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Candidatos boicotam eleições; Micheletti se afasta até dia 2

Diante da ilegitimidade das eleições previstas para este domingo (29) em Honduras, mais de uma centena de candidatos a diversos cargos já apresentaram sua renúncia da disputa. Eles duvidam da legalidade de um processo eleitoral convocado a partir de um golpe de Estado. E é justamente para mascarar este cenário, que o ditador Roberto Micheletti afasta-se, nesta quarta-feira (25), temporariamente da chefia do país.

Não votarei Honduras

A renúncia, anunciada na semana anterior, foi oficializada na terça diante do Conselho de Ministros. O objetivo da saída é permitir que as eleições se realizem com ares de tranquilidade e legalidade. Ele, contudo, retorna ao cargo no próximo dia 2 de dezembro.

A oposição, chefiada pelo presidente deposto Manuel Zelaya, acusa Micheletti de tentar, com o pleito, legitimar o golpe de estado de 28 de junho. Os zelayistas chamaram um boicote contra a votação, cujo resultado já se sabe que não será reconhecido por grande parte da comunidade internacional. A exceção são os Estados Unidos e o Panamá.

Na lista dos candidatos que desistiram de concorrer, em protesto, estão aspirantes à presidência, como o esquerdista Carlos Reyes, à vice-presidência e a outros cargos, como deputados e prefeitos. Só nesta terça-feira cerca de 60 postulantes renunciaram, enquanto em frente à sede do Supremo Tribunal Eleitoral, em Tegucigalpa, membros da Frente Nacional de Resistência ao Golpe realizaram uma nova manifestação contra as eleições, que consideram um farsa do regime de fato.

Entre os casos de renúncia à disputa mais recentes, estão o do candidato à prefeitura de San Pedro Sula, Samul Madrid, e o do aspirante a legislador, Gustavo Matute. "Não é prudente, nem ético, participar de um processo sem que se tenha restituído o presidente Manuel Zelaya", disse Madrid, acrescentando que, neste momento, é preciso esquecer o interesse pessoal e pensar na nação.

Do Partido Liberal, ao qual pertencem tanto Zelaya quanto Micheletti, 55 postulantes já desistiram do pleito. "A renúncia coletiva implica elementos claros de uma profunda crise e uma eleição com poucas possibilidades de se legitimar", expressou o embaixador de Honduras na Venezuela, Garmán Espinal.

Além do presidente, o pleito vai eleger também 128 senadores do Congresso, 20 legisladores do Parlamento da América Central e 298 prefeitos.

Crime contra a democracia

Zelaya disse nesta terça que os Estados Unidos cometeram um "crime contra a democracia" ao mudar sua posição em relação ao golpe que o tirou do poder e afirmou que esse país e o Panamá podem ser "punidos" por violar a Carta Democrática Interamericana.

"Quando o Departamento de Estado (dos EUA) disse que a prioridade já não era minha restituição, mas as eleições, cometeu um crime contra a democracia", disse Zelaya à Agência Efe por telefone a partir da Embaixada do Brasil em Tegucigalpa, onde está refugiado desde 21 de setembro.

"EUA e Panamá podem ser punidos pela OEA (Organização dos Estados Americanos) nos próximos dias, podem ser punidos também pelas Nações Unidas nos próximos dias", afirmou. Essas punições viriam "por violar a Carta Democrática Interamericana, por desacatar as resoluções da OEA, das Nações Unidas, o espírito do plano Arias e o espírito do Acordo Tegucigalpa-San José" sobre sua restituição, disse o presidente deposto.

Estados Unidos e Panamá expressaram seu apoio às eleições do próximo domingo em Honduras. O resto da comunidade internacional ameaça não reconhecer os resultados do pleito caso Zelaya, derrubado em 28 de junho, não seja restituído no poder. Zelaya insistiu em questionar a "ambiguidade" dos EUA diante da crise hondurenha.

"A posição dos EUA (…) dividiu a América e está criando um grave precedente para o sistema democrático interamericano. Essa é a mensagem que estou recebendo. Estão mudando o sistema, já não querem democracias como resposta aos problemas políticos das nações, é a volta do militarismo", disse.

O presidente do parlamento de Honduras, José Alfredo Saavedra, anunciou no dia 17 que o parlamento realizará apenas no dia 2 de dezembro uma conferência geral para discutir a situação do presidente deposto de Honduras, José Manuel Zelaya.

Com agências