Ofensiva conservadora: O pai-nosso e a agressão aos estudantes 

Na quarta-feira, 10 de junho, a Câmara dos deputados presenciou momentos patéticos e dramáticos, ambos retratos fiéis do atual cenário político.

Parlamentares da denominada bancada evangélica interromperam a votação da reforma política, paralisaram os trabalhos na marra, tudo para exibir o habitual proselitismo raivoso contra os gays, as feministas e a esquerda. Rezaram, inclusive, o pai-nosso, buscando instrumentalizar o sentimento religioso da maioria do povo brasileiro, mas na verdade traindo a Constituição laica da República Federativa do Brasil, Constituição esta que eles, quando assumiram o mandato, juraram respeitar.

Tudo aconteceu sob o olhar benevolente, para não dizer cúmplice, do presidente da casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Enquanto isso, na reunião da comissão especial que analisa a PEC da redução da maioridade penal para 16 anos, estudantes, que se manifestavam pacificamente contra a proposta, foram atacados por seguranças e deputados fascistas, inclusive com gás de pimenta.

Os dois acontecimentos revelam a verdadeira face de conhecidos oportunistas que usam a fé como moeda eleitoral e fazem, na verdade, um discurso religioso hipócrita, que quase nada tem de genuíno, e que serve apenas para manipular e enganar incautos.

Não são religiosos, pois existem religiosos dos mais diversos matizes ideológicos. São, isso sim, militantes políticos direitistas a serviço de uma prédica reacionária cada vez mais histérica e agressiva.

E a reação, durante toda a história das lutas sociais, brandiu sempre um porrete na mão quando tem que lidar com as reivindicações populares.

Foi assim no período das privatizações, durante os anos 1990, quando o patrimônio público era entregue a preço de banana, em negociatas nunca investigadas.

O povo, por todo o país, fazia grandes manifestações contra a privataria, a corrupção e por melhores condições de vida. A repressão era dura. Centenas de pessoas saiam feridas e milhares iam presas.

No entanto, na época, três eram as diferenças fundamentais. Quando a direita estava no poder, convocações de manifestações populares jamais saiam na mídia. A contagem da polícia era sempre para menos. Duzentos mil manifestantes eram reduzidos na estatística dos jornais e da polícia para 20 mil, e até dois mil. E por fim, a repressão era invariavelmente escondida ou minimizada.

Para a direita, o tempo não passa, e a repressão aos estudantes nesta última quarta-feira (10) é uma prova viva disso.

A velha truculência de novo entrou em ação. A velha mídia de novo escondeu as chocantes cenas dos jovens sendo agredidos.

A direita pode interromper os trabalhos legislativos e pisotear a Constituição laica, os estudantes não podem sequer se manifestar.

E isto acontece com a direita fora do poder central e voltar ao poder é tudo que ela deseja para inaugurar uma nova idade das trevas para os brasileiros.

Mas o exemplo dos militantes da UNE, da UBES e da UJS, que não se intimidaram ante o arreganho dos gorilas, há de frutificar.

O fascismo é uma besta-fera que avança quando sente o cheiro do medo e recua ante a luta do povo.

Luta do povo que é a única força capaz de salvar e fortalecer a democracia.

Com o adiamento da votação da redução da maioridade penal conquistada na tarde do dia 10 de junho, os estudantes recordaram a todos esta antiga e valiosa verdade.