Nos EUA, os ricos ficam cada vez mais ricos, e os pobres mais pobres

O aprofundamento da opressão sobre os povos dos países pobres é um dos efeitos mais visíveis da globalização neoliberal, imposta ao mundo nas últimas três décadas a partir dos centros financeiros mundiais, principalmente Washington e Nova York.
 
Outro aspecto menos visível, embora igualmente injusto, opressivo e dramático é o tema de capa da última edição de The Economist, a tradicional revista conservadora britânica e principal porta-voz da alta finança internacional e seu programa neoliberal. Sob o título de “Desigualdade e o sonho americano”, ela relata o agravamento da distribuição de renda e o aumento da distância entre ricos e pobres nos Estados Unidos, que joga sobre os ombros dos trabalhadores norte-americanos a carga pesada da ameaça de desemprego, precarização do trabalho, redução de direitos sociais e da proteção social (como saúde e previdência), salários menores. Uma agenda semelhante àquela que é imposta aos demais trabalhadores pelo mundo afora.
 
A produtividade do trabalho disparou desde 1995 e hoje cada trabalhador norte-americano produz 30% mais do que há uma década. Esses ganhos, contudo, traduziram-se num rápido crescimento da renda dos mais ricos, enquanto os trabalhadores mal conseguiram repor a inflação do período. O salário de um trabalhador americano típico teve crescimento real menor do que 1% ao ano desde 2000, enquanto nos cinco anos anteriores esse aumento foi de 6%.
 
A situação é tão grave que, segundo um estudioso citado pela revista, a longo prazo os EUA ficarão numa situação semelhante à do Brasil, um país “notável pela concentração da renda e da riqueza”. Essa avaliação é apoiada em dados da OCDE que mostram os EUA como o mais desigual entre os países ricos: lá, o índice de Gini para medir a concentração da renda alcançava a marca de 0,4 em 2000; no Brasil aproximava-se de 0,6, enquanto na Inglaterra era pouco maior do que 0,3, e na França e Alemanha, um pouco menor do que 0,3.
 
O aumento da distância entre ricos e pobres pode ser medido, diz a reportagem, pela variação dos salários, renda familiar ou estatísticas de consumo. Mas todas as medidas mostram que, no último quarto de século, os que mais ricos melhoraram em relação aos que tem renda média e estes, por sua vez, foram mais felizes do que os que estão na base.
 
A verdade, diz a revista, é que estes vinte e cinco anos foram cenário de uma forte concentração de renda. A parte da renda abocanhada pela parte da população formada pelos 1% mais ricos dobrou entre 1980 e 2004, passando de 8% do total para 16%; se forem levados em conta os ganhos da parcela formada pelos 0,1% mais ricos, o crescimento foi maior e triplicou, passando de 2% do total da renda em 1980 para 7% hoje. Já os muito ricos, formados por apenas 0,01% do total da população, tiveram sua parcela na renda multiplicada por quatro, passando de 0,65% em 1980 ano para 2,87% hoje.
 
Um exemplo dessa desproporção gigantesca – deixando-se de lado os ganhos de ultramilionários como Bill Gates, cuja fortuna é calculada em 50 bilhões de dólares – é a renda média dos 22.400 empregados de uma agência financeira como a Goldman Sachs. Entre salários e benefícios, eles recebem por ano cerca de 500 mil dólares!
 
O credo neoliberal prega o estado mínimo, deixando livre a ação do capital, sem leis para regulamentar salários e preços, cortando benefícios sociais, como assistência médica, educação e previdência social. A liberdade de mercado –  este sinônimo contemporâneo para a expressão capitalismo – é a suposta lei natural que os grandes financistas e seus acólitos defendem para regular as relações econômicas, políticas e sociais. Foi a partir da pátria desse dogma, os EUA – e da Inglaterra de Margareth Thatcher – que ele se difundiu pelo mundo desde a década de 1970.
 
Mas os EUA também são – como mostra a reportagem de The Economist –  uma vitrine dos malefícios provocados pela globalização neoliberal e pelo estado mínimo que, abandonando a proteção dos trabalhadores e dos mais pobres, deixa livre a ganância e a sanha do capital, que multiplica seus lucros explorando os trabalhadores de todos os países, inclusive os trabalhadores dos países ricos.