“A integração é nossa bandeira antiimperialista”

Uma gigantesca bandeira com esta inscrição fazia parte do cenário de um dos atos públicos realizados em Córdoba, na Argentina, durante a 30ª. Reunião de Cúpula do Mercosul, encerrada no dia 21 de julho último, com a presença dos presidentes do Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai, Venezuela, Chile, Bolívia e Cuba.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, na ocasião, a coordenação semestral do bloco econômico sul-americano, animado com a consolidação da união ''da Terra do Fogo ao Caribe'', alcançada com o ingresso pleno da Venezuela. Lula mostrou-se disposto a trabalhar pela agregação da Bolívia, Cuba e México, comprometendo-se também a lutar por uma institucionalização maior do bloco, com a instalação de seu Parlamento até o final deste ano.


Inúmeros desafios, entretanto, se apresentam ao avanço do processo de integração. O próprio presidente Lula já havia declarado, quando da reunião em Puerto Iguazu, na Argentina, em maio deste ano, que durante muito tempo o Continente sul-americano esteve dependente de sua relação com os Estados Unidos e da União Européia. Agora, dizia ele, ''os atuais dirigentes comprometidos com políticas sociais querem estabelecer uma política de integração independentemente das relações que já existem com outros continentes e com outros países''. Tudo isso , alertava Lula, muitas vezes poderá gerar conflitos. ''Mas teremos clareza'', concluía ele, ''do momento histórico que vive a América do Sul e a América Latina e não faremos nenhum gesto para que não dê certa a integração da América do Sul e para que não dê certo o Mercosul''.


Até a próxima reunião de cúpula da união criada em 1991, Lula se comprometeu a reativar as negociações de um acordo com a União Européia, em discussão desde 1999 com a suspensão da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Outro desafio será a incorporação gradual da Venezuela formalizada na reunião de Córdoba. Segundo o comunicado conjunto aprovado, os países signatários reafirmam a meta de ''uma sólida e completa integração regional, que supere as assimetrias e promova a coesão social, considerando as múltiplas dimensões econômicas, políticas e sociais''. O cumprimento das metas do Milênio é outro tema abordado pelo documento. Para que os objetivos sejam cumpridos até 2015, os presidentes ressaltam a necessidade de aumentar as exportações de seus países para os mercados dos países mais ricos e a criação de mecanismos financeiros inovadores.


O bloco ainda recebeu de forma positiva o interesse da Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria de incrementar a relação com os países da América do Sul. Outros pontos reforçados pelos presidentes foram o combate à pobreza, o apoio à reforma da Organização das Nações Unidas (ONU) e o aumento da segurança da região.



Pela primeira vez esteve presente ao encontro de cúpula do Mercosul o presidente de Cuba, Fidel Castro, que em seu discurso no evento destacou ''uma idéia de Kirchner (o presidente da Argentina) que eu sublinho. Falo de solidariedade. Os países que têm mais recursos, que contribuam com os que têm menos''. Fidel foi convidado pelos países membros do Mercosul para participara da reunião, quando assinou uma série de acordos de complementação econômica com o bloco sul-americano e Cuba.


O resultado positivo desta cúpula de Córdoba fortalece o esforço desenvolvido pelo atual governo brasileiro de afirmação crescente de sua política externa de busca continuada do multilateralismo nas relações internacionais e da construção de um mundo de feição multipolar que se materializa na construção do bloco contra-hegemônico de países sul-americanos do ponto de vista político, diplomático, comercial e de infraestrutura, que acabou por liquidar a proposta imperialista da Alca (Associação de Livre Comércio das Américas).