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Arantes: visita ministerial reforça apoio às buscas no Araguaia

Na última sexta-feira (2), a região sul do Pará foi visitada, pela primeira vez, pelos ministros da Defesa, Nelson Jobim, e dos Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que se juntaram ao grupo de geólogos, legistas, militares e integrantes da comissão interinstitucional que acompanha as expedições dos investigadores nomeados pelo governo federal para localizar e identificar restos mortais de guerrilheiros assassinados na região durante o histórico episódio conhecido como Guerrilha do Araguaia.

Araguaia escavações

A comitê de alto nível, composto de 11 pessoas, inclui notáveis como o ex-procurador-geral da República Cláudio Fonteles, o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Antônio Herman Benjamin e o jornalista Ricardo Kotscho. Eles foram à região lançar a quinta expedição do Grupo de Trabalho Tocantins (GTT), designado pelo governo federal para procurar os restos mortais daqueles que participaram do foco comunista criado há 37 anos, sob o comando do PCdoB, para combater a ditadura militar.

As expectativas sobre o que revelaria o solo em dois locais indicados como possíveis covas foram frustradas: nenhum resto mortal foi encontrado nem na fazenda Bacaba, que serviu como base de operações do exército no combate à guerrilha, nem no igarapé Mutuma, indicado por testemunhas como local de enterro.

Apesar da escavação não ter encontrado vestígios de corpos, o ex-deputado Aldo Arantes, que participa das expedições como observador independente do PCdoB no GTT, considerou a visita dos ministros um fato importante, que mostra o empenho do governo federal nas operações de busca. “Esta visita tem um simbolismo, mostra empenho do governo nas buscas e revela que há uma integração com o comitê que coordena o grupo de trabalho que está participando das operações”, diz o dirigente comunista.

Ao falar para os integrantes da comitiva que participou da visita na sexta-feira, Arantes destacou os aspectos altamente positivos e a competência de todos os setores da equipe que compõem o grupo de trabalho, incluindo a cobertura que a terceira brigada militar tem dado ao trabalho. Porém, o ex-deputado ponderou que é preocupante o fato de até agora não haver nenhum resultado positivo. “Alcançar resultados efetivos é importante não só para a democracia, para os familiares dos mortos e desaparecidos e até para o exército no sentido de restabelecer a verdade e estabelecer uma relação de confiança em relação às forças armadas”, disse Arantes.

Segundo o dirigente do PCdoB, o ministro Paulo Vannuchi, secretário especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, destacou que a visita representava a comprovação do empenho pra valer do governo e que ele acreditava que esta missão tinha um objetivo humanitário e mostrou a crença dele que os resultados serão positivos.

Trabalho continua

Arantes destacou também a fala do ministro Nelson Jobim que disse, durante a visita, “que este trabalho não é feito contra ninguém, é feito a favor da verdade e da memória e da identificação dos corpos dos guerrilheiros”.

Segundo Arantes, Jobim concordou que esta fase inicial das buscas mostrou que há dificuldades que precisam ser superadas. Para isso, o ministro defendeu o aprofundamento das investigações e ressaltou que esta é uma determinação do presidente e do ministério da Defesa e que os trabalhos precisam continuar. “A frustração inicial serve para realinharmos esforços num segundo procedimento. Vamos continuar a pesquisar com todos os métodos juridicamente compatíveis. Não vamos recuar até chegar ao fim do caminho. Os atos futuros não podem ser influenciados pela falta de resultados dos atos anteriores. Ao contrário, devem servir de estímulo”, disse o ministro.

A previsão inicial é que o trabalho terminasse agora em outubro. Ao final do prazo, a Justiça poderá ordenar a prorrogação. O Ministério Público Federal já disse que pedirá a extensão. A ação só deve recomeçar quando acabar o período de chuvas na região, em março de 2010. O governo federal concorda que é necessário prorrogar as operações até o ano que vem.

Aldo Arantes também defende a continuidade das operações de busca e sugeriu que no intervalo entre o final da expedição que termina neste mês e a retomada das operações em 2010 seja feito um trabalho de coleta de informações junto aos militares que participaram da reta final das operações anti-guerrilha. “Aqueles que fizeram a operação limpeza, a ocultação de cadáveres, podem trazer mais elementos para que possamos entender o que aconteceu e orientar melhor as buscas”, afirma Arantes. Ele também propôs que a ouvidoria que atualmente assessora o grupo de trabalho continue funcionando. Aldo Arantes acredita que estas providências ajudarão produzir resultados efetivamente positivos quando as buscas forem retomadas.

Diva Santana –uma das integrantes do comitê que acompanha os trabalhos e que é irmã da guerrilheira Maria Diná – tem a mesma opinião de Arantes. “O esforço tem sido válido, mas é preciso que os militares que participaram da última ação falem, até para que a historia possa ser contada. Que eles digam: ‘queimamos, erramos, não vai acontecer mais’. Cada sepultura que cavam e não acham nada me arrasa”, disse Diva Santana, que mora na Bahia.

Pistas sobre cova de Osvaldão

Até agora, os mais de 60 homens que participam das buscas investigaram 36 alvos em 14 diferentes áreas do sul do Pará. Os locais foram indicados por mateiros, moradores locais e militares que participaram da repressão à guerrilha. No total, foram rastreados aproximadamente 28 mil metros quadrados.

O trabalho de escavação segue um padrão definido pelas equipes de trabalho. Os trabalhos começam com uma cartografia do local. Depois das coordenadas geográficas, é feito um mapeamento do perímetro. Os geólogos fazem o reconhecimento do local com um aparelho chamado GPR (Ground Penetration Radar), que faz uma espécie de escaneamento do terreno abaixo da superfície. Qualquer anomalia é registrada e, a partir delas, os geólogos e antropólogos forenses iniciam os trabalhos visando futuras escavações.

Neste domingo, os trabalhos foram feitos em Xambioá, onde havia a expectativa de encontrar a ossada de Osvaldo Orlando da Costa, o Osvaldão, um dos principais líderes da guerrilha do Araguaia.

A escolha do local das escavações seguiu pistas dadas pelo camponês Josias Gonçalves de Souza, o Jonas, ex-guerrilheiro que, preso, foi obrigado pela repressão a cavar a sepultura de Osvaldão, morto em 1974, em São Geraldo do Araguaia.

De acordo com o ex-vereador Paulo Fonteles Filho, nomeado pelo governo do Pará para integrar o GTT nas expedições de busca aos desaparecidos políticos, o local indicado por Jonas como a cova de Osvaldão está agora demarcado e será periciado ao longo da quinta expedição. Na hipótese de existirem restos mortais, serão exumados para exames laboratoriais capazes de dizer se pertencem ao lendário nome da guerrilha.

O grupo de trabalho conseguiu chegar a Jonas por informações prestadas pela Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, que tem sede em São Domingos do Araguaia. A cova de outro guerrilheiro, o baiano Rosalindo Alves, cujo codinome na selva era Mundico, também foi descoberta e será periciada na próxima semana. Com previsão para durar cinco dias, a quinta expedição dos investigadores federais terá a colaboração do sargento reformado e arrependido do Exército José Vargas Jimenez, conhecido como Chico Dólar, que combateu a guerrilha e hoje mora em Cuiabá (MT).

Confiante no sucesso do GTT e interessado em desvendar os mistérios que ainda envolvem o conflito, o ministro Paulo Vannuchi revelou em Brasília a Paulo Fonteles Filho a intenção de criar em Belém um braço institucional da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. O ministro reconheceu que, como o GTT termina oficialmente o trabalho de campo no próximo dia 31 de outubro, a pasta vai precisar de uma estrutura permanente para continuar pesquisando a guerrilha.

Da redação,
com informações do Diário do Pará