Eleições polarizadas, com caráter plebiscitário

Ultrapassado o próximo dia 30, quando o PCdoB e do PSB já terão realizado suas convenções nacionais, estará definido o quadro eleitoral para outubro. Entretanto, já se pode dizer que o processo está irreversivelmente polarizado, especialmente quando se constata que ao contrário de 2002, a chamada terceira via não se consolidou. Nas eleições presidenciais passadas, os candidatos Ciro Gomes e Anthony Garotinho, juntos, perfizeram quase 30 % dos votos válidos. Hoje, todas as previsões – por mais otimistas que sejam – não dão nem a metade deste índice para os candidatos Heloísa Helena e Cristovam Buarque. Ou seja, as duas principais candidaturas, Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alkmin, galvanizam as atenções e as intenções de voto da maioria do eleitorado brasileiro.

 

As principais mensagens políticas em choque são protagonizadas por representantes de campos opostos que significam ou a continuidade no rumo das mudanças ou o retrocesso aos ditames neoliberais. Em torno de Lula estão o PT, o PCdoB, o PSB, o PRB do Vice José de Alencar, o PTB e setores importantes do PMDB em vários Estados, além dos movimentos organizados de trabalhadores e da juventude. Reunidos na candidatura Alkmin estão o PSDB, o PFL e o PPS. Cristovam Buarque concorre pelo PDT e Heloísa Helena pelo PSOL com o apoio do PSTU e do PCB.

 

 Em função dos programas de transferência de renda patrocinados pelo governo Lula, os aumentos reais do salário mínimo, a recuperação do emprego formal, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) constatou, em pesquisa divulgada na semana passada, a continuidade da tendência de queda na concentração de renda. A desigualdade caiu mais quando se compara o ganho dos domicílios, como conseqüência direta dos programas de transferência de renda no orçamento dos brasileiros. Na convenção Nacional do PT, realizada no final de semana, o presidente Lula disse que pretende um segundo mandato para fazer mais pelos pobres e buscar o superávit social. Com emoção, Lula declarou “ o que temos na verdade é que firmar, cada vez mais, a convicção de que, se alguns representantes de setores elitistas do país ou alguns saudosistas do regime militar nos odeiam, posso dizer a vocês que o povo pobre deste país precisa de nós, e nós vamos lhes atender mais uma vez!”.

 

Trata-se agora dos eleitores escolherem o caminho a seguir. Segundo o candidato à reeleição, “as vozes do passado estão de volta. E como não têm uma boa obra no passado e nem propostas para o futuro, fazem da agressão e da calúnia as suas principais armas. Nos lares, nas praças, nas fábricas e nos campos, o povo está dizendo que não os quer de volta. Mas eles nunca escutaram a voz do povo, e, obviamente, não vão querer escutá-la agora!”.

Nas hostes da oposição conservadora a linha de campanha —  ao que tudo indica — ainda não está afinada. Enquanto Alkmin fazia um discurso considerado “light” pelos pefelistas, o chefão do PSDB, Fernando Henrique Cardoso, resolveu desafinar e partiu para o mesmo discurso desqualificador que virou refrão dos líderes do PSDB, chamando Lula de incompetente. È chegada a hora dos setores avançados que sustentam o atual governo tornar o mais nítido possível o programa mudancista para o segundo mandato, corrigindo os equívocos cometidos e se comprometendo com um novo ciclo de desenvolvimento duradouro com distribuição de renda e valorização do trabalho.