Documento da ditadura que PCB foi acusado de difamar Doi-Codi

Documentos produzidos pelo Centro de Informações do Exército (CIE) em 1975 e inéditos até hoje fazem apologia do trabalho dos integrantes do Doi-Codi, órgão de repressão da ditadura acusado de torturar presos políticos. E mais: acusam o PCB (Partido Comun

Os textos confidenciais – guardados no Arquivo Nacional e aos quais o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso – mostram a irritação dos militares pela campanha “padronizada e orientada pelo PCB, com a finalidade de atingir os principais órgãos de combate à subversão”.


 


Parentes de “conhecidos e perigosos terroristas”, segundo o CIE, tentavam destruir “a imagem positiva” que os agentes do Doi-Codi “conquistaram na opinião pública pelo êxito obtido exatamente nesse combate”.


 


É o que diz o Relatório Periódico de Informações do Ministério do Exército do período de 1º a 31 de março de 1975, guardado no Arquivo Nacional, em Brasília, sob o registro ACE 82027/75:


 


“O heroísmo, a abnegação e desprendimento na dedicação ao serviço de nossa pátria, o sacrifício da própria vida, todos esses aspectos do punhado de abnegados defensores do País que compuseram e compõem esses órgãos são transformados para considerá-los como 'indivíduos bêbados, que não respeitam ninguém, desumanos, algozes, torturadores, sádicos, que ameaçam os familiares indefesos, inclusive filhos menores'”,


 


Armas sutis
Segundo o relatório, os “adversários” agiam de forma articulada para espalhar informações contra a ditadura. “Os políticos contestadores da revolução de 64, travestidos em opositores do atual governo, sob a regência do PCB/MCI (Movimento Comunista Internacional), vêm utilizando-se desse instrumento da guerra psicológica, com real proveito, materializado na mobilização de parcela ponderável da opinião pública”.


 


Esses instrumentos, de acordo com o relatório, não são os mais tradicionais. “As armas utilizadas são, de preferência, o boato, a canção de protesto, a charge humorística, divulgados ora pelos meios legais, ora pelos clandestinos.”


 


O documento também mostra a preocupação do Exército com o novo estilo de ação dos grupos que considerava subversivos. O CIE registra que as principais bandeiras eram anistia geral, revogação do AI-5, restauração do estado de direito, garantia aos direitos da pessoa humana, extinção da censura e solidariedade aos presos políticos.


 


Também aponta “sensível recrudescimento de ações compreendidas no contexto da guerra psicológica”. Diz que isso podia ser observado no Congresso, nos “pronunciamentos de políticos contestadores eleitos na legenda do MDB, calcados no programa mínimo do PCB, em uma orquestração que vem alcançando a mais ampla repercussão em todas as camadas sociais de nossa população”.