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Lula resolve ir a Copenhague e pressiona Obama por acordo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva mudou sua agenda e irá à cúpula de Copenhague sobre mudanças climáticas, no mês que vem. "neste momento somente com a presença de dirigentes políticos é que se pode muda", disse Lula em Roma, nesta terça-feira (17), reagindo duramente à "relutância" mostrada pelo presidente Barack Obama em alcançar um acordo climático efetivo em Copenhague.

"No momento somente com a presença de dirigentes políticos é que se pode mudar alguma coisa em Copenhague e o que parecia impossível pode se concretizar", disse Lula. "Nós achamos que, quando os dirigentes se reunirem em torno de uma mesa, aquilo que parecia impossível de se concretizar pode se concretizar", agregou.

"Vou a Copenhague"

Conforme o planejamento anterior, o governo brasileiro seria representado em Copenhague por uma representação chefiada pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil). A mudança de planos veio acompanhada de uma crítica enfática à ideia de uma cúpula não resolutiva.

"Vou a Copenhague, nos dias 16 e 17 de dezembro. Acertei com o presidente Sarkozy (da França) e com o primneiro ministro Gordon Brown (Reino Unido). Espero que eles consigam avançar para, no mínimo, assumir alguns princípios básicos para que a gente consiga diminuir os gases de efeito estufa" anunciou Lula.

Crítica ao "maior poluidor do planeta"

"Eu penso que nós não temos como aceitar a ideia dos EUA e da China não participarem desse processo. Ou seja, não pode nem os EUA se escudarem na China, nem pode a China se escudar nos EUA. É preciso que eles se sentem à mesa conosco, para que a gente possa discutir e encontrar os números", disse Lula, em referência às metas de redução nos gases causadores do efeito-estufa.

Lula matizou a crítica à China e concentrou a cobrança nos EUA, que lembrou ser "o maior poluidor do planeta". "Obama tem que assumir mais responsabilidades, a China tem responsabilidades, mas menos que os EUA", avaliou. O presidente brasileiro disse ainda que pretendia conversar por telefone sobre o tema com os presidentes americano, Barack Obama, chinês, Hu Jintao, e o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh.

"Restam os EUA, a maior economia do mundo, maior emissor de gases de efeito estufa no mundo, portanto têm maior responsabilidade", disse Lula. "Os números que o presidente Obama apresentou são pequenos diante da quantidade de emissões que os EUA têm emitido nos últimos 200 anos. Apesar de todas as dificuldades que Obama tem, os números que enviou ao Congresso representam apenas a metade do que o Brasil assumiu para cortar o desmatamento da Amazônia. Se o Brasil pode, os EUA podem fazer muito mais", argumentou.

"Todos terão que apresentar números"

O Brasil se credenciou a jogar um papel mais proeminente em Copenhague ao anunciar, na semana passada, o compromisso voluntário de cortar as suas emissões de gases em 36,1% a 38,9%, até 2020. O número representaria um retorno aos níveis de emissões de 1994.

"Todos terão que apresentar números, o presidente Obama, o presidente Hu Jintao e todos os outros ",insistiu Lula. "Por que você pensa que o Brasil tomou a iniciativa de apresentar números? É para a gente poder cobrar daqueles que passam o tempo inteiro querendo dar lições ao Brasil. O Brasil fez a sua parte e eles têm de fazer a deles", firmou. Na avaliação de Lula, o Brasil assumiu "compromissos excepcionais".

Dilma, esperança "sem berço esplêndido"

A cobrança do Brasil foi coordenada com dirigentes europeus (o britânico Gordon Brown e o francês Nicolas Sarkozy), que também querem uma cúpula que decida sobre o combate ao aquecimento global provocado pelo efeito estufa. A União Europeia (UE), o Japão e outras nações asiáticas também reagiram.

Dilma Rousseff, depois de participar da conferência ministerial preparatória, também na capital dinamarquesa, manifestou a esperança de que a cúpula alcance um acordo. "Mas ter esperança não significa deitar em berço esplêndido", disse Dilma.

Como fator favorável, a ministra citou a perspectiva do comparecimento de Lula, Sarkozy, Brown e outros governantes em Copenhague. "Com a presença deles, é mais fácil um acordo. O grau de liberdade de embaixadores e ministros é mais estreito", comentou.

EUA e China prometem "tratado operacional"

As pressões conjugadas do Brasil e outros países empenhados no sucesso de Copenhague parece ter repercutido em Pequim, onde Obama fez uma primeira visita de Estado. A declaração conjunta sino-americana, assinada por ele e o presidente Hu Jintao, mostra um engajamento mais substantivo com a cúpula, em comparação com as declarações feitas em Singapura no domingo, prevendo apenas um acordo "politicamente vinculante", ou seja, não obrigatório.

"Os dois lados concordaram que a transição para uma economia verde e de baixo consumo de carbono é essencial e que a indústria de energia limpa vai proporcionar o aumento de oportunidades para os cidadãos de ambos os países nos próximos anos", diz a declaração conjunta. Refere-se também a "metas de redução das emissões, por parte dos países desenvolvidos, e ações nacionais adequadas de atenuação, por parte dos países em desenvolvimento".

A distinção atende à compreensão, cara à China e defendida também pelo Brasil, de que o acordo deve se basear "no princípio de responsabilidades compartilhadas mas diferenciadas", conforme o texto assinado por Obama e Hu. O documento também aconselha "uma ajuda financeira às nações em desenvolvimento e ações para a preservação de florestas e de apoio aos países pobres e vulneráveis no processo de adaptação à mudança climática".

Obama, depois da assinatura, falou à imprensa aparentemente com o objetivo de dissipar o ceticismo suscitado em Singapura. "Nosso objetivo não é um acordo parcial ou uma declaração política, mas um tratado que cubra todos os temas que estão em negociação e tenha efeito operacional imediato", disse o presidente americano, em coletiva, ao lado de Hu. "Nós entramos em acordo visando trabalhar pelo sucesso de Copenhague", enfatizou o chefe da Casa Branca.

Da redação, com agências