O programa que Serra esconde porque não pode apresentar

A mídia faz seu costumeiro carnaval sobre o programa de Dilma Rousseff e da frente avançada, nacionalista e patriótica que apoia sua candidatura. Mas o problema mesmo está do outro lado, com o oposicionista José Serra. Ele repetiu, no registro de seu programa no TSE a mesma síndrome de improvisação vista na escolha do vice de sua chapa: como não tinha um programa a apresentar, registrou em seu lugar os discursos que pronunciou no lançamento de sua pré-candidatura (dia 10/4) e na oficialização de seu nome pelo PSDB (dia 12/6).

Naqueles discursos o tucano falou em ter "prioridades claras" e fez promessas genéricas de acabar com a miséria absoluta e criar vagas em escolas técnicas. Muita conversa sobre "eficiência", gerenciamento, ética, preparo para governar, etc. Mas propostas efetivas, zero.

Não é por incompetência que os tucanos deixaram de registrar um programa de governo de verdade, mas por conveniência. O registro de alguns discursos genéricos no lugar de um programa definido revela um segredo de Polichinelo: José Serra não pode expor publicamente o verdadeiro programa que pretende aplicar na remota e improvável hipótese de que seja eleito presidente da República.

É um programa que ele precisa esconder (e por isso não o apresentou ao TSE) pelo mesmo motivo que levou ao afastamento do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso das solenidades públicas envolvendo o principal candidato da direita. O mesmo programa que agora José Serra escamoteia foi aplicado durante o longo período de FHC à frente do governo, lançando a economia na estagnação; colocando o país de joelhos perante as potências imperialistas; jogando os trabalhadores no desemprego e os brasileiros na pobreza. E que Serra pretende voltar a aplicar, com os mesmos efeitos nefastos para o país.

No discurso de abril o tucano José Serra falou em “coerência”, palavra que teve o significado claro de indicar, para os setores retrógrados que o apoiam, a intenção de retomar o mesmo projeto neoliberal de FHC: “estado mínimo” e redução dos gastos do governo, com privatizações, garantia aos interesses do grande capital. Defendeu a privatização do pré-sal, acusou o programa Bolsa Família de “demagógico” (agora, fala em incluir colocar mais 15 milhões de famílias. Há sinceridade nisso?) e pregou a volta da política externa subordinada aos interesses dos EUA e dos países ricos, abandonando os esforços para fortalecer o Mercosul (que Serra já qualificou como “uma farsa”) e a integração da América do Sul. Em outro discurso reforçou este último ponto acusando o presidente boliviano Evo Morales de fazer “corpo mole” com o narcotráfico.

A dificuldade que José Serra encontra para revelar o verdadeiro, e oculto, programa de sua candidatura explica também a razão pela qual tucanos e neoliberais insistem na comparação das pessoas de Dilma e de José Serra, evitando a avaliação dos governos de FHC e de Lula e dos diferentes programas de governo que eles aplicaram e representam. Eles são opostos e a comparação é desfavorável para a direita neoliberal e tucana. O deles foi aplicado no passado desafortunado por FHC, e condenado pelos eleitores em 2002, 2006 e que será rejeitado na eleição deste ano. O outro, que tirou o Brasil da estagnação, aumentou o emprego e melhorou a renda do trabalhador, aplicado por Lula.