efeitos especiais" do ser humano, colocou-se na mesa a necessidade de controlar essas emissões de gases.

O chamado "mundo industrializado", portanto, deverá reduzir as respectivas emissões de 25% a 40% e os "países em desenvolvimento" de 15 a 30%, até 2020, em relação a dados de 1990, e assim por diante.

O jornal Avante!, do PC português, assinala, em artigo publicado na última semana, que "é surpreendente tal grau de precisão a longo prazo em matéria tão susceptível à nossa margem de ignorância sobre o mundo natural e à nossa ainda mais limitada capacidade de previsão na esfera econômico-financeira. Recordemos a sucessão de 'bolhas' financeiras que têm surpreendido e abalado os mercados de valores à volta do mundo, só nos passados vinte anos, com graves repercussões económico-sociais". O jornal comunista faz referência ao limite máximo teórico de elevação da temperatura global — dois graus celsius — para que a casa não caia.

Tal determinação causou protestos de vários governos, um deles o chinês, que vê nesses números um limitador ao seu crescimento, em detrimento de outras nações poluidoras que sairiam "limpas" dessas obrigações redutoras de gases, como boa parte dos 27 membros da União Europeia.

O outro lado da história

Há tempos alguns cientistas tem feito denúncias de que esses dados estariam errados. Que o fator humano para tal aquecimento climático não é verdadeiro. Todos aqueles que se puseram ao lado dessa assertiva foram massacrados pela comunidade científica. No entanto, surgiram algumas evidências que colocam em dúvida, se não o aquecimento, a credibilidade dos espalha-brasas do aquecimento global.

O tal "barata voa" foi disparado por hackers, que bisbilhotaram milhares de mensagens trocadas por cientistas nos vários cantos do mundo, achando pérolas entre elas que sujam a credibilidade dos catastrofistas. Em artigo publicado na — é verdade — desacreditada Folha de S. Paulo, no último sábado (28), o cientista Marcelo Leite bota o dedo no escapamento e acha CO2 também nas intenções dos afamados cientistas "do bem".

Apelidado de "Climagate", o caso estourou esta semana, quando hackers não identificados "puseram na rede cerca de mil mensagens de e-mail e uns 3.000 documentos surrupiados de um servidor da Unidade de Pesquisa do Clima (CRU, em inglês) da Universidade de East Anglia, Reino Unido. Alguns deles realmente são, ou soam, comprometedores", diz Leite.

"Os documentos que vieram à tona, até agora, não parecem comprovar nenhuma conspiração para passar por verdadeiros dados falsos sobre o aquecimento global antropogênico. Mas mostram que alguns adversários dos céticos não são santos", continua.

"A suspeita inicial mais grave era de manipulação de dados. Concentrava-se numa frase de Phil Jones, do CRU: “Acabei de finalizar o truque de Mike [Michael Mann] na [revista] “Nature” de acrescentar as temperaturas reais a cada série para os últimos 20 anos (isto é, de 1981 em diante) e desde 1961 para as de Keith [Briffa] a fim de esconder o declínio”.

Que soa como manipulação de dados, soa. Mas as explicações sobre o contexto da frase também soam plausíveis. O blog de climatologistas pró-aquecimento RealClimate diz que se trata de compatibilizar dados de diferentes fontes (geleiras, densidade de anéis de crescimento de árvores, medidas reais etc.).

As estimativas de temperatura obtidas indiretamente por Briffa a partir das árvores divergem do registro de temperaturas reais medidas nas décadas recentes, e por isso o próprio autor recomenda que não sejam usadas. O “truque” seria só um ajuste, alegam seus defensores no RealClimate, embora sua composição com o verbo “esconder” seja para lá de suspeita", diz Leite em seu blog e no artigo do jornalão paulistano.
 

Mesmo assim, o cientista alerta que o descrito aí em cima não pode ser enxergado como "um pecado mortal".

"Em todas as áreas de investigação pesquisadores escolhem e apresentam os dados mais favoráveis para sua tese. Criminoso seria só se escondessem medidas e informações capazes de contradizer sua conclusão (e os dados de Briffa foram publicados)", ensina Marcelo Leite.

Esse feito dos hackers, além de recomendar um pouco de cautela e caldo de galinha, sem CO2, faz o favor de botar a pulga atrás da orelha quando algum cientista de peso usa o argumento de “ausência de publicações”, ou o velho "contra fatos não há argumentos", para combater os céticos da ação humana no aquecimento global. Ou em outros casos menos poeirentos.