Messias Pontes – Democratização da comunicação deve ser prioritária

É imprescindível que fique muito claro que a informação é um bem público e a comunicação um direito do cidadão.

É muito grande a expectativa com relação ao segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a ter início na próxima segunda-feira 1º . Os quatro primeiros anos foram para arrumar a casa que foi praticamente destruída pelos neoliberais, liderados pelo Coisa Ruim, que levaram a cabo o desmonte do Estado. A bagunça pode ser comparada à fúria de um elefante numa loja de louças.


Arrumada a casa, cabe agora ao presidente Lula corresponder ao anseio dos mais de 58 milhões de brasileiros que repudiaram o neoliberalismo e deram-lhe mais um voto de confiança. Pelo comportamento da mídia grande – o maior partido de oposição desde 1º de janeiro de 2003 – que tudo fez para desmoralizar e derrubar o primeiro governo democrático e popular de nossa história, notadamente nos meses que precederam às eleições de outubro último, a sociedade espera a determinação do presidente Lula de democratizar a comunicação em nosso País, condição sine qua non para que a governabilidade seja assegurada.


É imprescindível que fique muito claro que a informação é um bem público e a comunicação um direito do cidadão. É inadmissível que numa sociedade qualquer apenas nove famílias controlem as principais empresas e meios de comunicação. Ao longo dos anos essas famílias dizem e fazem tudo o que querem, sem o menor controle social. A história está prenhe de exemplos da falta de escrúpulos dessa que, num passado não muito remoto, foi chamada de imprensa marrom.


Não é demais lembrar que em 1954 essa mesma imprensa levou o presidente Getúlio Vargas ao suicídio; em 1965 tentou impedir a eleição e posse do presidente Juscelino Kubitshek e a sua governabilidade; em 1961, com a renúncia de Jânio Quadros, foi porta-voz das forças mais atrasadas para tentar impedir a posse do vice-presidente João Goulart. Não conseguiu, mas em muito contribuiu para o golpe militar de 1º de abril, levando o presidente ao exílio. Foram 21 anos de ditadura militar que infelicitaram a nação brasileira.


É inadmissível, também, que apenas uma rede de televisão, no caso a Globo, seja responsável por mais de 50% da audiência no País. O poderio do conglomerado Globo é tamanho que, por muito pouco, não evitou a vitória de Leonel Brizola ao governo do Rio de Janeiro, em 1982. Junto com a empresa Pró-Consult, armou a maior manipulação do resultado de uma eleição no Brasil. Brizola convocou a imprensa internacional e desmascarou a tramóia.


A Globo armou outra enorme tramóia contra a democracia na edição do último debate entre os presidenciáveis Fernando Collor de Melo e Lula da Silva, em 1989. A manipulação foi tão vergonhosa que depois o próprio Roberto Marinho a reconheceu publicamente e se disse arrependido. Isto depois do impeachment do chamado caçador de marajás. Mais uma manipulação grosseira aconteceu às vésperas das últimas eleições, levando-as para o segundo turno. Baseada na experiência de 1989, quando os seqüestradores do empresário Abílio Diniz foram obrigados pela Polícia a vestir camisetas do Lula e apresentados à exaustão nos seus telejornais, a Globo fez o mesmo com a foto da “montanha” de dinheiro apreendida com os aloprados do PT para comprar o dossiê dos Vedoin contra a candidatura do tucano José Serra, em São Paulo, à véspera das eleições.


Portanto se faz necessário que o novo governo do presidente Lula garanta mídias estatais, públicas e comunitárias que dêem oportunidades alternativas de informação, e que a sociedade exerça sua pressão através do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação.



Messias Pontes é jornalista