FHC morde a isca ao se comparar com Lula

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso mordeu a isca lançada por Lula. Na Convenção Estadual do PSDB-São Paulo neste domingo (25), pôs-se a comparar a sua gestão com a atual.

 

 

"Eu quero a comparação do meu governo com o governo atual. Eu quero, e vou dizer por quê. Teve coisas que eles fizeram mais do que nós: muita corrupção, os escândalos, aí ganharam. Também gastaram muito. É muita publicidade, é muita propaganda, é muita palavra para encobrir o nada. Aí, ganharam", afirmou. Fez comparações também sobre bolsa-família, energia, câmbio. Foi a voz mais áspera, num encontro onde o tucanato se precavia para não passar uma imagem agressiva.

 

 

Os cabos eleitorais e marqueteiros da candidatura Geraldo Alckmin parecem ter dificuldades para enquadrar FHC. Ele é assumidamente presunçoso (de uma “vaidade intelectual”, explica). A diretiva, no comando da campanha PSDB-PFL, é ocultá-lo e pedir a Deus que o povo o esqueça. Mas o velho ex-governante não se conforma: é só ver um palanque, um microfone, sai falando. E no domingo enveredou pelas comparações, justo aquilo que Lula tanto pede para ser feito.

 

 

Ora, o eleitor brasileiro, ao contrário do que proclamou Pelé tempos atrás, sabe votar. Comporta-se nas urnas de modo talvez pragmático, mas essencialmente racional e coerente. Vota na busca de melhorar de vida.

 

 

Eis porque, mesmo no ápice da crise, quando só se falava em “mensalão” e Lula parecia fadado a sangrar até a derrota inevitável, pelo menos um quesito das pesquisas sempre o favoreceu: a comparação com o governo passado. E a diferença era tanto maior quanto mais o entrevistado se aproximava da base da pirâmide social, secularmente injustiçada.

 

 

O eleitor compara. Compara o emprego, o salário, o quanto este permite comprar de feijão, de arroz ou cimento. Contabiliza coisas muito concretas, como a possibilidade de ter luz elétrica em casa, ou tratar dos dentes, ou entrar numa faculdade.

 

 

Lula se inspirou aí quando lançou seu desafio-isca ao bloco da oposição direitista, em favor da comparação. As comparações o favorecem.

 

 

Há nessa lógica comparativa um elemento de conservação: compara-se – e prefere-se – a realidade do passado à do presente, enquanto não há como se ter acesso à do futuro. Passa a segundo plano a mensagem da mudança, da construção de um novo modelo de desenvolvimento nacional, da esperança, que tanto ajudou na virada político-eleitoral de 2002.

 

 

O bloco oposicionista não tem como hastear a bandeira da esperança, comprometido que está com a pesada herança do passado. Ela está disponível para os que desejam fazer, de um segundo governo Lula, uma fase de expurgo do entulho neoliberal que o primeiro mandato não pôde ou não quis superar.