Foro de São Paulo, sempre à esquerda

Em muitos aspectos foi emblemática a realização do 16º Encontro do Foro de São Paulo entre os dias 17 e 21 de agosto, em Buenos Aires, Argentina.

Primeiramente, pela celebração do 20º aniversário e a evocação do seu significado. O Foro de São Paulo surgiu num momento de triunfalismo do imperialismo agressivo, sob a égide dos Estados Unidos, e do neoliberalismo, conjunto de políticas do sistema capitalista, quando chegavam a níveis inimagináveis a concentração, a centralização e a transnacionalização do capital, fenômenos vistos e previstos por Lênin no início do século 20.

Ao neoliberalismo corresponderam e ainda correspondem medidas econômicas lesivas aos interesses nacionais e populares, de indeléveis conseqüências.

Surgiu o Foro de São Paulo também num momento de derrota, dispersão e renegação de valores na esquerda latino-americana e mundial. Tempo em que se quebravam espelhos e rasgavam bandeiras, símbolos e carteiras de identidade, estatutos, programas e ideais. Tempos assaz difíceis.

Desse modo, independentemente de quaisquer motivações e intenções, o Foro de São Paulo surgiu como movimento de resistência e luta, com caráter definido – anti-imperialista e anti-neoliberal, como força de esquerda, portanto. Sendo assim, anticapitalista, pró socialista.

Por incrível que pareça, sem se proclamar uma Internacional, o Foro de São Paulo, mesmo sem o saber, recolheu o que de melhor havia na formulação de um dos maiores dirigentes da Internacional Comunista, a Terceira – George Dimitrov – , pregoeiro da unidade entre as forças revolucionárias, antifascistas, antiimperialistas. Isto, a despeito de os eternos trotsquitas terem pretendido que ali, no Hotel Danúbio, São Paulo, em julho de 1990, surgia algo parecido aos seus devaneios.

É este o grande valor do Foro de São Paulo – a defesa da unidade, através da construção de um instrumento viável de concertação política baseada numa plataforma comum de forças de esquerda – neste conceito incluídos comunistas, socialistas, patriotas, nacionalistas-populares e muitas outras correntes libertadoras dos povos e das nações na América Latina.
 
A seu tempo e na justa medida, os comunistas, em honesta atitude autocrítica, não se recusaram a apoiar e impulsionar a novel coordenação nascente.

Um novo e progressivo valor se impôs ao longo das duas décadas do Foro de São Paulo. Com base no provado método da elaboração frentista e coletiva, essa coordenação das forças de esquerda da América Latina e Caribe foi capaz de fazer análises e formular programas com conteúdo anti-neoliberal, antiimperialista e até mesmo anti-capitalista.

Viu, com clarividência e mundivisão revolucionária, que as conquistas nacionais, democráticas, populares, poderão ser alcançadas se as esquerdas forem capazes de se unir e fazer as necessárias demarcações programáticas com o falso nacionalismo da burguesia monopolista, do capital financeiro, do agro-negócio e dos meios de comunicação.

A Esquerda percebeu a emergência de um novo tipo de integração, em que o desenvolvimentismo é a qualidade das opções populares, estas substantivas, e do rumo socialista.
 
O Foro também  foi sábio ao reafirmar a plena soberania nacional, aquilo que os próceres chamavam e os comandantes revolucionários da atualidade confirmam como a Nossa (Nuestra) América.

Ao completar 20 anos, maduro, o Foro de São Paulo deixa uma mensagem de luta contra os inimigos históricos das esquerdas – o imperialismo estadunidense e as classes dominantes internas.