PMDB, amplitude e radicalidade

O jantar desta segunda-feira (10) na Granja do Torto, entre o presidente Lula e o PMDB pró-reeleição, teve um sentido simbólico. O grande partido de centro encabeça ou integra articulações locais pró-Lula em 14 Estados; 19 Diretórios Estaduais seguem a mesma linha.

 

São os efeitos das nomeações para a ECT, dirão os cínicos. São as reações aos ministérios de “porteira fechada”. Conforme-se, leitor: há gente que só consegue enxergar a política pelo microscópio das miudezas, atento à árvore, ao galho, à folha, mas incapaz de ver a floresta.E qual é a floresta? É que, nas circunstâncias do Brasil atual, a esquerda ganha e governa desde que logre atrair o centro, construir uma frente e uma coalizão de centro-esquerda.

 

Há quem torça o nariz para essa aliança em nome da contundência transformadora da esquerda. É um raciocínio que não resiste às lições da história. Insurreição Pernambucana contra a invasão holandesa; Guerra da Independência na Bahia; Farrapos; Campanha Abolicionista; Revolução de 30; Aliança Nacional Libertadora de 35; “O Petróleo é Nosso”; Movimento das Reformas de Base; Campanha da Anistia de 79; Campanha “Diretas Já” em 84; “Fora Collor” em 92: todos os grandes movimentos transformadores da trajetória do Brasil – para não recorrer a exemplos de fora – foram simultaneamente radicais e amplos.

 

Lula dá mostras de ter assimilado essa noção. Penitencia-se por ter recusado o apoio de Ulisses Guimarães no segundo turno de 1989, que perdeu por 4 milhões de votos. No jantar do Torto, ofereceu aos aliados do PMDB dois lugares em seu comando de campanha, e nos 27 comandos estaduais. Proclamou que caso reeleito comporá um governo de coalizão.

 

Esse compromisso anunciado deriva da parte de Lula de um longo aprendizado no qual se incluem as lições de derrotas e as dificuldades da experiência recente de governar sem maioria política.

 

No mandato presidencial ora no seu término, um governo de coalizão verdadeiro seja por dificuldades políticas seja pelo predomínio de concepções sectárias e exclusivistas efetivamente não se concretizou. No entanto, a coalizão de centro-esquerda, ampla e politicamente construída em torno de uma plataforma de governo, é condição indispensável e insubstituível para a efetivação da proposta mudancista e do novo modelo antineoliberal que é a razão de ser do projeto de reeleição de Lula.

 

Palmas, portanto, para o jantar do Torto e para o compromisso proclamado. É claro que para esse compromisso se tornar realidade é importante que a proposta de um governo de coalizão se torne hegemônica entre as forças políticas e sociais que sustentam a campanha de reeleição de Lula, inclusive, no partido do candidato.