Em show no Paraguai, Calle 13 pergunta: “Que Pasó en Curuguaty”

Em show realizado em Assunção, Paraguai, no último sábado (8), a banda porto-riquenha Calle 13 usou camisetas com a frase “Calle 13 pregunta que pasó em Curuguaty” (Calle 13 pergunta o que aconteceu em Curuguaty?, em tradução livre). Conhecidos por usarem não só os shows, mas outros espaços públicos, para levantar questões pertinentes ao povo latino americano, a banda mais uma vez mostrou seu comprometimento com os movimentos sociais da América Latina.

Por Mariana Serafini, do Portal Vermelho

Calle 13 - Que Pasó en Curuguaty - Mónica Omayra

Uma semana antes do show os militantes paraguaios que lutam para esclarecer o Massacre de Curuguaty (emboscada que matou 11 camponeses e seis policiais em 15 de junho de 2012 e serviu de pretexto para o Golpe Parlamentar contra o então presidente Fernando Lugo) utilizaram a mesma estratégia da banda, de “infiltrar” informações na internet, e produziram um vídeo pedindo para que os integrantes do Calle 13 fossem solidários com as vítimas de Curuguaty.

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O material teve grande audiência na internet e os militantes atingiram o objetivo, o vocalista da banda, Residente Calle 13, postou o vídeo em sua conta pessoal no Twitter e aceitou fazer o show usando a camiseta. Esta ação aumenta a visibilidade da luta camponesa no país que desde as eleições presidenciais em 2013 vem perdendo espaço na imprensa internacional.

Durante o show o público gritava a palavra de ordem “Que pasó em Curuguaty?”, René Pérez deu espaço para que o grito ecoasse e afirmou “todos queremos uma resposta!”. Em seguida fez um discurso sobre a violência na América Latina, uma espécie de desabafo. “Há demasiada violência em todos os países, a maioria dos meus amigos de infância de Porto Rico estão mortos devido à violência de uma bala! Meus melhores amigos, mortos! Isso precisa acabar, aqui no Paraguai, em Porto Rico, a guerra que se planeja na Venezuela, isso precisa acabar em todos os países”.

Depois o grupo cantou uma música de seu penúltimo disco, Entre los que quieram, lançado em 2010, chamada La bala. A letra fala sobre a violência cometida contra os povos da América Latina. Convictos da guerrilha promovida através das palavras, Calle 13 defende a paz e a difusão da informação livre. “Antes de usar balas, disparo com palavras”, diz um trecho da música. O último disco da banda é praticamente todo voltado para essa temática, desde o título, “MultiViral”, que também é o nome da principal música de divulgação, composta em parceria com o editor do Wikileaks, Julian Assange e com a cantora palestina Kamilya Jubran.

Em outro momento do show o vocalista convidou ao palco Leonardo González, líder indígena da comunidade Sawhoyamaxa, que exige a restituição das terras indígenas na região do Chaco paraguaio. Gonzáles falou sobre a luta dos índios no Paraguai por dignidade, terra e condições dignas de vida e presenteou René com uma camiseta escrita “Sawhoyamaxa, es tiempo”. O líder Calle 13 vestiu imediatamente a roupa e encerrou a primeira parte do show com a música mais conhecida, Latinoamerica.


Líder indígena Leonardo González fala sobre a questão da terra no Chaco Paraguaio/ Foto: Mónica Omayra

Greve de fome dos presos políticos de Curuguaty

Nesta segunda-feira (10), cinco dos 12 presos políticos do Massacre de Curuguaty completam 25 dias de greve de fome. Eles estão presos sem provas e irão a julgamento sem ter absolutamente nada que possa comprovar a participação deles na morte dos seis policiais. O protesto através da greve de fome exige que Marina Kue, terra onde aconteceu o massacre, seja destinada à reforma agrária.

Em coletiva de imprensa um dos camponeses presos afirmou que a resistência continuará enquanto for necessário. No sábado (8), um dos líderes de Curuguaty, Rubem Vilalba, sofreu um desmaio devido ao longo período sem ingerir nenhum tipo de alimento.

Uma comissão composta por familiares e amigos das vítimas de Curuguaty, além de advogados, militantes dos Direitos Humanos e políticos, se reuniu nesta segunda-feira (10) com o presidente da Corte Suprema de Justiça do Paraguai, Raúl Torres Kirmser para pedir agilidade no processo. O magistrado se comprometeu em tentar atender aos pedidos e responsabilizou a Corte pela vida dos camponeses em greve de fome. Os familiares e movimentos sociais organizados vão instalar um acampamento de resistência na capital paraguaia para uma vigília por justiça, terra e liberdade.