Uma benévola “obsessão”

No calendário eleitoral, junho é o mês das definições. E nesse âmbito o centro das atenções é o destino PMDB. As candidaturas Lula e Alckmin que formam os dois pólos em confronto— centro-esquerda e direita-neoliberal, respectivamente— disputam-no a ferro e fogo.

O PMDB é a maior legenda de centro do espectro político-partidário. Os prognósticos eleitorais indicam que pode eleger mais de uma dúzia de governadores. Estará entre as três maiores bancadas do Senado e da Câmara dos Deputados. Tem um dos maiores tempos no gratuito de rádio e TV. Sem ele, qualquer que seja o vencedor não governa com maioria sólida no Congresso Nacional. Eis os predicados da “noiva” em disputa.

Da coordenação que articula a reeleição de Lula são emitidas mensagens de que até o último minuto serão feitos esforços para que o PMDB indique o candidato à vice-presidente da chapa de Lula, arrastando a maioria da legenda. Se a coligação e a vice não forem possíveis que a campanha de Lula fique com apoio político da maioria.
 

            
 Alguns analistas julgam que este tipo de tratamento ao PMDB, é um empenho exagerado. Algo próximo de uma “obsessão”. De fato, as “obsessões” turvam a capacidade de análise e comprometem até mesmo o senso da realidade. Mas, na questão em tela não se trata disso. É correto que se aplique todo  empenho político. A causa merece.

O PMDB, mesmo com sua heterogeneidade, joga papel decisivo no resultado do confronto entre a direita e a esquerda. A força do bloco neoliberal-conservador capitaneado pelo PSDB-PFL para ser superada ou neutralizada requer uma frente ampla, liderada pela esquerda. O PMDB é fiel da balança da correlação entre as forças desses dois campos.

A campanha de Lula em 2002 e o seu primeiro mandato demonstraram que tanto a vitória quanto a governabilidade exigem o respaldo de um leque amplo de forças políticas liderado pela esquerda. Consciente disso, o presidente Lula emite sinais no sentido de que é imprescindível o PMDB na sua campanha e num  eventual, segundo governo. Para tal, a aliança precisa ser “costurada” nos Estados, com a legenda de Ulysses Guimarães recebendo apoio da esquerda onde tenha candidatos a governador com chances reais de vitória. Resguardado é claro exceções.

O PT via um processo longo e difícil no qual foi preciso o impacto de algumas derrotas, progressivamente, vai compreendo a necessidade das alianças. Nesse sentido, a responsabilidade da direção nacional do PT neste momento se agiganta a medida que a legenda petista é a mais forte do núcleo de esquerda (PT, PSB, PCdoB). No plano da repactuação das alianças ou se encara e se remove os obstáculos necessários ao engajamento do PMDB ou, no fundo, a compreensão sobre elas ainda está longe de ser assimilada.