Cenário pré-eleitoral de 2012 é repleto de complexidades

No Brasil o corte local, a peculiaridade municipal, tende a prevalecer nas disputas eleitorais, sobretudo quando o que está em jogo são as prefeituras e as câmaras de vereadores. Mas há disputas, como a de São Paulo, que, por suas dimensões, tendem a influenciar mais o quadro nacional, inclusive para batalhas futuras como a própria sucessão presidencial.

Na maior cidade do país há um fator novo, incontornável, a polarizar as atenções de todos os partidos: a divisão no bloco dominante paulista, provocada pela derrota nas eleições presidenciais, cujo resultado foi a defecção do prefeito Gilberto Kassab.

No mais recente encontro de petistas para discutir alianças políticas e estratégias eleitorais, o partido se dividiu entre se coligar ou não com o prefeito paulistano.

Kassab foi sensível, ao elogiar a decisão do PT, que teria, segundo ele, "compreendido a importância do PSD no cenário da democracia brasileira".

O prefeito paulistano, Gilberto Kassab, é um político empenhado na boa convivência com adversários e habilidoso no esforço para conquistar aliados. Rompeu com o direitista DEM, aproximou-se da presidente Dilma Rousseff, faz gestos positivos em direção ao PT e demonstrou abertura democrática na relação com os comunistas, em função de interesses administrativos pontuais – a organização da Copa do Mundo em São Paulo – mesmo sabendo tratar-se de óleo e água, do ponto de vista político e ideológico, o seu PSD em construção e o PCdoB.

Kassab tenta transmitir a impressão de que está construindo algo novo “nem de direita, nem de esquerda, nem de centro”, como já repetiu várias vezes. Em outras entrevistas deixa entrever algumas pistas sobre o que fará no futuro de curto e médio prazos.

Durante uma sabatina promovida nesta semana pelo jornal Folha de S. Paulo e pelo portal UOL, o alcaide paulistano falou em tese sobre um eventual apoio à presidente Dilma, mas a julgar pelo que disse sobre o embate imediato, marcado para 2012, sua inclinação pode ir no sentido extremamente oposto.

O prefeito afirmou que se o ex-governador José Serra (PSDB) decidir concorrer à sua sucessão, terá o seu apoio. Como a eleição de 2012 será a primeira indicação da disposição das forças no embate de 2014, as possibilidades de contar com o alinhamento do líder do PSD entre as forças democráticas e populares pode parecer algo ilusório. Kassab adianta que acha que seu padrinho político “não será” candidato a prefeito, por isso, acentua a preferência por uma estratégia eleitoral em que o PSD lance candidato próprio.

Em outro trecho da entrevista, o prefeito resolveu demarcar campos com maior nitidez e, como se diz, “riscou o chão”, fazendo questão de mostrar que PSD e PT estão em campos opostos: “Nós surgimos em São Paulo em oposição ao que fez a administração do PT”, disse o fundador do PSD. Em nome da verdade, é preciso lembrar que a “administração do PT” era de toda a esquerda, sob hegemonia do PT, a mesma esquerda que elegeu e governou com Lula e agora governa com Dilma.

Ao explicitar que está com Serra e lembrar que o PSD surge em oposição “à administração do PT”, Kassab voluntária ou involuntariamente dá razão a Lula. No auge da crise política que afetou o governo Dilma e teve seu desfecho com a demissão do até então “superministro” Antonio Palocci, o ex-presidente, com a sabedoria forjada em anos de luta política e no exercício de dois mandatos de presidente da República, disse que o governo foi “ingênuo” ao acreditar no prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (ex-DEM) e que “Kassab é Serra”. Um truísmo, talvez, uma tautologia, mas no entender do líder político algo necessário para que ninguém se esqueça que política se faz demarcando campos.

Não está no escopo deste editorial antecipar cenários, mas registrar um momento dos debates que resultarão em opções de alianças para os embates de 2012 e 2014.

A evolução da situação política do país torna inevitável a decantação de forças e ninguém pode dizer a priori para onde irá Kassab. Há que ter mente aberta e evitar qualquer precipitação na montagem dos esquemas eleitorais.

É um momento propício para a esquerda forjar uma inteligência coletiva, debater mais, elevar o grau de seu entendimento e unidade, a fim de concertar estratégias eleitorais no pleito municipal que sirvam à acumulação de forças para a transformação progressista do Brasil.
Numa eleição em dois turnos, é possível que nos diferentes campos políticos surjam múltiplas candidaturas na primeira volta, adiando para o turno decisivo a definição dos alinhamentos mais nítidos.

Para os comunistas, que sempre lutam pela unidade e favorecem a constituição de coalizões amplas, o momento também é adequado ao lançamento de pré-candidaturas próprias no maior número possível de cidades, a começar por centros urbanos importantes, como São Paulo, Porto Alegre, Salvador, Fortaleza, entre outros.