Abertura de rua para tráfego de ônibus compromete Museu do Piauí

Artistas piauienses amanheceram acorrentados no último dia 12 em frente ao Museu do Piauí (Casa Odilon Nunes). O objetivo era protestar contra a abertura da Rua Areolino de Abreu para o tráfego de ônibus no trecho ao lado da praça da Bandeira

Durante discurso feito em uma reunião ordinária na Câmara de Vereadores de Teresina, João Cláudio, que é um dos maiores artistas piauiense, fez duras críticas a forma como está sendo conduzido o processo de revitalização do centro da cidade, onde está incluso a abertura da Rua Areolino de Abreu e a construção de um shopping pela prefeitura, para onde os camelôs que hoje trabalham no centro serão transferidos.

 
Em meio ao discurso sobre a importância histórica e cultural do Museu, João Cláudio disse em plenário que o tráfego de ônibus naquela rua específica teria sido uma exigência do grupo empresarial que irá fazer executar a obra de revitalização do centro. “Não é crime a prefeitura recorrer à iniciativa privada para um projeto como esse, é até eficaz, é moderno, o que eu sei é que há pressões de todo lado. De um lado a opinião pública representada por pequeno grupo de artistas, intelectuais e jornalistas e grupo de camelos. Do outro lado tecnocratas da prefeitura que pensam com o coração de técnicos, mas a prefeitura tão elogiada por seu corpo técnico não está livre da doença dos anos de eleição, onde os interesses da cidade ficam em segundo plano”, protestou João Cláudio.

Segundo o vereador a construção do shopping da cidade não é uma realidade. “É um projeto no papel e não é nem viável, nem se sabe se dará lucro é um experimento tirar os camelôs da cidade”, fala.

O presidente do Sindicato dos Artistas do Piauí, Willian Tito, argumenta que a liberação da rua para esse tipo de tráfego compromete o Museu. "O prédio do Museu do Piauí talvez seja uma das casas mais antigas de Teresina, é uma construção de adobe e corre sério risco de ruir, sua construção data de dois anos antes da fundação de Teresina e é patrimônio tombado, mas vai sofrer sérios abalos devido à passagem de veículos pesados. E não só o Museu, mas todo aquele sítio histório vai ser prejudicado", descreve Tito.

Sugestão

A proposta apresentada pelo vereador é que a prefeitura de Teresina ofereça mais tempo para que os interessados possam apresentar dados da inviabilidade do tráfego de ônibus em frente ao Museu. “Em todas as cidades que tiveram seus centros revitalizados, tiveram que retirar senão a frota inteira, mas pelo menos 20% daquela frota”, explica. O vereador afirmou que já conversou algumas vezes com o prefeito e que as conversas foram amenas, mas que “quando se encerra a conversa o que é priorizado é a força da grana”.

João Cláudio finalizou seu discurso fazendo uma solicitação de revisão de medidas pelo prefeito Silvio Mendes (PSDB). “Faço um apelo ao prefeito e digo que essa atitude depõe contra a sua gestão e contra o seu partido”, finaliza.
 

Casa Odilon Nunes

O Museu é feito de tijolos de adobe (barro cru) e possui em torno de sete mil peças, entre móveis do período colonial, arte santeira e indumentárias de militares. Segundo Willian Tito, a Fundação Cultural do Piauí – FUNDAC, que administra o Museu, já se manifestou sobre a questão através de documentos. "Mas por ser uma instituição pública, as manifestações são restritas, diferentemente de um sindicato como o nosso que tem liberdade para se pronunciar",observa.

O presidente do sindicato alerta que a emissão de gases de monóxido e dióxido de carbono irá estragar as peças do Museu. "Esses gases são altamente corrosivos, vão destruir especialmente a madeira e os tecidos".

Willian Tito lembra que a decisão da prefeitura vai de encontro às diretrizes do plano diretor de Teresina, agenda 2015, que prevê a revitalização do centro. "Entre outras questões é colocada que os setores envolvidos sejam ouvidos sobre o problema. Os representantes dos amigos do museu e os artistas deveriam estar sentados à mesa discutindo o problema. Isso prova que há dois pesos e duas medidas por parte da administração municipal, enquanto que no plano diretor se prevê toda essa conversa, o prefeito está praticamente impondo sua vontade", protesta.