Na luta pelo segundo turno, direita canoniza Heloísa Helena

Desde o início de julho quando houve a largada oficial da sucessão presidencial, a oposição concentra-se no objetivo de arrastar a disputa para segundo turno. Para esse fim empreende ações múltiplas e nas últimas semanas intensificou uma delas: a operação de abanar as brasas da campanha de Heloísa Helena. 


 


Essa tática da direita de fortalecer até o ponto que lhe interessa posições e candidaturas da pretensa ultra-esquerda é antiga e no cenário atual da contenda o seu uso é de uma obviedade perceptível, até ao olhar infantil.


 


A candidatura à reeleição do presidente Lula se apresenta com chances reais de ganhar no primeiro turno. O candidato da direita neoliberal Geraldo Alckmin, mesmo depois de intensa exposição na mídia, empacou no patamar insuficiente para impedir que Lula venha liquidar a fatura já no primeiro turno. A direita não vacilou um só segundo e sacou de uma arma tão velha quanto eficiente: passou a inflar a candidatura da senadora alagoana. Essa candidatura é tão “radical” quanto útil ao interesse da direita que desesperadamente luta para tentar empurrar a disputa para o segundo turno.


 


Nas últimas semanas, foi escancarado o tratamento “vip” dado pelos meios de comunicação à candidatura de Heloísa Helena. Além da exposição privilegiada, os editores capricharam na escolha das fotos e das imagens e os textos foram de uma benevolência comovedora. Quando foram divulgadas as recentes pesquisas alardeando o chamado fator Heloisa Helena, os analistas políticos apresentaram mil razões explicando a ascensão da candidata nas pesquisas, menos uma das principais: a “operação abano”.


 


O prefeito do Rio de Janeiro, César Maia, do PFL, demonstrando o apreço e o zelo, de ocasião, da direita pelos destinos da candidata do PSol passou a desempenhar pela Internet o papel  de consultor político voluntário. Líderes do PFL e do PSDB em verso e prosa enaltecem os predicados políticos da senadora. Articulistas arriscam escrever madrigais: ” Mulher, valente, amena no trato, uma fera na tribuna, símbolo de resistência da velha esquerda….” E mil louvores.


 


Em outras palavras, o complexo mídia-oposição realizou uma espécie de “beatificação” de Heloisa Helena.  E a senadora, diga-se, esforçar-se para merecer. À imprensa disse que, de fato, é socialista, mas que no caso dela, “aprendeu a ser socialista lendo a Bíblia”.


 


É no âmbito da linha política de sua campanha que se revela o outro motivo de seu crescimento momentâneo.  Sua campanha tem sido “amena no trato” com quase todos os seus concorrentes, já seu “radicalismo” é direcionado unicamente contra Lula cujo governo, segundo ela, é formado “gente mentirosa, farsante ideologicamente e cínica”.


 


Com esse discurso político visceral contra a verdadeira esquerda, com sua campanha direcionada contra Lula — que é o único candidato do campo democrático, popular e patriótico que tem chances reais de derrotar a direita neoliberal — a candidata do PSol está polarizando parcela do conservadorismo dos ricos e o protesto “chique” de setores das camadas médias. Isso está demonstrado na última pesquisa Data Folha que aponta que o melhor desempenho da candidata do PSol se dá nas camadas de maior renda. Outro dado esclarecedor: num eventual segundo turno, os 39% dos que pretendem votar nela migrariam para candidatura de Alckmin.


 


Para se colocar à altura das expectativas do conservadorismo que não admite a reeleição de Lula, Heloísa assume o ranço anti-popular desses setores da elite que se opõem às políticas adotadas pelo governo Lula para socorrer, emergencialmente, os brasileiros que foram lançados à miséria e à fome. Em relação ao Bolsa-Família, por exemplo, ela o tem como um programa que “joga meninas e meninos na prostituição, no narcotráfico e na criminalidade. É uma esmola que perpetua a pobreza”.


 


Em um cenário como este, a candidatura Lula que tanto pelo que dizem as ruas quanto pelo que apontam as pesquisas tem plenas chances de vitória, inclusive já no primeiro turno, precisa apresentar ao povo brasileiro seus compromissos programáticos. A mensagem de que um novo governo Lula irá avançar na realização de um projeto nacional de desenvolvimento — assentado na democracia, na soberania e na integração latino-americana, capaz de elevar a qualidade de vida do povo com geração de empregos e distribuição de renda — é o melhor antídoto quanto à demagogia que venha quer seja da direita quer seja dessa chamada ultra-esquerda.


 


A candidata do PSol, ante sua subida momentânea nas pesquisas, fala em ultrapassar Alckmin e sonha com o segundo turno. Pura ilusão. Se porventura, a senadora mesmo de longe ameaçar o tucano, se verá, num átimo, essa mesma mídia que hoje a canoniza, a demonizará.