Memória e verdade em exposição em Salvador

Um ato pelo direito à memória e à verdade atraiu quase duas centenas de convidados ao Goethe-Institut Salvador-Bahia na noite desta terça-feira (12/12). O ato, que contou com a presença do Secretário

A presidente do GTNM-BA, Diva Santana, irmã da guerrilheira Dinaelza Coqueiro morta pelo regime militar, disse que a exposição, elaborada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos e cedida ao “Memorial da Anistia na Bahia”, só foi possível depois que alguns arquivos foram abertos e resgatados, conseguindo revelar imagens marcantes da história do Brasil. “Fico emocionada ao ver a contribuição que cada um pode dar para que as coisas aconteçam. Nós não estamos sozinhos. Eu vi pessoas chegando aqui com lágrimas nos olhos porque se viam naquelas fotos. Temos a certeza de que a luta pela memória e pela verdade é de todos nós brasileiros e esta luta não acabou”.



 


O projeto “Memorial da Anistia na Bahia” é financiado pelo Ministério da Cultura e prevê, além da exposição, a exibição de filmes, palestras e uma publicação que será lançada no início de 2007 com a reprodução de documentos e depoimentos sobre episódios que marcaram para sempre a vida dos que corajosamente decidiram se opor ao regime militar na Bahia.



 


Ana Guedes, coordenadora do projeto, explica que em vários anos de militância, foi possível reunir um expressivo acervo dessa história de luta. “Ficamos muito tempo com o material na mão e sabíamos que esta seria uma importante contribuição ao resgate da memória e uma forma de tornar essas informações conhecidas pelas novas gerações. Nossos livros escolares não conseguem ainda traduzir o que foi este período da história”, avalia a coordenadora.



 


Em seu discurso, o ministro Paulo Vannucci destacou que a importância da exposição está em reiterar a necessidade do Estado reconhecer, nos termos da lei, a responsabilidade sobre as mortes e desaparecimentos. “É preciso que se faça a reparação financeira e a reparação histórico e política com a afirmação formal de que eles não morreram como terroristas, bandidos, subversivos, agentes de movimentos estrangeiros, e muito menos morreram em suicídios ou atropelamentos em fraudulentas tentativas de fuga. Morreram sob tortura e como lutadores da liberdade”, afirmou.



 


Ainda segundo o ministro, “estamos aqui, vários representantes do governo e da sociedade civil, para dizermos não a esta solução do esquecimento. Virada de página sim, quando tivermos todos os aspectos esclarecidos, com o reconhecimento das responsabilidades e sabendo onde estão os restos mortais para assegurar às famílias o seu sagrado e milenar direito a um enterro, num lugar onde seja possível levar flores e estar perto da saudade. Estamos trabalhando para romper as resistências que ainda existem e a partir de exposições como essa, queremos que a pressão social obrigue a todos os que resistem a apresentar as informações, que compreendam que o nosso país não terá uma democracia sólida se não souber virar essa página.”



 


Entre vários deputados e autoridades presentes ao evento, uma convidada especial. Em entrevista ao Vermelho, a futura Secretária de Justiça e Direitos Humanos do Governo da Bahia, Marília Muricy, comentou que “o direito à memória é a uma dimensão da luta dos direitos humanos que não podemos ignorar. Devemos emprestar a nossa parceria e o nosso compromisso absoluto com esta causa”. Sobre o desafio que a aguarda a frente da pasta, a futura secretária disse que a Bahia vive uma situação particularmente grave no que diz respeito aos Direitos Humanos. “Há muito o que fazer. Infelizmente, este é um estado que ainda não alcançou os níveis de mínima igualdade que uma sociedade democrática postula”, afirmou.


 


 


Memória fotográfica


A exposição fotográfica que marca os 27 anos da Anistia no Brasil traz imagens capazes de emocionar os militantes ou parentes daqueles que viveram o terror da ditadura militar e ainda lutam para esclarecer as barbáries cometidas pelo regime de exceção e chama a atenção de jovens ávidos por conhecer um pouco mais sobre os anos de chumbo.


 


Numa viagem ao passado, a mostra recupera a memória do golpe militar que promoveu no Brasil exílios políticos, supressão dos direitos civis, censura, torturas e assassinatos. Os tanques na frente do Congresso Nacional, as passeatas estudantis, as prisões e mortes a que foram submetidos os opositores do regime podem ser vistas em painéis de um metro e meio de altura.


 


A estudante de jornalismo Márcia Vasconcelos, de 20 anos, disse que “estar em contato com esta parte da história nos obriga a não se omitir diante da luta pelos direitos humanos. A maioria dos jovens que conhece isso aqui ou são filhos de pessoas que lutaram na época ou tem apenas a informação passada na escola. Acho que essas iniciativas abrem os nossos olhos”.


 


De Salvador,
Inamara Mélo