Um novo ministério para derrotar os golpistas e avançar

Quando se fala em conjuntura política é comum o uso da expressão “retrato do momento”.

O “retrato” que o Brasil pôde ver na semana passada favorece a democracia e a normalidade institucional e revela dificuldades para a direita golpista.

Nesta segunda-feira (5), a presidenta Dilma Rousseff deu posse aos novos ministros e colocou em prática a anunciada ampla reforma de seu governo, fortalecendo seu caráter de coalizão.

O outro aspecto da figura política em curso foi a grande manifestação do sábado (3) a favor da normalidade democrática e institucional, contra a ameaça golpista da direita e em protesto contra as medidas do ajuste fiscal.

Dilma Rousseff mostrou a disposição de “cortar na carne”, outro lugar comum inevitável para descrever a ação da presidenta que reduziu o número de ministérios, de funcionários comissionados e os salários dela própria e do primeiro escalão do governo.

Estas decisões compõem a parte visível do movimento feito pela presidenta. Num sentido mais profundo, sua ação pode significar um arranjo significativo na conjuntura atual, favorecendo a opção desenvolvimentista, e que pode ter em seu alvo o rentismo e a especulação financeira.

O crescimento em importância do PMDB – juntamente com os demais partidos da base aliada – dá musculatura ao governo para enfrentar as investidas da direita neoliberal.

Os choques políticos dos últimos meses tornaram cada vez mais visível a forte contradição que opõe desenvolvimentistas aos poderosos interesses da especulação financeira.

A luta política que ocorre sob Dilma Rousseff, acirrada em 2014 e nos primeiros meses de seu segundo mandato, tem em seus fundamentos – oculta sob as alegações costumeiras de “moralidade” sempre usadas pela direita antidesenvolvimentista – a oposição visceral entre aqueles que têm interesse no desenvolvimento nacional, contra aqueles que defendem um governo que favoreça o rentismo e a especulação.

Ao fortalecer a aliança entre PT e PMDB, partido de setores da burguesia desenvolvimentista, Dilma Rousseff busca recompor a base parlamentar do governo e criar as condições para fortalecer o programa de mudanças defendido durante a campanha eleitoral de 2014.

Busca também isolar os rentistas e a especulação financeira, representados sobretudo pelo partido que, hoje, lidera a direita brasileira, o PSDB.

Nas ruas ocorreu, no sábado (3), o Dia de Mobilização Nacional em Defesa da Democracia, da Petrobras e contra o Ajuste Fiscal.

Brasil afora, milhares de militantes, convocados pela Frente Brasil Popular e por entidades como CTB, CUT, UNE e inúmeras outras que lideram o movimento social, saíram em defesa da legalidade e de mais mudanças sociais, políticas e econômicas.

São movimentos complementares e que mutuamente se fortalecem – o movimento do governo e a ação nas ruas.

Figurões da direita de imediato passaram recibo das novas dificuldades que enfrentam; aludiram aos novos obstáculos que aqueles movimentos podem significar para os sonhos golpistas.

Uma notória comentarista logo acusou, na mídia patronal, o ex-presidente Lula de voltar ao Palácio do Planalto. Revelou assim a pretensão de impor à presidenta Dilma Rousseff a escolha de conselheiros que a mídia patronal aprove.

O chefão neoliberal, Fernando Henrique Cardoso, registrou o fortalecimento de Dilma (“ela ganhou uma sobrevida”, disse) e reconheceu aquilo que causa arrepios nos conservadores: a necessidade de novos impostos para fortalecer o caixa do governo (ele não disse, mas pode-se adivinhar que se referia à CPMF, que os ricos condenam de maneira generalizada).

Ao recompor a base aliada, disse Renato Rabelo, ex-presidente do PCdoB, Dilma Rousseff criou as condições para o maior diálogo levando em conta a correlação de forças na Câmara e no Senado.

A direita sentiu o golpe, como indicou a reação de figurões destacados. Reagiram justamente contra o fortalecimento da aliança que reelegeu a presidenta.

Afinal o grande cavalo de batalha da direita vinha sendo a tentativa de dividir o PMDB para afastá-lo da coalizão governamental. Não faltaram acenos na mídia dominante no sentido de um eventual – e sonhado pela direita – governo dirigido por Michel Temer, mas sob hegemonia neoliberal. Como foi, há mais de 60 anos, o governo de Café Filho, que herdou a vaga aberta pela morte de Getúlio Vargas, em 1954, mas sob controle absoluto da direita neoliberal.

A direita, lembra Renato Rabelo, tentou comprometer o PMDB com a conspiração golpista. O discurso da direita foi o mesmo de décadas atrás, e que Renato Rabelo chamou, com ironia, de “moralismo de araque”.

A luta política – que é expressão da “luta de classes” – exige que seus protagonistas tenham clareza das tarefas colocadas em cada momento.

Para os trabalhadores, o povo e os empresários da produção, a grande tarefa hoje é fortalecer as forças políticas e sociais que buscam o desenvolvimento, e derrotar os partidários do atraso que pretendem impor ao país a paralisia neoliberal para satisfazer a ganância rentista e especulativa.

Desenvolvimento e fortalecimento da renda e do trabalho, versus ganhos especulativos dos setores rentistas – este é o grande desafio em curso no Brasil e, como as ruas demonstraram no último sábado, o povo está atento!