Greve na França – luta de classe contra o neoliberalismo

Em protesto contra reformas neoliberais ontem, dia 7, uma onda grevista gigante convocada pelas centrais sindicais varreu a França. Ela mobilizou 220 manifestações em todo o país; a maior foi em Paris, envolvendo 270 mil pessoas (mais de 10% da população da cidade, de 2,2 milhões de pessoas).

No total, o protesto envolveu 2,5 milhões de trabalhadores (um número enorme para os padrões franceses: significa um em cada 26 habitantes do país, cuja população é de 65 milhões) se mobilizaram contra a corrupção, a política migratória e, principalmente, a draconiana reforma da previdência social defendida pelo governo de Nicolas Sarkozy. A greve atingiu principalmente as áreas de educação, transporte e serviços públicos.

Um dos alvos dos protestos é o ministro do Trabalho, Eric Woerth (que, até 2010, foi ministro do Orçamento). Ele é o principal formulador do projeto neoliberal de reforma da previdência, que penaliza os trabalhadores. Woerth é acusado de tráfico de influência, peculato, financiamento ilegal de campanhas políticas e fraude fiscal. Em troca de emprego para sua esposa, ele teria articulado um esquema de fraude fiscal em benefício de Liliane Bettencourt, que é dona da maior fortuna na França, e a 17ª mais rica do mundo. Os manifestantes querem que ele seja afastado do governo.

Outro alvo é a política migratória. No mês passado, o governo de Sarkozy endureceu a perseguição contra os ciganos e, a pretexto de combater a violência e a criminalidade, expulsou centenas deles do país, provocando uma onda de indignação internacional envolvendo especialistas da ONU, do Vaticano, o Comissariado de Justiça e Direitos Fundamentais da União Européia e a Comissão Europeia contra o Racismo e a Intolerância. Todos os grupos parlamentares europeus condenaram essa política que, agora, ganha a oposição das ruas. Apenas o Partido Popular Europeu, da direita, apoiou Sarkozy.

O alvo principal da resistência é a pretensão do governo francês de elevar a idade mínima para aposentadoria de 60 para 62 anos. Os trabalhadores não aceitam pagar pela crise. E recusam também as medidas com as quais Sarkozy tenta amenizar a reforma e torná-la aceitável para as centrais sindicais. Uma delas mantém a aposentadoria aos 60 anos para trabalhadores que tenham pelo menos 10% de incapacidade para o trabalho (a proposta original estabelecia um mínimo de 20%); estes casos, entretanto, precisarão ser aprovados por uma comissão especial, caso a reforma da previdência seja mesmo implantada. Este é um ajuste insuficiente para as centrais: o dirigente sindical Jean-Claude Mailly declarou que a flexibilização proposta pelo governo não será aceita pelos trabalhadores e que a reforma precisa ser totalmente refeita.

A grande manifestação francesa do dia 7 foi mais uma etapa na luta dos trabalhadores europeus contra a tentativa de jogar sobre seus ombros o custo da crise econômica. Houve protestos também na Inglaterra, onde os ferroviários paralisaram o trabalho na terça-feira; o próximo final de semana marcará o início de uma nova onda de greves e manifestações na Grécia; e há uma paralisação em toda a Europa prevista para o dia 29 de setembro.

Através de agências como o FMI e o Banco Mundial, o grande capital mantém os governos europeus reféns de enormes déficits gerados devido ao endividamento dos últimos anos e exige reformas que sacrificam os trabalhadores para garantir o pagamento dos juros.

Os grandes financistas alegam que é uma questão técnica: o aumento da expectativa de vida significa que as pessoas viverão mais e por isso a idade de aposentadoria deve ser aumentada. Os trabalhadores não vêem desta forma pois os ganhos de produtividade aumentam a riqueza que geram, permitindo a redução do tempo de trabalho, seja pela adoção de jornadas diárias menores, seja pelo tempo de aposentadoria.

A solução desta questão não está nas planilhas dos técnicos, mas na luta que ocupa as ruas do velho continente – a velha luta de classes em torno da redução do tempo de trabalho e da distribuição da riqueza gerada pelos trabalhadores.