Wisconsin: luta de classes nos EUA

O braço de ferro entre a direita republicana e os sindicatos de funcionários públicos em Madison, capital do estado de Wisconsin (EUA), indica a disposição dos trabalhadores norte-americanos de sair às ruas em defesa de seus direitos e contra os privilégios da oligarquia financeira que domina o país.

Naquele estado o novo governador, Scott Walker, eleito em novembro com o apoio do movimento conservador Tea Party e dos bilionários direitistas irmãos Koch (magnatas do petróleo e financiadores do Tea Party), e empossado em janeiro, iniciou seu mandato dando uma demonstração dos objetivos que pretende cumprir.

Primeiro, beneficiou os empresários com cortes de impostos no valor de US$ 117 milhões; depois, alegando a necessidade de reduzir os gastos do governo para equilibrar o orçamento, mandou para a Assembleia estadual um projeto de lei que praticamente elimina os sindicatos e os direitos trabalhistas dos funcionários públicos, com o objetivo declarado de economizar US$ 150 milhões por ano. Mas, principalmente, com o objetivo de quebrar a espinha dorsal do movimento sindical.

Nos EUA, a legislação trabalhista referente ao setor privado deve ser definida a nível federal mas aquela que diz respeito aos funcionários públicos tem âmbito estadual e as decisões a respeito dela cabem aos parlamentos estaduais e aos governadores.

O projeto de lei do governador Walker retira dos sindicatos de funcionários públicos o direito de negociar em nome dos trabalhadores, aumenta o valor das contribuições para a previdência e a assistência médica, enfraquece as centrais sindicais ao exigir que elas realizem, todo ano, plebiscitos entre os trabalhadores para reafirmar sua representatividade, e proíbe o desconto em folha das contribuições sindicais, medida que ameaça quebrar as entidades que dependem dessa forma de pagamento para sobreviver.

A aprovação sob suspeita de fraude e manipulação (25 deputados do Partido Democrata não conseguiram votar devido a uma manobra do presidente da Assembleia do Wisconsin, votos que seriam suficientes para comprometer a vitória do governador) deste projeto de lei antissindical no dia 25 (sexta-feira) – que, agora, vai para o Senado estadual – foi o estopim para o início de uma onda de protestos em todos os estados do país. Há iniciativas conservadoras semelhantes em Ohio, Indiana, Pensilvânia e Tennessee e, contra elas, houve manifestações no sábado (26) de Nova York a Los Angeles, num dos maiores protestos sindicais nos EUA nas últimas décadas, envolvendo mais de 30 mil pessoas – além das quase 100 mil que se mantêm mobilizadas em Wisconsin desde o dia 14 de fevereiro, quando começou a tramitação deste atentado contra os direitos sociais. "Um ataque aos trabalhadores de Wisconsin é um ataque aos trabalhadores de todo o país", disse uma manifestante em Washington. E o cartaz que ela segurava dizia: "A América não pode sustentar bilionários".

O bilionário Warren Buffett avalia que os EUA vivem hoje um processo intenso de luta de classes, que – diz – está sendo vencida pelos ricos. O estopim de Wisconsin pode, nesta circunstância, representar um ponto de viragem. Os trabalhadores daquele estado do Meio-Oeste estão sendo observados não só por seus colegas dos EUA mas também dos demais países.