Governo Lula e a distribuição de renda

Para aqueles analistas que, alojados no ninho tucano e suas adjacências, não compreendem como, depois de uma crise política que durou um ano farta de “denúncias” contra o governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua favorito nas pesquisas de opinião, o levantamento divulgado pelo Datafolha, feito nos dias 28 e 29 de junho, é altamente esclarecedor.
Ele mostra que mesmo o desenvolvimento contido, que resultou do hibridismo econômico do governo, foi capaz de melhorar a renda dos brasileiros mais pobres e tirar 6 milhões das classes de renda mais baixas, as chamadas D e E, promovendo-os a um degrau acima, para a chamada classe C.
Foi o resultado de três anos e meio de política social ativa, através do Bolsa Família e de outros programas do governo, como o Pronaf, da agricultura familiar, e também da recuperação da renda e do salário mínimo neste governo.
Em outubro de 2002, no final do governo tucano de Fernando Henrique Cardoso, apenas 20% dos brasileiros tinham renda familiar superior a cinco salários mínimos, fazendo parte das chamadas classes A e B; 32% tinham renda de até três salários mínimos, e o maior segmento, formado por 46% do total (quase a metade) tinham renda familiar de até dois salários mínimos e estavam nas classes D e E. Em três anos o cenário mudou, cresceu o número de pessoas nas classes de renda mais alta e diminuiu o universo das classes de renda mais baixa: em junho de 2006, as classes A e B aumentaram para 22% do total, a classe C passou a ser o maior segmento, com 40% do total, e as classes D e E diminuíram para  38% do total.
O critério de classes adotado em pesquisas desta natureza não define, com rigor científico, o que é classe social (que deve levar em conta a posição na produção, a natureza da ocupação, o nível de renda e escolaridade, entre outros itens), mas é útil para aferir mudanças na apropriação da renda, no consumo e no próprio comportamento eleitoral de uma população.
E, neste sentido, esta pesquisa divulgada pela Folha de S. Paulo no dia 9 de julho traz indicações preciosas. Em primeiro lugar, mostra que, desde 1994 (ano da eleição de Fernando Henrique Cardoso para seu primeiro mandato), um número maior de brasileiros deixou de se queixar de seu poder aquisitivo. Naquele ano, 45% das pessoas (quase a metade) achavam que sua renda era insuficiente; hoje, esse número caiu para 28%, menos de um terço.
É uma situação que se reflete no otimismo crescente: 49% do total acha que a situação vai melhorar e 37% acham que vai ficar como está. Isto é, 86% manifestam uma opinião favorável quanto ao futuro, contra apenas 6% que acham que vai piorar. É a melhor avaliação desde junho de 1998, já no final do primeiro mandato de FHC: naquele ano, 38% achavam que a situação ia melhorar e 40% que ia ficar como está, enquanto 18% pensavam que ia piorar.
O país precisa retomar um ritmo de desenvolvimento mais forte, para consolidar estes ganhos e avançar neste rumo, de melhoria da situação geral dos brasileiros. Esta é a expectativa para o segundo mandato do presidente Lula, quando poderão ocorrer as esperadas alterações na política econômica para acelerar o crescimento, o emprego e melhorar a distribuição de renda, reativando o potencial histórico que o Brasil tem para alcançar patamares melhores de desempenho econômico.
Neste sentido, a pesquisa do Datafolha mostra uma expectativa favorável dos brasileiros em relação a um segundo mandato para Lula, e que se traduz nas intenções de voto registradas na mesma sondagem: 46% disseram que votarão em Lula, contra apenas 29% que preferem o candidato tucano Geraldo Alckmin.