Polarização presidencial, fato consumado e fato novo

As convenções nacionais dos partidos neste fim de junho não produziram nem
prometem surpresas. A cem dias do 1º de outubro, a disputa presidencial será
mesmo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-governador Geraldo
Alckmin. A julgar pelas últimas pesquisas, a soma das intenções de voto dos
outros cinco presidenciáveis não alcança dois dígitos.

A polarização Lula-Alckmin não tem precedentes em uma eleição presidencial
desde março de 1930 ­ quando Júlio Prestes venceu Getúlio Vargas (Em 1998 o
eleitorado também se concentrou em dois blocos, Fernando Henrique Cardoso e
Lula, mas não tão fortemente como se prenuncia agora).

Este cenário é em parte resultado da norma da verticalização, imposta e
mantida pelo Judiciário, apesar da emenda constitucional que a revogou. Mas
não se deve apenas a ela, pois a verticalização vigorou também nas
presidenciais de 2002, sem produzir o mesmo efeito.

Lula aparece como o beneficiário da cena polarizada. Sempre conforme as
pesquisas, a reeleição se daria ainda no primeiro turno e por uma
confortável maioria. Os analistas e protagonistas da cena política, na
oposição e na base do governo, já se voltam para 2010. Quanto a 2006, seria
um fato consumado.

É sempre bom lembrar, em casos assim, a máxima de um deputado mineiro dos
tempos da ditadura: em política, não há nada mais irresistível que o fato
consumado… Com exceção do fato novo.

Se as convenções e as candidaturas não surpreendem, isto não garante que os
próximos cem dias não trarão novidades. Mais ainda quando se leva em conta o
conteúdo inédito ­ da polarização concreta: o lado de Alckmin, mesmo
em desvantagem e em dificuldades, concentra o grosso das elites sociais e
políticas, os pesos-pesados do poder econômico e a quase totalidade da mídia
grande.

Este conteúdo aconselha uma linha de salto-alto-zero para o pólo de Lula. A
despeito de todas as pesquisas quantitativas e qualitativas, a eleição
presidencial ainda é uma luta desigual, em que as desigualdades favorecem o
lado de lá.