Enfrentar os golpistas, apoiar a presidenta

Vivemos uma situação de emergência, marcada pela ameaça permanente de um golpe no Brasil. Como já aconteceu em outros momentos da história do país, as elites mais retrógradas armam a derrubada de um governo democrático e popular eleito pelo povo.

Diante da situação de grave dificuldade, cumpre olhar para a história do país e da América Latina, cheia de lições sobre momentos parecidos com o atual. Nesses episódios, quantas vezes a esquerda não demonstrou incompreensão sobre a necessidade de concentrar esforços em evitar o golpe?

Alguns setores bem-intencionados da esquerda brasileira imaginam que, diante das dificuldades do quadro político, o melhor é preservar uma suposta “pureza do projeto” em detrimento de sustentar o governo contra o golpe. Ou acalentam a esperança de que, se o governo cair, a esquerda poderá voltar logo ao poder, já que um governo da direita a desmascararia. Essas são ilusões perigosas que não resistem a um exame mais detido da situação.

A eventual derrubada da presidenta da República seria uma das mais importantes derrotas da esquerda na história do Brasil e da América Latina. Diante de um revés dessa monta, estariam armadas as condições para a implantação no país de uma nova rodada do programa neoliberal, ainda mais violenta, antinacional e antipopular do que a feita por Fernando Henrique. Este programa implicaria, como demonstrou esse Portal em especial recente, uma onda de ataques sem precedentes contra o Brasil e os trabalhadores.

Note-se que esse programa de horrores não é uma suposição nem uma previsão política sobre o futuro. Ele foi assumido publicamente por tucanos de alta plumagem como Armínio Fraga, o ministro escolhido e anunciado por Aécio na campanha passada, Elena Landau, a responsável pelo plano de privatização do governo de FHC, e Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central. A oposição quer o poder para vender a Petrobras, o Banco do Brasil, os Correios, a Caixa Econômica Federal e o que mais restou da privataria tucana. Querem, conforme já assumiu Armínio Fraga, revisar mais uma vez a Constituição, para liquidar de forma definitiva com qualquer tipo de papel do Estado na economia e de garantia para os trabalhadores.

Se durante o governo de Fernando Henrique a esquerda conseguiu impor barreiras que reduziram os danos da ofensiva, diante da derrota que adviria de um golpe, as condições para a resistência seriam muito piores. O mais provável é que o governo resultante tivesse, para ficarmos em um exemplo, a maioria qualificada que possibilitaria o desmonte da Constituição.

A atual crise do capitalismo tem construído novos modelos de dominação pelo mundo, inclusive nos países do centro do sistema. Este passa por uma inédita precarização do trabalho, com a revogação de conquistas históricas dos trabalhadores, e chega ao desmonte dos instrumentos mais básicos da democracia parlamentar burguesa. Em alguns países, as eleições e o sistema partidário se tornaram meras ficções, já que as forças do capitalismo financeiro, tecnocráticas e supranacionais têm sido as determinantes nos pleitos. Esse será o caminho para o Brasil em caso de golpe: ultraexploração do trabalho, fim de direitos, liquidação do patrimônio público e desmonte dos mecanismos democráticos que possibilitem uma nova ascensão da esquerda ao poder.

Dessa maneira é preciso olhar a realidade como ela é, e não como gostaríamos que fosse. Qualquer tática que não tenha como centro fortalecer a presidenta da República é falsa e contribuirá com o golpe, ainda que de forma inconsciente.

Nesse sentido, a agenda apresentada pela presidenta Dilma precisa ser vitoriosa no Congresso Nacional. A ampliação das conquistas, os avanços no sentido do desenvolvimento nacional com distribuição de renda e valorização do trabalho, passam pelo fortalecimento do governo e o primeiro passo para tanto é a retomada da maioria no Congresso Nacional.

Nesse sentido, foi correto o esforço feito pela mandatária de recompor a base através da reforma ministerial anunciada nesta sexta-feira (2). Consolidada essa nova maioria, cumpre ao governo conduzir esforços no sentido da retomada do desenvolvimento, único caminho capaz de assegurar e ampliar as conquistas sociais auferidas nos últimos anos.