A taxa de juros e a orgia financeira

A recente turbulência no sistema financeiro mundial, decorrente dos graves desequilíbrios da economia dos EUA, foi a justificativa para a retraída decisão da última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central. O Copom desacelerou o ritmo da queda dos juros, cortando apenas meio ponto percentual na taxa básica, a Selic, que agora é de 15,25% ao ano. Este foi o oitavo mês consecutivo de redução. Os últimos três cortes foram de 0,75%. Embora mais tímida, a queda recente dá algum fôlego à economia, ao baratear o crédito, incentivar o consumo e impulsionar produção – o que gera mais emprego e renda.
 
A reação à decisão do Copom não causou surpresa: a oligarquia financeira comemorou a “cautela”, afinal ela enriquece exatamente com a especulação; já o setor produtivo e as entidades dos trabalhadores chiaram. A CUT criticou a redução "irrisória" e cobrou urgência em “cortes mais expressivos". A nota oficial assinada pelo presidente da central, João Felício, argumentou que "a estratosférica taxa de juros de 15,25% ao ano representa, na prática, uma política que atenta contra o pleno desenvolvimento do mercado interno, que necessita de estímulo para crescer, gerar emprego e renda".

Apesar desta “cautela” reforçar a tese de que a economia brasileira ainda padece de certa vulnerabilidade, o presidente Lula poderá anunciar, a partir da próxima reunião do Copom, em 19 de julho, uma nova vitória do seu governo: a menor taxa de juros da história recente, inferior a 15% ao ano. Será um fato inédito desde a criação do Copom, há dez anos, mais um trunfo eleitoral do governo Lula, para o desespero da oposição liberal-conservadora. O anúncio, no mesmo dia, de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4% no primeiro trimestre também caiu como bomba no comando de Geraldo Alckmin.
 
Tais fatos, porém, não devem gerar euforia. A instabilidade na economia mundial permanece e o Brasil, apesar de hoje estar menos vulnerável, pode ser contagiado. Uma gripe nos EUA causa tuberculose nos países dependentes de capital volátil. O reinado de FHC desregulou totalmente o sistema financeiro, tornando o país um paraíso da especulação. E o governo Lula não enfrentou este problema, adotando inclusive algumas medidas que desregulamentaram ainda mais o setor. Isto é que explica a taxa recorde de juro e o elevado superávit primário, como mecanismos de atração do capital especulativo. Esta orgia financeira é a verdadeira razão do ainda tímido desenvolvimento da economia nacional.