Antonio Abujamra e Ferréz dão início à Bienal da UEE-SP

Por Rafael Minoro (Estudantenet)


Maior festival universitário de São Paulo, a 3ª Bienal de Cultura da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) deu inicio na sexta-feira (8/12) a uma série de atividades culturais que vão se e

Dois “provocadores” foram o destaque da programação no primeiro dia. Um deles, o dramaturgo Antonio Abujamra, tem até um programa televisivo que leva este nome. Já o outro, o escritor Ferréz, não faz as pompas de querer tal título, mas gosta de cutucar a onça com vara curta, como se diz no linguajar popularesco.


 


Abujamra abriu a programação da Bienal com uma espécie de aula pública. No charmoso auditório Cláudio Santoro, ele provocou os estudantes, a religião, a ditadura, a televisão… Sobrou até mesmo para o escritor Paulo Coelho. O dramaturgo mostrou vídeos de seu programa, leu trechos de obras clássicas da literatura mundial (sempre dizendo que sabia que ninguém na platéia conheceria), fez piadas sarcásticas e soltou alguns palavrões.


 


Com a bagagem de quem já dirigiu quase todos os grandes atores brasileiros, em pouco mais de 127 peças, Abujamra com seus mil e um casos deu esclarecedora aula de história da arte. Com fama de rabujento, ele se mostrou bastante humorado – mas não deixou de lado a veia provocadora. Disse que, desde sua época, não há uma “geração” do teatro brasileiro. Falou que considera os jovens de hoje muito passivos e criticou o formato que a televisão impõe aos seus telespectadores.


 


Escritor da favela?
Em outro espaço da Bienal, numa salinha do Preventório Santa Clara, Ferréz também provocava. Autor de seis livros, dono de uma recém-fundada gravadora e colaborador de roteiros para cinema e televisão, ele criticou por diversas vezes a mídia e a criação de rótulos para os produtos culturais da periferia. “Quando começaram a se interessar por meus livros, eu era 'Ferréz, o escritor da favela'”, contou. “Aí eles iam lá em casa para as fotos – e o cara sempre queria eu com a favela atrás. Por que não com a minha biblioteca?”


 


Ferréz criticou também o seriado Antônia e o documentário Falcão – Meninos do Tráfico. Para ele, Antônia peca no roteiro, e o filme no contexto. “O cara rodou o país inteiro e só pegou desgraça. Pegou lá alguns moleques que, claro, por diversos fatores se deram mal, morreram. Mas eu conheço uns 3 mil que estão tentando e fazendo várias coisas legais. Eu filmaria as coisas boas que tem na favela. Mas isso a Globo não quer passar, né?”


 


Sobre educação, ambos convergem suas idéias: no Brasil, não se aprende nada na escola, dizem os dois, cada a um à sua maneira. Abujamra lamentou a forma como a educação é tratada no País e disse que falta mais conhecimento sobre Shakespeare, Tolstoi e outros nomes do teatro e da literatura. Para Ferréz, a escola não ensina arte e cultura de uma maneira que consiga instigar no jovem formas criativas de aprendizado e ensinamento.


 


Muito forró
No primeiro dia da Bienal, aos poucos os ônibus das caravanas ocupavam as simpáticas ruelas de Campos do Jordão. Nas placas, Bauru, Campinas, Guarulhos, Andradina, São José do Rio Preto, Taubaté e muitas outras cidades, representando a diversidade do povo paulistano.


 


À noite, os mais de 400 estudantes que estão em Campos de Jordão arrastaram os pés ao som do forró da banda Peixelétrico. Para finalizar o primeiro dia, o grupo Saci Crioulo embalou os universitários com o seu “caipira-pop”.