Imperialismo e anti-imperialismo em conflito

Os dois fatos mais salientes no plano internacional durante a semana (23 a 28 de maio) – a reunião de cúpula do G8, realizada em Deauville, França, e a Conferência Ministerial do Movimento dos Países Não Alinhados, em Bali, Indonésia – são ilustrativos de um dos principais conflitos no mundo contemporâneo: aquele que opõe, de um lado, os países ricos, as potências imperialistas, e de outro, os países e povos em luta para defender sua soberania e em busca do desenvolvimento econômico e social.

Na reunião de Deauville, sobressaiu o protagonismo do presidente estadunidense Barack Obama, que se vai tornando uma figura folclórica, e do francês, o caricato e histriônico Nicolás Sarkozy, um tipo que, na galeria dos chefes de Estado da França, passará à história como um personagem menor, bem menor que Luís Napoleão, o Pequeno.

Obama e Sarkozy, confrontados com o desgaste de suas imagens e vendo erodir sua base eleitoral, recorreram a jogadas no plano internacional para colher efeitos domésticos. O presidente dos Estados Unidos mandou assassinar Osama Bin Laden e apresentou a notícia, mas não o cadáver, como um troféu de caça. Sarkozy, o Menor, começou a reagir à falência de seu projeto brandindo a bandeira do chauvinismo agressivo, apresentando-se como o campeão da guerra contra a Líbia. Agora esfrega as mãos diante da desgraça do seu rival Dominique Strauss-Khan.

A reunião do G8 serviu para as potências imperialistas buscarem um consenso em torno de temas econômicos e políticos.

Em ambiente de crise, onde objetivamente manifestam-se as contradições interimperialistas, o consenso é cada vez mais difícil, pois a lógica prevalecente é a do salve-se quem puder. O único fator de unidade ali é a ofensiva contra os direitos dos trabalhadores, os interesses dos povos, a independência dos países oprimidos e os atentados contra o direito internacional e a paz.

“Concordamos em seguir na ação para melhorar a sustentabilidade das finanças públicas, fortalecer a recuperação e fomentar o emprego, reduzir riscos assegurar um crescimento sólido e balanceado, incluindo reformas estruturais”, pontuou o documento das grandes potências. Mas na conjuntura econômica global contemporânea, é impossível chegar a algum acordo sobre os temas capitais da crise econômico-financeira, como a busca de uma “nova arquitetura”, a “regulação” e o enfrentamento do complexo problema das moedas, do desenvolvimento desigual e do comércio internacional, na ausência de um dos principais atores da economia global, a China, e mesmo dos demais países chamados emergentes, que se reúnem com os do G8 no grupo recentemente constituído, o G20.

Nesse sentido, a reunião do belo e luxuoso balneário da Normandia, tem muito efeito propagandístico e quase nenhum resultado concreto.

Onde a cúpula do G8 revela seu verdadeiro caráter é nas proclamações e medidas relacionadas com as políticas intervencionistas e belicistas das potências ali representadas.

Os presidentes Barack Obama (Estados Unidos) e Nicolás Sarkozy (França) lançaram duras críticas a Muamar Kadafi e advetiram que levarão a cabo sua saída do poder. As ações criminosas da Otan dão a entender que os agressores não querem apenas derrubar o líder líbio, mas assassiná-lo. A Síria, país que se opõe aos planos neocolonialistas dos Estados Unidos e Israel no Oriente Médio, também entrou na alça de mira do G8, sob ameaças de sanções e, segundo o roteiro já traçado, também de ataque militar.

Além de sinalizar o incremento das ações militares da Otan no Norte da África, as potências reunidas em Deauville decidiram comprar a transição no Egito e na Tunísia, por US$ 20 bilhões. Não se deve esquecer que no último discurso sobre o Oriente Médio, o chefe da Casa Branca deixou claro que os EUA atuarão junto aos governos mas também a indivíduos, organizações, grupos de interesse que se alinhem com as suas posições. Crescerá, assim, a infiltração e a ação de agentes financiados. A soma de US$ 20 bilhões poderá elevar-se a US$ 40 bilhões, segundo os porta-vozes do G8 anunciaram.

Mais a leste, em Bali, Indonésia, reuniram-se os países não alinhados. Pediram a suspensão dos bombardeios na Líbia, defenderam a posição de princípio pela destruição das armas nucleares, clamaram pelo fim do bloqueio a Cuba, denunciaram a situação dos mais de 8 mil presos políticos palestinos em Israel, demandaram a paz no Oriente Médio e apoiaram a luta pela criação do Estado palestino, criticaram os desequilíbrios no mundo e reivindicaram a constituição de uma nova ordem política e econômica internacional, cuja prioridade seja o desenvolvimento econômico-social, a defesa da soberania e autodeterminação e a paz.

Que contraste! Trata-se de uma das mais importantes contradições de nossa época, a que opõe o sistema imperialista aos povos e nações em busca de sua verdadeira independência. Nesse conflito revela-se que o anti-imperialismo é um dos mais importantes fatores revolucionários da presente época.

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