Todo dia nascem pessoas. Todo dia morrem pessoas.

São fatos da vida nascer e morrer, começar um percurso e ter ele terminado. Mesmo quando temos dificuldades em aceitar, são fatos da vida.

No último dia 8 faleceu seu Moacir. Para quem é do Rio de Janeiro e conheceu aquela senhora simpática e baixinha, que por muitos anos trabalhou na limpeza da sede estadual, a Dona Maria, seu Moacir era o marido dela. O enterro foi na terça à tarde. A missa de sétimo dia será neste domingo.

É muito triste quando morre alguém de quem a gente gosta, mesmo quando ele já tem muita idade e/ou já estava adoecido, como foi o caso. "A morte é natural na natureza.", escreveu Jorge de Sena. "Não foi para morrer que nós nascemos", "Nós somos o que nega a natureza", todos versos do poema "A morte o espaço a eternidade" do volume Metamorfoses, 1963.

Este é um casal de trabalhadores, negros, que criaram seus filhos e filhas com muita dificuldade, mas sem amargura. Formaram o que eu apelidei de "clã vó Béia", porque esse é o modo como a Dona Maria é conhecida por aqui, e todos os seus filhos e netos são facilmente reconhecidos por um traço comum na aparência, em geral uns rostinhos bochechudos e um formato dos olhos. Minha menina foi acolhida, ainda bebê, como membro do clã, algo que me deixa muito feliz, porque é uma família com valores.

Morreu um trabalhador, um homem bom, um bom pai e marido, mas é preciso consolar quem fica. É isto o que fazemos quando temos cuidados para o velório, o enterro, não importando em que religião ou por qual tradição fazemos isso. É importante lembrar aos que ficam que não podemos impedir a morte, mas que ficamos com as lembranças e lições daqueles que viveram antes antes de nós, ou que sendo da nossa idade, se foram antes de nós. E sentirmos sua falta é mais um sinal de sua importância, de seu valor.

É triste enterrar quem amamos, mas é importante para aceitarmos que ele se foi. Não deixamos de amar por causa disso, só mudamos de convivência. Agora não mais com ele, mas com os filhos, os netos e a Dona Maria. E parte dele vive no que ensinou aos seus.

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