México, Bolívia, América Latina rebelde

Os resultados eleitorais deste domingo na Bolívia e no México prosseguem e impulsionam um movimento de largo fôlego na América Latina. Com eles, o continente, do Rio Grande à Terra do Fogo, volta a proclamar que não aceita viver como antes.

 

 

No México os resultados são controvertidos. O candidato presidencial da direita, Felipe Calderón, canta vitória – de 1 ponto percentual… – sobre o progressista Andrés López Obrador. Este contesta o dado, do PREP (Programa de Resultados Eleitorais Preliminares, baseado numa amostragem), aponta 3 milhões de votos “perdidos” e exige que se conte cédula por cédula. Dadas as tradições eleitorais mexicanas, abre-se uma fase de turbulência, com resultado incerto e espaço tanto para manobras conservadoras como para o protagonismo da ação de massas.

 

 

Na Bolívia, onde as turbulências ocuparam os últimos quatro anos, o resultado é mais nítido. O MAS (Movimento Ao Socialismo) de Evo Morales sai com perto de 60% dos votos para a Assembléia Constituinte e 56% de “Não” no referendo onde as elites do Oriente pretendiam obter sua “autonomia”, depois de derrotadas na eleição presidencial de dezembro passado.

 

 

Em ambos os casos, a mídia gorda do Brasil e do mundo desenvolve um minucioso e implacável trabalho de desinformação. Dá como resultados finais os contestados dados preliminares no México. E na Bolívia salienta que o MAS terá maioria absoluta na Constituinte mas não uma maioria de dois terços… Haja desfaçatez.

 

 

Mas, como dizia um grande norte-americano, não se pode ludibriar todas as pessoas durante o tempo inteiro. As urnas mexicanas e bolivianas de domingo expressam um movimento profundo e sustentado, embora desigual e com frequência contraditório: o movimento deste continente que muitos chamam de rebelde, em busca de uma saída para o colapso do modelo neoliberal.

 

 

A América Latina busca de há muito sua libertação nacional e social. Perseguiu-a nas Guerras da Independência de dois séculos atrás. Frustrada a “Pátria Grande” de Simón Bolívar, voltou à carga nos movimentos nacionalistas da primeira metade do século passado. Quando estes mostraram seus limites, lançou-se às guerrilhas, com Che Guevara e tantos outros. A direita retrucou com o ciclo das ditaduras militares e a seguir com o ciclo das falsas democracias neoliberais. Mas desde 1998, com a primeira vitória de Hugo Chávez na Venezuela, são outros os ventos que sopram.

 

 

A maré dos povos assume predominantemente a forma eleitoral – com Chávez, Lula, Kirchner, Vásquez, Evo, Obrador e outros. Mas não se limita a ela, como mostram o Equador de 2000, a Argentina de 2001, o contra-golpe venezuelano de 2002, a Bolívia de 2003.

 

 

No seu conteúdo básico, é antineoliberal e, por que não dizê-lo, antiimperialista. É também integracionista, atualizando o sonho bolivariano, em busca de um espaço partilhado dos latino-americanos em um mundo que não se resigna à “nova ordem” ditada por Washington