Em testamento, Pinochet elogia golpe e se diz “orgulhoso”

O ex-ditador chileno Augusto Pinochet reivindicou, em carta póstuma divulgada neste domingo (24/12), o golpe militar com o qual derrubou o presidente socialista Salvador Allende. No mesmo testamento, Pinochet se declara “orgulhoso” de sua atuação.

Ele  morreu no último dia 10, aos 91 anos, de parada cardíaca, sem ter sido condenado pela Justiça por crimes contra os direitos humanos durante a ditadura de 1973 a 1990, nem pelas milionárias contas secretas. Na carta aos chilenos publicada pelos jornais locais, Pinochet justificou o golpe contra Allende e afirmou que teve que atuar “com o máximo rigor” e de maneira contínua para “evitar a ameaça de uma guerra civil”.


 


Em 1973, diz o ex-ditador, “foi preciso empregar diversos procedimentos de controle militar, como reclusão transitória, exílios autorizados, fuzilamentos com julgamento militar”. Sob sua sangrenta ditadura, cerca de 3 mil pessoas morreram por “razões políticas” e muitos “desapareceram”. Outras 28 mil pessoas sofreram torturas.


 


“Em muitas mortes e nos desaparecimentos de corpos, é muito possível que jamais se consiga um conhecimento total de como ou por que ocorreram”, admite Pinochet, que em seguida justifica o horror: “Os conflitos graves são assim e sempre serão assim: fonte de abusos e exageros”.


 


“Ditamole”
Pinochet escreveu que atuou “com rigor, mas com muito mais flexibilidade do que se reconhece”. Por isso, sempre se referiu ao seu governo não como ditadura, mas, sim, como “ditamole”.


 


“Com toda a sinceridade, declaro estar orgulhoso da enorme ação que tive que realizar para impedir que o marxismo-leninismo alcançasse o poder total, e também para que minha amada pátria fosse uma 'grande nação'”, escreveu. Apesar do orgulho todo, o ex-ditador admite erros de forma sutil: “Mesmo assim, se a experiência se repetisse teria desejado maior sabedoria”.


 


O ex-ditador morreu enquanto se recuperava de um enfarte do miocárdio. Antes de ser internado, ele estava sob prisão domiciliar pelo seqüestro e homicídio de dois opositores pouco depois do golpe militar.