O comunista e quase centenário Niemeyer segue na ativa

Aos 99 anos, Oscar Niemeyer continua produzindo. Considerado um dos melhores e mais influentes arquitetos do mundo, recentemente teve mais um projeto seu inaugurado – o Museu Nacional Honestino Guimarães, em Brasília. A proposta levou mais de 40 anos para

Comunista convicto, Niemeyer manteve sua ideologia mesmo com o fim da União Soviética e a abertura ao capitalismo de outros países socialistas. Segundo o líder cubano Fidel Castro, Niemeyer e ele são os últimos comunistas do planeta.


 


Quase centenário, o arquiteto continua surpreendendo. Casou em novembro com Vera Lúcia Cabreira, sua secretária. Para 2007, quando completará 100 anos no dia 15 de dezembro, Niemeyer planeja entregar os planos de um balneário em Potsdam (Alemanha).


 


Niemeyer foi pioneiro na exploração das possibilidades construtivas e plásticas do concreto armado. Formado pela Escola Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro – sua cidade natal – em 1934, começou a trabalhar no escritório de Lúcio Costa. Anos mais tarde, os dois voltariam a trabalhar juntos no planejamento de Brasília. Niemeyer foi encarregado de organizar o concurso para escolha do Plano Piloto da nova capital do país.


 


O projeto foi encomendado pelo presidente Juscelino Kubitschek, que queria transferir a capital do Rio de Janeiro para o interior do Brasil. Costa ficou responsável pelo projeto urbanístico e Niemeyer, pelos edifícios da nova capital. Niemeyer conheceu Juscelino em 1940, quando o ex-presidente era prefeito de Belo Horizonte (MG). O arquiteto, que tinha 33 anos, foi chamado para projetar uma série de prédios na Pampulha.


 


Os prédios foram os primeiros trabalhos individuais de Niemeyer e lhe renderam muita admiração e também muitas críticas. Para se ter uma idéia da encrenca, a Igreja Católica não aceitou benzer a Igreja de São Francisco de Assis, por causa da sua forma arquitetônica não ortodoxa e pelo mural com traços abstratos pintado por Cândido Portinari.


 


Repercussão
Pampulha rendeu projeção internacional a Niemeyer e inaugurou o estilo que marcaria seu trabalho. No conjunto encomendado por Juscelino, o arquiteto utilizou estruturas de concreto armado para dar formas sinuosas aos prédios.


 


Em 1945, com a abertura política, o arquiteto ingressa no Partido Comunista do Brasil (PCB). Em 1990, junto a Luís Carlos Prestes, pede desfiliação do Partidão, por não concordar com a postura da legenda.


 


O fato de ser comunista, aliás, trouxe alguns problemas para Niemeyer. Em 1946, ele foi convidado a dar um curso na Universidade de Yale, nos Estados Unidos, mas teve seu visto de entrada cancelado pelas autoridades norte-americanas. O reconhecimento internacional pesou e, com a permissão de estada, em 1947 foi escolhido para fazer parte da equipe que projetou a sede da Organização das Nações Unidas, em Nova York.


 


A posição esquerdista de Niemeyer acabou fechando as portas para seus projetos durante a ditadura militar no Brasil. Por pressão dos militares, clientes começaram a cancelar encomendas. Em 1966, foi impedido de trabalhar e se exilou em Paris (França).


 


De seu escritório na capital francesa, saem planos para clientes em vários países. Desenha a Universidade de Constantine e a mesquita de Argel, ambos na Argélia. Na França, projeta a sede do Partido Comunista Francês. Na Itália, desenha o prédio da Editora Mondadori. Retorna ao Brasil nos anos 1980, depois da abertura política.


 


Um marxista convicto
Questionado sobre o peso de ser comunista, Niemayer disse certa vez: “Nunca me calei. Nunca escondi minha posição de comunista. Os mais compreensíveis que me convocam como arquiteto sabem da minha posição ideológica. Pensam que sou um equivocado e eu penso a mesma coisa deles. Não permito que ideologia nenhuma interfira em minhas amizades”.


 


Talvez sirva de resposta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que em uma das suas declarações acabou ofendendo Niemeyer. Segundo o presidente, se uma pessoa muito idosa é esquerdista é porque tem problemas.


 


A capital paranaense também tem criações de Niemayer. Em Curitiba, o arquiteto readaptou um antigo projeto de sua autoria e transformou um prédio que abrigava secretárias estaduais num museu, batizado com o nome do arquiteto.


 


Niemeyer sofreu uma queda há pouco tempo. Foi parar no hospital, mas se recuperou bem. O arquiteto teve apenas uma filha, que lhe deu cinco netos, treze bisnetos e quatro trinetos.


 


Fonte: Gazeta do Povo